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Trying to be an artist, but I'm better at being a thug. Tentando ser artista, mas o destino é ser vândalo.
domingo, 11 de maio de 2025
Laranja, Gelo e Desodorante. livro completo.
LARANJA, GELO e DESODORANTE.
Ironia da Heroína.
Capítulo I. A ironia do Engasgo.
Era uma manhã chuvosa, eu estava me exercitando no fundo do quintal da minha casa, pensando nos meu problemas e de como iria resolve-los, pensava comigo: para tudo na vida existe uma solução, só não existe solução para a morte, um vento frio e forte veio do corredor da casa e refrescou o meu suor que escorria pelo meu rosto, o telefone tocou no mesmo momento que o vento soprou, alguns passarinhos que estavam empoleirados na antena do vizinho voaram, pensei comigo quando o telefone fixo toca, ou é trote ou alguém querendo te vender alguma coisa, plano funerário ou mudar de plano de operadora de tv a cabo ou telefonia, oferecendo um novo pacote de dados, que dá na mesma, ou aqueles golpes de uma pessoa chorando dizendo: mãe ou pai dependendo de quem atender, mãe, pai me pegaram e eles estão querendo dinheiro para me liberar, caso o pai ou a mãe falar o nome do filho ou da filha, o golpe está feito, uma pessoa do outro lado da linha assume o telefone dizendo o nome do filho ou da filha, com uma voz ameaçadora, pedindo que se pague para liberar a pessoa, caso contrário eles dizem que vão matar a pessoa, de 100 % desses golpes 99 % não dão certo, porque já são manjados, mas quando eles pegam uma idosa ou um idoso desinformado, acabam tendo êxito, deixando a pessoa preocupada e acreditando na história e assim extorquindo o idoso, tirando tudo isso, o que resta é a má notícia, quem ainda usa telefone fixo hoje em dia e porque ainda tenho telefone fixo, tenho celular e hoje em dia ninguém mais liga para ninguém, agora é tudo por Whatsapp, o telefone tocou por algumas vezes, demoramos para atender, eu estava no fundo do quintal, a minha esposa no quarto no andar de cima e a minha filha no quarto dela nos fundos também no andar de cima, e o telefone fica na sala no andar debaixo, ninguém queria atender achando que se tratava de trote, ou como sempre, alguém vendendo algo como já disse, a minha esposa não aguentou a persistência do telefone tocando e desceu para atender, xingando, dizendo que éramos folgados, etc., etc., ela pega o telefone vermelho, tira o fone do gancho, o fio enrolado vai esticando até chegar na orelha.
- Alô! E em seguida ela exclama com um sonoro.
- Oi! logo deduzi que não era golpe ou alguém vendendo alguma e só podia ser uma coisa
- Má notícia!
Então a minha esposa me chamou, eu queria dizer chamar, mas seria muito normal, no caso dela a vizinhança inteira escutou ela me gritando “chamando” eu já estava indo em direção dela quando ela gritou novamente.
- Calma, já estou aqui.
- É a sua tinha Dolores.
Eu peguei o telefone da mão da minha esposa que me olhava com aqueles dois olhões azuis, curiosa para saber o que tinha acontecido.
- Oi, tia!
- Oi sobrinho!
- Oi, tudo bem, aconteceu alguma coisa?
- O Nenê faleceu.
- Que Nenê?
- Não é o meu não, é o da Tia Zuzu.
- Eu não sei direito, falei com a irmã dele, ela me ligou e pediu para avisar toda a família aqui em São Paulo, como ela está lá no Nordeste, é o mínimo que poderia fazer para ajudar.
- Mas como aconteceu, como foi isso?
- Como falei, eu não sei direito, ela ligou muito rápido, falou que havia acabado de acontecer, não falou coisa com coisa, só dizia “eles estão lá dentro eu estou aqui fora, demorou muito, a vizinha estava comigo” eu não entendi nada, acho melhor você falar com ela, não sei, mas acho que ela estava no Hospital.
- Ok, tia, vou ligar para ela ou vou mandar uma mensagem pelo whatsapp ou tentar ligar para ela, não sei se ela vai estar em condição de falar, porque pelo que a senhora disse acabou de acontecer.
- Isso, faz isso, e depois me passa mais detalhes, porque como ela está lá longe é ruim e coitada, perdeu a mãe acho que não faz nem seis meses e agora perdeu o irmão ela deve de estar arrasada. A minha esposa sinalizava, gesticulava para saber detalhes do que havia acontecido, só faltava entrar no telefone para saber.
- OK, vou ligar, mas e a senhora, tirando isso agora, de resto, está tudo bem?
- Sim, estamos todos bem, eu levo e busco a minha netinha na escola todo dia, é a minha vida e o meu tesouro, a mãe dela só trabalha, coitada trabalha dia e noite, os outros meus filhos me ligam ou dão uma passada rápida aqui, e você, está melhor, também vai fazer um ano que o seu pai faleceu, já está melhor?
- Sim estou melhor, mas não é fácil perder alguém assim, por mais que estejamos preparados para o pior, achando que a morte, no caso de uma pessoa doente e debilitada seja a solução, a saudade que fica dói e tudo lembra a pessoa, eu não sei se te falei, mas eu joguei as cinzas do meu pai lá no Estádio do Corinthians, foi muito emocionante, eu estava jogando as cinzas, veio um vento e levantou as cinzas como um moinho de vento e veio tudo ao meu encontro , ficando sobre a minha roupa e pele, e nesse momento os altos falantes do Estádio anunciou bem alto, “ Vai Corinthians!” acho que alguém me viu depositando a urna com as cinzas na árvore nos fundos do Estádio e me ajudou com essa homenagem, foi emocionante, nesse momento parece que eu o senti feliz e falei assim, é você gostava mais do Corinthians do que do seu próprio filho, e senti uma sensação de felicidade, foi muito legal.
- Para ele, era Deus no céu e o Corinthians na terra, mas liga para a sua prima e me avisa.
- Está bem, sim vou ligar para ela.
- Isso liga e manda um beijo para as meninas aí, beijo para você também.
Desliguei o telefone porque a minha esposa já estava tendo cãibra de tanto que sinalizava querendo saber detalhes, fazendo gesto para desligar rápido, quando desliguei o telefone as duas juntas perguntaram.
- Morreu como?
- Ainda não sei, vou ter que ligar para ela, para saber mais detalhes.
- Ok, liga, vai ligar? Ela estava mais curiosa do que eu para saber o que tinha acontecido.
- Ok, deixa eu tentar pelo whatsapp para saber se ela pode falar, porque o celular como ligação perdeu sentido, mas tentei assim mesmo, fiz uma ligação convencional sem usar o aplicativo, o telefone tocou, tocou e tocou e nada da minha prima atender, tentei várias vezes e nada, então mandei mensagem, depois de tentar da forma tradicional de fazer uma ligação interurbana e apesar de não lembrar direito como fazia isso, porque a ligação não completava e ainda informava que o número não existia ou estava errado, nessa hora a minha esposa já estava quase tendo um treco, sem paciência, não que isso fosse o forte dela, paciência era uma palavra que não existia no vocabulário dela, ela tomou o telefone da minha mão.
- Deixa eu tentar, você é muito lerdo, está fazendo errado, não sabe nem usar um telefone, desaprendeu, só sabe usar mensagem, acho que nem sabe o número do seu próprio telefone, deixa eu tentar com o meu telefone, pegou o número da minha prima no meu telefone e discou e recebeu a mesma mensagem, “esse número de telefone não existe ou está errado” como está errado, eu digitei certo, essa máquina que está errada que porcaria, não sabe o que está dizendo.
- Tomou sabichona? Agora você vai querer brigar com a Inteligência artificial? Falei rindo e tirando sarro, ela arregou os olhões azuis e fechou a cara e fez uma cara de poucos amigos.
Tentei novamente pelo Whatsapp e nada, então decidi mandar uma mensagem de Voice, mandei a primeira mensagem, quando eu estava fazendo a segunda mensagem para falar o que tinha acontecido, apareceu o símbolo de um telefone me ligando no meio da tela, era a minha prima me ligando de volta.
- Oi prima, o que aconteceu?
- O meu irmão acabou de falecer, acho que a tia te ligou também, e agora está todo mundo me ligando, por isso não atendi.
- Sim, ela ligou, mas o que foi que aconteceu, a tia falou que ele estava no Hospital.
- Não ele não estava no Hospital, a tia entendeu tudo errado, coitada, eu estava confusa também, acho que ela perguntou isso e eu falei, ah não sei, ainda estou confusa, ele estava no quarto assistindo os gols do Corinthians no Globo Esporte e eu estava dando comida para ele e de repente ele se engasgou.
- No hospital? perguntei novamente, porque não entendi se era no quarto do hospital.
- Não esquece o hospital, foi em casa mesmo, ele estava vendo televisão enquanto eu dava comida para ele, e queria comer e não queria perder a reprise dos gols do Corinthians, mas também ficava pedindo comida que já estava passando a hora dele comer, que àquela hora a minha mãe já tinha dado comida para ele e ficava gritando para dar comida e sair da frente da televisão.
- Ah tá! Achei que você estava dando comida para ele no hospital, a tia que falou que estava no hospital, pensei que havia acontecido alguma coisa e ele havia sido socorrido e levado para o hospital.
- Não esquece o Hospital, foi aqui em casa mesmo, foi agora a pouco, na hora do almoço, uma hora atrás, a vizinha viu o meu desespero e sai correndo pedindo ajuda, eu estava dando comida para ele e nessa luta de dar comida e sair da frente da televisão ele se engasgou, começou a ficar roxo, eu sai gritando pedindo ajuda, ligaram para o resgate, mas eles demoraram para chegar, demorou mais de 24 minutos para chegarem, quando chegaram, tentaram de tudo lá dentro, eu não quis mais entrar e fiquei aqui fora esperando, mas infelizmente ele não resistiu e faleceu, mais de vinte minutos sem oxigênio, não resistiu e faleceu.
- A vizinha viu todo o meu desespero, ela é minha testemunha, que fiz tudo o que podia, ela viu, ela viu, ela está aqui quer falar com ela? Droga as pessoas não param de me ligar.
- Não, deixa, vou te deixar refletir, depois a gente se fala, que fatalidade, pensei que ele estava no hospital e havia acontecido alguma coisa.
- Não foi no hospital.
- Sim entendi, eu te ligo.
- Está bom!
- Ok, se precisar de alguma coisa daqui, me avisa.
- Ok, tchau! E ela desligou o telefone bruscamente!
- E aí o que aconteceu, ele estava no Hospital? Perguntou a curiosa da minha esposa.
- Não, ela estava dando comida para ele e ele se engasgou.
- No Hospital?
- Não, em casa, porque se fosse no Hospital eles teriam socorrido ele, não teria morrido, eles são treinados e sabem fazer aquela manobra de nome complicado, como é o nome mesmo?
- Heimlich! Disse a Nerd da minha filha e continuou.
- Está muito estranha essa história.
- Eu também achei, ela não estava chorando, estava muito nervosa, fria, ela não é assim, será que ela matou o meu primo?
- Acho que não, ela não faria isso, conhecendo-a bem, ela é do bem. Disse a minha querida esposa.
- Eu pensei a mesma coisa pai, depois que a sua tia faleceu, quanto tempo faz isso mesmo, acho que alguns meses, nem ano não é isso? Perguntou à minha filha.
- Sim, faz seis meses, pouco tempo, acredito que ela não estava aguentando mais cuidar do irmão, gordo, acamado e chato, ter que trocar fralda, dar comida, banho, ficar à disposição, fazer tudo o que a minha tia fazia, a minha tia já estava velhinha e coitada, dava conta do recado, fez isso por mais de trinta anos e aguentou calada.
- E você acha que a sua prima não aguentou nem seis meses? Pergunta a sarcástica da minha esposa.
- Coitada, ela pode ter perdido a paciência, não tinha a mesma obrigação e paciência que a minha tia tinha, porque ele ficava gritando querendo comida, água, ligar a televisão, mudar de canal, aumentar o volume ou desligar, acender a luz, apagar a luz e quando não atendia o que ele queria, ficava gritando sem paciência, isso é para deixar qualquer um louco, na época da casa da minha avó eu ficava algumas horas lá já tinha vontade de estrangular ele.
- Eu também. Disse a minha esposa com cara de inocente parecendo um demônio disfarçada de anjo e continuou.
- Nossa a sua tia foi uma guerreira, quanto tempo ela aguentou isso tudo coitada, isso é mãe de verdade, diferente da minha sogra que largou o filho dela a Deus dará.
- Pronto tinha que falar da minha mãe.
- Tá desculpa eu sei que isso não é hora para falar disso, mas é verdade, só uma mãe para aguentar tudo isso, a sua prima não tinha obrigação disso, apesar de ter sobrado para ela depois que a sua tia faleceu, uma irmã não é uma mãe, não faz o que uma mãe faz, quer dizer nem todas mães também, têm certas mães que acredito que não faria isso, largaria o filho pelo primeiro macho que aparecesse e deixaria na casa da avó para ela cuidar.
- Pô você não falou que não ia tocar nesse assunto.
- Tá, está bom, mas a sua prima não estava tentando achar uma casa de repouso para colocar ele, ou internar, internar essa palavra me lembrou outra história.
- Você é difícil, sim, sim ela estava tentando, mas ela estava esquisita no telefone, estava fria, estava dizendo que a vizinha era testemunha como um Álibi.
- É, mas se ela fez isso, ela não tem culpa, quem procurou tudo isso foi o seu próprio primo, não nasceu assim, quem mandou ele usar tanta droga.
- Sim, o pior que agora a consequência disso tudo tinha ficado para a minha prima e ela não é mãe, por mais que ela amasse o irmão e depois de tudo o que ele fez para ela, quando era saudável, roubou todas as coisas dela, para comprar drogas diversas vezes, mas ainda acredito que ela não fez isso agora.
- Eu também, mas se ela perdeu a paciência, da seguinte maneira: ele deixou ela tão doida na hora que ela estava alimentando ele, ao ponto dela perder a paciência e encheu a boca dele de comida sem parar, gritando igual uma louca, come, come desgraçado ingrato, toma, come, come e morre engasgado, mas quando percebeu o que tinha feito, já era tarde, e o meu primo engasgado tentando respirar, ela deve de ter pensado, essa é a oportunidade de ouro de unir o útil ao agradável, ninguém iria desconfiar que ela o matou, se ele morresse engasgado, ele sempre comia quase deitado e nessas situações ninguém iria suspeitar dela, era chance de se livrar desse fardo que estava acabando com a vida dela, que sempre foi um fardo na vida dela, acabou com o primeiro casamento dela, tomou toda atenção da mãe dela para ele.
- Procura aí filha, como matar uma pessoa engasgada no Google!
- Eu não, pai, depois isso fica no meu histórico, e a polícia vai achar que estou tentando matar alguém.
- Para de besteira vocês dois e vamos logo almoçar. Disse a Sargento.
Capítulo II. Morreu e virou santo.
Se eu estou em choque imagina ela, as lembranças vêm tudo como um trem descarrilhado, tudo vem à tona, cada detalhe, eu o perdoei, perdoei em vida de tudo que ele me fez, ferrou com a minha vida, mudou o destino da minha vida, quase me matou, mas ele era como irmão mais velho para mim, se não fosse as drogas, teria sido tudo diferente, ele mudou o seu destino, o meu, da irmã, da família toda.
Ele sempre teve de tudo, porque o pai e a mãe dele, sempre faziam todos os seus gostos, atendiam tudo o que ele queria, estudou nos melhores colégios, tinha do bom e do melhor, tanto que conforme ele ia crescendo as suas roupas ficavam para mim, roupas de marcas famosas, às vezes novas quase sem usar, nessa época eu era considerado o ovelha negra da família, a vida é muito louca, nunca sabemos do nosso dia seguinte, por isso nunca julgo ninguém, não julgo para não ser julgado. Eu tenho muitas lembranças com ele, a primeira lembrança que veem na minha memória, é a de 1978, de quando o Corinthians foi campeão paulista por 1x0 em cima do Santos, com o gol do Palinha eu ele saímos como uns loucos comemorando pelas ruas gritando e carregando uma bandeira do Corinthians, enquanto muitos fogos de artifícios explodiam no céu, foi uma grande festa as pessoas buzinavam os seus carros, gritavam e nós dois corríamos flamejando a bandeira, na época eu tinha apenas seis anos e ele já tinha dez anos e iria fazer 11 anos, ele fazia aniversário em dezembro, e eu lembro que no seu aniversário que foi comemorado na casa da minha avó onde eu morava na época, eu tinha um triciclo de ferro e ele pegou e tentou andar nele, mas ele era muito grande e pesado para o brinquedo fazendo o brinquedo quebrar, separando a roda da frente das duas traseiras, a minha mãe escutou o barulho e correu para o quintal e viu o brinquedo quebrado, ela brigou comigo pensando que tinha sido eu que tinha quebrado, depois que ela entrou o meu primo deu risada e teve a ideia de encaixar uma tábua comprida de mais ou menos um metro e meio, na parte que quebrou do triciclo e montamos na tabua nos dois e descíamos a rua onde a minha avó morava, eu na frente e ele atras me segurando, descemos diversas vezes, até que de tanto encaixar e subir e descer a tabua se soltou e o ferro onde estava encaixado no triciclo, escapou e enfiou no meu pé, varando o peito do meu pé até a sola, era sangue para todo lado, lembro da família toda tentando me acudir e lavando meu pé no tanque de lavar roupa, eu não lembro da dor, mas tenho a cicatriz até hoje, bem no meio do peito do pé, essa é uma das minhas lembranças que tenho antes dos meus pais se separarem e eu ir embora com a minha mãe e só retornaria depois de 3 anos, porque a minha mãe me levou com ela quando se separou e a minha avó e o meu pai não sabiam por onde eu andava, eles me procuravam, juntos com o pai do meu primo que tinha carro e saiam por ai tentando me encontrar, as vezes o meu primo ia junto, até que um dia o meu tio, ele encontrou os irmãos da minha mãe e combinaram de me levar para ver o meu pai e a minha avó, e assim o que eles fizeram foi de combinar de se encontrar em uma feira livre, eu lembro daquele dia como se fosse hoje, eu estava parado com uma mala em uma barraca de pastel, comendo o meu pastel de palmito e de repente apareceu uma senhora chorando, me agarrando e me abraçando, eu olhei para a minha mãe, que pediu para que eu fosse com ela e que depois do final de semana ela iria me buscar, eu fui embora com a minha avó e quando cheguei na casa dela a primeira pessoa que vi foi o meu primo, que me esperava no portão, antes mesmo de ver o meu pai, ele estava lá, lembro que jogamos bola, empinamos pipa, lembro que subimos na laje do fundo onde havia uma caixa d'água, e o meu primo foi subir em cima dela e a tampa da caixa d’água se quebrou e ele caiu dentro da caixa d'água, me levando junto, porque ele tentou me agarrar e fui junto, nos dois ficamos encharcados, a minha avó apareceu na janela do quarto dela que ficava nos fundos da casa, gritando e preocupada.
- O que aconteceu? Perguntou ela.
- O priminho caiu dentro da caixa d'água, tentando pegar uma pipa vó, eu estava ajudando e acabei caindo junto, para a minha avó não brigar com ele, inverteu a história e a coitada acreditando nele, só perguntava.
- Não se machucou?
Eu balancei a cabeça dizendo que não, enquanto o meu primo só me olhava esperando que eu confirmasse a história dele, e essa foi a segunda vez que ele colocou a culpa em mim, isso era só começo, me colocando como culpado da situação, porque depois desse dia, estávamos eu e ele empinando pipa na casa dele e ele resolveu subir no telhado da vizinha, quebrou várias telhas, fazendo muito barulho, depois a vizinha foi reclamar com a minha tia e ele falou que tinha sido eu, mas eu não ligava eu gostava da companhia dele, eu o via como um irmão mais velho e assim eu decidi ficar e morar com a minha avó, não voltei morar mais com a minha mãe eu não me dava bem com o meu padrasto e então decidi morar com o meu pai e a minha avó e assim sempre estávamos juntos ele já tinha 13 para 14 e eu 9 para 10 anos, então como eu estava falando, eu gostava muito de pipa e sempre que pegava um pipa bonito ele pegava para ele, como esse dia que ele falou que havia sido eu que quebrei as telhas da vizinha, estávamos eu ele em cima do Lage da casa dele, ele com um pipa grande e bonita e eu com um peixinho pequeno, veio um pipa voando cortado cheio de linha, ele tentou aparar o pipa e perdeu o dele, eu mesmo com um pipa pequeno consegui aparar os dois pipas para trazer para nós, mas os pipas se enrolaram e começaram a rodar, nos puxamos rápido para conseguir trazer até as nossa mãos, e assim quando estava bem pertinho, havia linha pela laje toda, pisando com cuidado para não estragar toda aquela linha, vacilamos quando estava pertinho e os pipas se enroscaram na antena de televisão da vizinha, então, ele decidiu subir no telhado da vizinha para pegar os pipas e pulo da laje no telhado quebrando várias telhas, ele deu de ombro e continuo subindo no telhado quebrando mais telhas até alcançar a antena onde estavam os pipas, a vizinha ouviu aquele barulhão e saiu para ver o que tinha acontecido, quando ela saiu eu estava olhando para ela, ela me viu e disse que estava indo reclamar para a minha tia e assim ela fez, dizendo que havia me visto pulando do telhado dela para a laje, eu não tinha nem tamanho para conseguir pular e alcançar o outro telhado, diferente do meu primo que era alto e magro, mas ninguém cogitou isso para me defender e o meu primo ficou quietinho deixando que eu levasse toda a culpa sozinho, a minha tia ficou muito brava comigo, brigou comigo e me mandou ir embora para a minha casa, no fim o meu primo ficou de inocente e ainda ficou com as pipas para ele, essa foi a época de criança, conforme íamos crescendo e as roupas dele ficando para mim, como ele era alto algumas ficavam enormes em mim, apesar dele sempre me ferrar, eu sempre estava com ele, nós vivíamos se metendo em confusão, encrencas e eu levando a culpa, mas sempre junto com ele, mas tinha uma coisa, ele nunca deixava outros meninos mais velhos me bater, sempre me defendia, como uma vez que estávamos brincando com serpentinas de carnaval que foram deixadas em um carro alegórico de uma escola de samba, estava abandonado em uma rua após o desfile da escola, a escola se chamava Camisa Verde e Branco e ficava perto da casa do meu primo, o carro estava todo enfeitado com fitas metálicas douradas, foi a festa para a molecada, alguns faziam rabiola para pipa outros colocavam no corpo e assim a criançada toda se divertia, alguns apanhavam a fita, amarrava uma pedra, rodava e jogava para o alto, e assim começamos a competir para ver quem conseguia jogar mais alto, então eu peguei uma pedra maior, amarrei e comecei a rodar com toda força, a fita se arrebentou e acertou a testa de um menino mais velho, a pedrada foi tão forte, que machucou e escorria sangue da testa do menino, o menino queria me bater por causa disso e correu atrás de mim, mas o meu primo não deixou e me defendeu, está vendo, era um gráfico com altas e baixas.
- É como você lembra disso tudo? A minha esposa não acredita no meu potencial mesmo.
- Eu lembro de muita coisa, parece que foi ontem e agora com a morte dele veio tudo à tona.
- Ok, chegamos nos seus pais para almoçar, vou deixar o carro na porta deles, não tem vaga e vê se não fala mal do meu primo, tenha respeito agora que ele faleceu.
- Oxxi, agora que morreu virou santo, pois eu falo do jeito que eu quiser.
Eles entram pelo portão do quintal fazendo muito barulho, a mãe dela abre a porta da sala e antes mesmo de beijar a mãe ela já vai dizendo.
- Oi! Mãe lembra do primo do meu marido?
- Qual deles? Pergunta a minha sogra querida que eu amo de coração.
- O Drogado que estava de cama, que antes de ficar de cama roubava todas as coisas que eu dava para o meu namorado.
Eu só olhei para ela, como se quisesse dizer que era melhor não ter pedido ou dito logo, que ele está no inferno agora.
- Sim filha, o que tem ele?
- Então faleceu agora a pouco.
- Oxxi, como foi isso, ele estava internado no Hospital?
- Não morreu engasgado.
- No hospital?
- Não mãe, na casa dele, enquanto a irmã estava dando o almoço para ele,
- Morreu engasgado com a comida, que coisa, eu pensei que tinha sido no Hospital porque ele tinha Aids.
- Não foi ele que levou tiro, facada, foi preso? pergunta o meu sogro se aproximando.
- Sim pai.
- Mas ele estava no Hospital?
- Não! Morreu engasgado em casa.
- Que coisa... foi morrer engasgado, que Ironia, que vida louca é essa, o sujeito sobreviveu a tudo isso, por isso pensei que estivesse no hospital, para morrer em casa engasgado.
- Você vê como são as coisas.
- Quanto tempo tem que ele estava acamado?
- Quase trinta anos. Eu falei calculando por cima.
- Não foi a mãe dele que faleceu recentemente.
- Sim Sogra, foi ela mesma, faz seis meses.
- Vixxii e a irmã que estava cuidando dele?
- Sim.
- Coitada, que livramento, agora ela descansa. A minha Sogra é uma Santa.
- Mas ela vai perder a pensão que ele recebia, eles estavam sem dinheiro, agora piorou. Falou a minha esposa deu para perceber né.
- Está vendo seu doido, ela só tinha a perder, por que ela iria querer matar o irmão?
- Matar ele, porque, não morreu engasgado? Boa pergunta Sogrão.
- O meu marido e a minha filha estão achando que a irmã matou o irmão, porque não aguentava mais cuidar dele.
- Não, é lógico que ela não iria fazer uma coisa dessa, ela era tão boazinha, eu lembro dela, porque você acha isso. Depois ainda falam mal da Sogra.
- Não sei, ela estava muito estranha, não estava chorando, inquieta e irritada.
- É lógico seu louco de galocha, ela ainda devia de estar em choque, o irmão dela havia acabado de morrer na frente dela maluco. Não preciso dizer de quem é essa fala, né?
- Eu acho que foi um alívio para ela, mas não ela não teria coragem de fazer uma coisa dessa. Isso é Sogra, o resto é qualquer coisa.
- Os dois acham que ela perdeu a cabeça e enfiou um monte de comida na boca dele, depois de perder a paciência com ele e quando percebeu o que tinha feito, titubeou ou deixou acontecer percebendo a grande chance de ouro de se livrar daquele problema.
- Eu acho que não, apesar de ele estar muito gordo e pesado, o que iria dificultar para ela poder desengasgá-lo ou tentar a manobra de Heimlich, ela não tinha força para fazer isso sozinha, ela era muito pequena perto dele, não iria conseguir levantá-lo e colocar os braços ao redor dele, do abdômen, a barriga estava enorme e ainda ter força para apertar a região epigástrica.
- Epi... o que?
- Epigástrica, pesquisei no Google. Eles dão risada.
- É por que ela demorou tanto para chamar a vizinha?
- Porque estava em choque filho de Deus. Sabe quem é né caro leitor?
- E se ela estava fingindo que estava em choque?
- Pode ser mãe. Com a mãe ela é bem mais educada, se não o chicote estrala.
- Ah! Desisto de vocês, até eu já estou entrando na de vocês, agora só falta você pai, achar isso, o que você acha?
O pai levanta as sobrancelhas.
- Ah não! – Pronto, agora Morreu Virou Santo! A coitada da irmã o matou de propósito, esqueceram de tudo que ele fez, vocês são todos doidos, mesmo que ela tenha feito isso, não merecia ser julgada depois de tudo que ele fez, não é pai?
O Pai só olha e não diz nada.
- Ah! Não Você, também, ahhaa, vamos mudar de assunto, vamos jogar baralho ou jantar, que eu não aguento mais esse assunto.
- Mas ela não saberia como fazer. Diz a Sogra atrasada do assunto, pensando alto.
- É parece que esse assunto vai longe. Ela não ofendeu ninguém, não chamou de jumento, louco, lazarento, que milagre.
Capítulo III – Belina vermelha cheirando a pinho campestre.
Essa história mexeu muito. está sendo um enxurrada de lembranças, muitas histórias vieram à tona, como um foguete, algumas boas outras nem tanto, o engraçado que tudo parece tão recente, eu lembro de quando o meu primo foi viajar com a família toda, eu lembro como se fosse hoje, o meu tio foi dirigindo a Belina II vermelha, a Belina II cheirava a aromatizante automotivo Pinho Campestre, ele usava um óculos de sol Ray-ban de lentes verde, com armação dourada, a minha tia estava no banco do passageiro, na época ela ainda era bonitona, era charmosa, ela estava usando um chapéu e um óculos escuros, aqueles de madame que cobre todo o rosto, o que era uma pena , ela tinha lindos olhos verdes, o meu primo sentado na janela de trás do motorista, caracterizado de surfista, no meio a minha prima, contar os detalhes vai ser covardia, não é porque era a minha prima, mas ela era bonita, ela estava usando um shortinho curto, deixando as coxas grossas, ela tinha uma pele morena e os pelo descoloridos contrastavam com a melanina, ela usava um top, que parecia um número menor, parecia que os seus peitos iam pular para fora, ela tinha uns lábios carnudos e tinha passado um batom brilhante, os seus olhos eram cor de mel esverdeados e os seus cabelos eram negros igual de uma índia, a minha prima era gostosa puta …., aiiiii, porque você me beliscou?
- Fica aí falando todos os detalhes da sua prima, que ela era toda gostosona, a bonitona, a rainha da cocada preta.
- O que você quer que eu fale, ela era mesmo, eu lembro disso com perfeição, usei muito essas lembranças na minha puberdade, aí!!, de novo!!
- Não precisa mais de detalhes, termina logo a história. Falou a autoritária ciumenta.
- Eu preciso falar esses detalhes, são lembranças boas no bom sentido, para você ter uma ideia, ser prima dela, já me livrou de muita confusão, eu lembro de um cara que tinha um carrão antigo, um Chevrolet Styleline Deluxe 1950, dourado, carro era lindo, por onde passava todo mundo olhava e esse rapaz era maluco pela minha prima, sempre que ele me via, me chamava de cunhadinho, me pagava sorvete, refrigerante em sem falar no prazer de andar naquele carro, mas a minha prima não queria nada com ele, ele tinha que entrar na fila, que não era pequena, o portão da casa do meu tio na época parecia que tinha uma cadela no cio e todos os cachorros da região tentando cruzar, saia até briga.
- A tá, só tinha ela de mulher na região? Perguntou à minha esposa com dor de cotovelo.
- Não só tinha ela, mas não tinha, ninguém igual a ela, tanto se um dia fizessem um filme sobre ela, não consigo imaginar nenhuma atriz que possa ser comparada a ela, era uma beleza exclusiva e um corpo de tirar o fôlego, a bunda dela era coi... ai, de novo.
- Você se empolgou de novo. Disse ela para parar de dar mais detalhes sobre como tão gostosa era a minha prima.
- Ok, onde eu estava mesmo? Ah tá! Vou pular essa parte, então estávamos todos na Belina II vermelha novinha do ano, na época o meu tio indo para a praia, eu estava sentado no banco de trás do passageiro com a janela aberta, parecendo aqueles cachorros com a cabeça para fora, sabe?
- Um bobo alegre, sei. A minha esposa resmungou e balançou a cabeça impaciente.
Eu adorava quando eles me levavam para passear de carro, então quando chegamos na praia, era um feriado prolongado, parecia que São Paulo todo estava na praia, como eu havia dito, éramos uma família bonita, o meu primo tinha uma pinta de surfista, bermuda de surf, ele só andava com roupa de marca, tinha o cabelo parafinado, um corpo atlético e meio magrelo, com uma tatuagem de um cavalo alado no braço, tatuagem essa que deu o que falar na época que ele fez, o meu ficou muito bravo com ele, agora quando a minha prima desceu do carro, foi um festival de assobio, era um tal de chamar o meu tio de sogrão, o lá em casa, etc., a verdade que ela parou o trânsito literalmente, ela não era alta, era até mediana, mediana na altura porque era gost.. ops, deixa eu te poupar os detalhes, antes que você me belisque de novo, mas ela era de tirar suspiros, assobios, seios fartos, bunda grande e firme que pareciam duas bacias uma do lado da outra.
- Você não ia me poupar dos detalhes? Observadora, eu sabia fiz de proposito.
- É que essa parte não tem como pular, porque você precisa imaginar a cena agora, a minha prima tirou os shorts curto e por baixo ela usava um biquíni verde limão, entendeu agora?
- Sim, posso imaginar, ela ficou parecendo um vagalume, chamando mais atenção do que o professor em dia de prova. Que comparação esquisita, eu diria, chamando mais atenção que uma luz na neblina ou na escuridão.
- Então, imagina a cena, ela que tinha o corpo bronzeado usando esse biquíni fluorescente, o contraste era chocante, ela sempre estava rodeada de rapazes, onde quer que fosse, a coitada não tinha paz e o meu tio também, todo mundo que passava mexia com ela, queria o telefone, saber o nome dela, o meu tio parecia aquelas pessoas que ficam espantando mosca com as mãos, ele tinha um ciúmes gigante dela, mas esse dia a paz que ele foi procurar na praia, o pesadelo foi junto, ele tentava relaxar, sentado na sua cadeira de praia, embaixo do guarda-sol, ele havia preparado tudo para relaxar, a cadeira, o guarda-sol, uma cadeira para a minha tia do seu lado direito, um cooler cheio de cerveja, whisky, gelo e um vidro de conservas, no meio dele e da minha tia, e assim ele tentava relaxar, abria uma cerveja, pegava uma cebola em conserva, mas era só tentar abrir o vidro que aparecia algum engraçadinho fazendo piadinha, sogrão e coisas parecidas, tudo isso porque a minha prima estava deitada na esteira na areia tomando sol à sua frente, ela estava lambuzada de bronzeador pelo corpo todo, o que deixava o seu corpo, temperado, preparado para fritar no fogo do pecado, todo homem, rapaz, e moleque e até algumas mulheres que passavam olhavam, alguns até tinham a audácia de oferecer para passar bronzeador nela, o que deixava o meu tio mais doido, mandando a pessoa ir passar na mãe dele ou na avó, etc., coitado do meu tio, não iria ter sossego, quando a minha prima ficou com o bumbum virado na direção do sol, aí a coisa ficou séria, o meu tio tentava cobrir com uma toalha, a minha prima brigava e tirava a toalha, dizendo que iria deixar o bronzeado manchado, era ela tirar a toalha, que os olhares se voltavam para a obra de arte, era uma exposição chamada “Sensualidade”, feita com um corpo sobre óleo exposto na areia, com a composição de duas montanhas simétricas, com pinceladas da cor do pecado, dentro do movimento “Explicito”. Eu eo meu primo assistimos aquela cena, e dávamos risada, o meu primo cansou de assistir aquela cena, pegou a sua prancha de Surf e entrou no mar, eu fui atrás, ele passou a arrebentação eu fiquei na parte rasa, só olhando ele surfar e quando olhava para a praia, onde estava o guarda-sol amarelo de uma marca de cerveja, onde o meu tio estava agitado, xingando, gesticulando espantando alguns rapazes, como se espanta mosca, o meu primo se aproximou e falou.
- Vem que vou te ensinar a surfar. Ele chegou do nada depois de pegar uma onda que eu não estava vendo.
- Eu não sei nadar. Respondi, mas louco para tentar.
- Você aprende vem não vou te deixar cair e se cair eu te pego.
- Ok. Concordei balançando a cabeça.
Eu me deitei na prancha com a barriga para baixo e agarrei nas laterais igual um gato arisco, enquanto ele me empurrava mar adentro, contra as ondas, fomos até o fundo, ele virou a prancha a favor da onda e encaixou a prancha em uma onda que se formava, pegamos um Jacaré com a prancha, a sensação foi muito boa e fomos até a beirada da praia.
- Gostou?
- Adorei. Disse eu rindo.
Ele deu muita risada, mas uma confusão nos chamou a atenção no guarda-sol, o meu tio estava discutindo e empurrando alguns jovens, o meu primo correu para ajudar o pai e eu fui atrás.
O meu primo chegou na voadora, levantou areia para todo lado, o meu tio ficou assustado, não sabia se coçava a barriga ou a careca, a minha tia pequenininha que resolveu a situação como uma Leoa, ela xingou todo mundo e botou ordem na casa, os rapazes foram embora e a minha tia fez a minha prima se sentar na cadeira de praia e se comportar, enquanto a minha tia se sentava na toalha no lugar onde a minha prima estava antes.
Eu e meu primo voltamos para a água, ele foi para o fundo do mar novamente com a prancha e voltou surfando, eu fiquei até onde me dava pé só assistindo, meu primo se aproximou e brincamos de jogar água um no outro, ele resolveu tirar o short e rodar acima da cabeça.
- Faz o mesmo, vai tirar o short.
Eu tirei o meu short e fiz o mesmo, mas o meu primo pegou o meu short e jogou na onda brincando achando que iria conseguir pegar a tempo antes do mar levar embora, mas o short afundo e sumiu.
- E agora eu vou ficar pelado, como vou sair?
O meu primo deu risada e falou.
- Calma, eu trouxe um short a mais e vou buscar lá no carro.
Ele colocou o short dele e foi até o carro e eu fiquei pelado dentro da água abaixado para ninguém me ver pelado, ele demorou para voltar de propósito, mas quando ele chegou me trouxe um short que ficou gigante em mim, tive que amarrar um uma linha de pesca que achei jogada na areia, estávamos saindo da água quando olhamos na direção de onde estava o meu tio, ouvimos um alvoroço ao nosso lado, a minha prima havia decidido entrar na água, havia um pessoal assanhado mexendo com ela, não tinha como ter paz e curtir a praia em paz, a minha prima arrastava multidões, meu tio se encheu e decidiu ir embora, então voltamos para casa, voltamos cedo da praia, quando chegamos na casa a minha tia deu grito.
- A janela está aberta! Haviam arrombada a janela do quarto e roubaram um monte de coisa, estava tudo bagunçado, levaram várias coisas de valor, roupas do meu primo e da minha prima, fato esse que foi crucial, porque depois de alguns dias, estávamos eu e o meu primo empinando pipa e avistamos um bandido conhecido na região passando na rua usando uma camiseta que era do meu primo e ele foi tirar satisfação com o bandido e perguntou.
- Onde você arrumou essa camisa?
O bandido falou que não existia uma só camisa igual àquela, que o meu primo estava equivocado, conversa vai e conversa vem, o meu primo acabou virando amigo daquele bandido e aí as coisas começaram a mudar, e o meu primo era sempre visto andando com a galera do mal e assim começou a ter comportamentos ilícitos e a porta de entrada para as drogas, eu via sempre ele fumando maconha com os caras mais velhos no campinho e quando ele me via, fazia um gesto com um dedo na boca para não contar nada a ninguém e me ameaçava para não contar para a minha avó ou para a minha tia, e principalmente para o meu tio. Eu gostava de estar com ele, mas aí começamos a nos afastar, a minha tia percebeu que eu não ia mais na casa dela e que eu estava sumido, então um dia ela foi até a casa da minha avó me convidar para ir com eles no clube e assim lá fomos nós na Belina vermelha cheirando Pinho Campestre para o clube Campestre, o meu tio dirigindo a minha tia no lugar dela, o meu primo na janela, a minha prima no meio e eu na janela como um cachorro com a cabeça no vento. Quando chegamos no clube, como eu era convidado e não era sócio, eu não podia ter acesso às piscinas, mas a minha prima deu um jeito, ela estava com aqueles biquínis fluorescente, dessa vez era laranja, era um pouco menos chamativo que o verde limão, não contrastava tanto com a sua pele como o outro biquíni, mas isso não quer dizer que os homens não iriam ficar babando por ela, é aí que a vaca torce o rabo e o tatu come terra, ela foi até os salva vidas que controlavam o acesso às piscinas, como não quer nada e puxou assunto, ela não precisava nem falar era só olhar ou passar por eles, mas ela foi simpática até demais, porque ela também gostou do salva vidas, e quando os salva vidas se distraiam com a formosura da minha prima, não prestando atenção em mais nada deixando o caminho livre para que eu aproveitasse a distração para entrar nas piscinas, passei pelo outro lado da catraca despercebido, na verdade nessa hora passava uma boiada, a minha prima foi um boi de piranha, não vou dizer que ele foi uma vaca de piranha, isso soa estranho, eu gosto tanto dela, não quero ofende-la e assim enquanto ela distrai os olhares gulosos eu corri e pulei na piscina, como não conhecia a piscina, pulei bem na parte funda, comecei a me afogar, mas para a minha sorte o meu primo já estava na piscina e salvou.
- Você está doido pulando assim na parte funda? Mas está bem hoje eu vou te ensinar a nadar, você vai aprender a nadar para podemos ir pegar onda juntos.
Eu só escutava e balançava a cabeça, e assim ele me ensinou a nadar, eu pulava na piscina ele vinha e eu agarrava no pescoço dele, ele me levava no fundo da piscina e me impulsionava para cima e pedia para eu bater os pés e as mãos, depois me segurava e ficamos brincando assim por um bom tempo, depois de beber um pouco de água da piscina, foi assim que aprendi a nadar, nesse dia eu fiquei o dia inteiro na água, com medo de sair e depois não conseguir entrar de novo, fiquei tanto tempo na piscina que a minha pele estava toda enrugada, eu guardo essas lembranças com carinho do meu primo, porque depois que ele se envolveu com as drogas daí para frente foram só histórias tristes, o meu tio descobriu que ele estava usando droga, ameaçou de colocar ele para fora de casa, depois de descobrir que ele havia roubado várias coisas dentro de casa e do apartamento da irmã, na época a minha prima havia conhecido um cara cheio da grana e se casou com ele da noite para o dia, acho que ficou gravida, e foi morar com ele em um apartamento bacana, onde ela tinha do bom e do melhor, o marido dela a tratava como uma rainha, ela estava muito feliz, mas ..como tudo na vida não são só flores, um dia a minha prima foi viajar com o marido e deixou a chave com a minha tia para ela cuidar do cachorrinho, o meu primo descobriu e percebendo a oportunidade, pegou a chave escondido foi até o apartamento da irmã e furtou alguns objetos para vender ou trocar por drogas, quando a minha prima voltou de viagem e encontrou o apartamento bagunçado e faltando alguns objetos de valor, questionou o porteiro do prédio, que confirmou a suspeita dela, que as únicas pessoas que estiveram lá foram a mãe dela e o seu irmão, o marido da minha prima ficou furioso e já juntou uma coisa na outra e lembrou de uma vez que eles foram para praia com ele e ficaram no apartamento dele, foi toda a família, a minha prima no carro do marido e a minha tia o meu tio e meu primo na Belina vermelha, e no dia seguinte depois que eles estava lá, havia sumido alguns toca fitas e objetos de valor de alguns carros do estacionamento do prédio, na época um dos porteiros do prédio até mencionou que a pessoa que estava mexendo nos carros parecia com o meu primo, mas a minha prima e o marido dela na época acharam aquilo um absurdo e falaram que o porteiro estava equivocado, mas na verdade o porteiro estava certo, mas dessa vez ele passou dos limites roubando a própria irmã, mas isso era só o começo, quando o meu tio soube do caso, a atitude dele foi de internar o meu primo para tentar recuperá-lo, para tentar se livrar das drogas, conseguiu interná-lo, mas ele sempre fugia e voltava para casa e fazia pior, cada vez foi ficando pior, internava, fugia voltava para casa e fazia tudo de novo, até que o meu tio perder a paciência e o colocou para fora de casa, a minha tia para não deixar o filho morando na rua foi junta e resolveram ir morar na casa da minha avó, onde eu também morava, e aí acabou a minha paz e começou a minha tristeza.
- A partir daí eu já sei de cor e salteado essa história triste e abusiva, que te fizeram de trouxa, mas continua, os leitores ainda não sabem. Comentou a minha linda e amorosa esposa que escutava forçadamente eu recordar dessas histórias.
Capítulo IV. Perdoar ou julgar? Es a questão.
No começo foi tudo bem, eu conversava bastante com ele, nós saímos juntos, foi um época até que legal, sair com ele era bom , porque ele era bonitão, boa pinta como dizia a nossa avó, as meninas olhavam para ele e queriam se aproximar, e ele era bom de papo, galanteador profissional, e eu me dava bem estando junto, sempre sobrava uma amiga da amiga que ficava com ele para mim, era por isso que ele tinha muita namoradas, uma delas até deixava o carro dela com ele, eu lembro de uma dessas namoradas, que tinha um jipe, era um jipe bonito, todo equipado, verde exército, com pneus largos, para choque reforçado, bancos de couro, santo Antônio cheio de faróis de milha, ele abaixava a capota e nós saímos por aí, dando umas voltas se divertindo, por onde passávamos as pessoas olhavam para nós, eu me sentia importante e elegante, era gostoso sentir o vento na cara, aquela sensação de liberdade, os olhares das garotas, só os solavancos do Jipe que era um pouco desconfortável, quando ele fazia uma curva um pouco mais rápida, o Jipe balançava tanto que parecia que iria capotar, “Nós capota, mas não freia” gritava o meu primo rindo, realmente não capotava devido a suspensão preparada, era bem alta feito com os melhores amortecedores que havia na época, mas nem tudo são só flores e logo ele começou a mostrar porque veio e os problemas começaram, começou a sumir as coisas na casa da minha avó, eu lembro como se fosse ontem, a primeira coisa que ele me roubou foi um tênis que eu haviam emprestado para ele quando saímos juntos, ele me devolveu e o coloquei embaixo da cama e ele viu eu escondendo, na manhã seguinte quando fui procurar o tênis ele não estava no lugar onde eu havia deixado, havia sumido, até então eu não fiz muita questão, o que hoje vejo como um erro, porque se eu tivesse cortado o mal pela raiz, a árvore de problemas não teria dado frutos amargos, na época como estava falando só conversei com ele, passamos a noite conversando e depois dessa conversa ele falou que não iria fazer mais, me pediu mil desculpas , ele dizia que tinha hora que o vício era mais forte.
- Desculpa primo, eu nunca faria isso com você, mas a hora que bate a paranoia, eu não penso em nada, só quero satisfazer o meu desejo, aliviar essa sensação da Heroína nas minhas veias, a sensação na hora é muito prazerosa, mas quanto mais eu uso, parece que essa sensação dura menos e preciso de mais, nessa hora não existe nada que substitua essa sensação, o que é uma Ironia, é que a palavra heroína, tem a sonoridade parecida, Heroína para ser uma mulher com super poderes, como a Mulher Maravilha, parece que ela vai te salvar e depois você vai agradecer, minha Heroína muito obrigado, mas o que é a Ironia que você primeiro agradece quando o seu líquido entra na sua veia, a sensação de te salvar da realidade e te proporcionar muito prazer, mas quando acaba a heroína vira vilã e só te traz desgraça, eu pergunto novamente, é Heroína ou Ironia ou a Ironia da Heroína?
Nessa hora eu não sabia o que dizer e nem poderia imaginar o que ele estava dizendo, nunca usei e pretendia nunca usar também, porque ele me dizia assim.
- Primo nunca entre nessa, nunca use droga, olha a minha vida, nunca faça isso, lembre-se sempre dessa pergunta, Heroína ou Ironia ou a Ironia da Heroína? Se alguém chegar a te oferecer lembre-se dessa pergunta.
Depois disso ele me falou que não iria fazer mais e que iria me devolver o meu tênis ou me dar outro, me pediu mil desculpas eu acreditei nele e queria tentar ajudá-lo, mas fui inocente e ingênuo, ele até tentou, arrumou um emprego de motorista em uma empresa grande, ele dirigia uma Kombi, parecia até que as coisas estavam dando certo, mas por azar do destino ele fez um frete de um material valioso e isso juntou a fome com a vontade de comer e a tentação foi maior que a responsabilidade, ele vendeu uma parte da carga e comprou droga mas depois que o efeito da droga passou ele se arrependeu e tentou simular um assalto, ele viu que deu certo e tentou fazer isso vária vezes , até a empresa começar desconfiar e mandar ele embora, ele até que deu sorte porque poderia ser preso, até nisso ele dava sorte.
- Aff! como sempre todo mundo passava a mão na cabeça dele é por isso que deu no que deu, se fosse comigo já tinha dado um basta logo no começo vocês foram muito trouxas. disse a minha esposa com razão, odeio admitir, mas ela estava certa.
E assim depois desse tênis, foi outro tênis, uma blusa, dinheiro da minha carteira, uma guitarra, dois rádios, e assim chegando ao ponto de eu não ter mais o que vestir.
- Está vendo, isso parece um passado recente, eu lembro que te dei um Walk man e ele roubou para trocar por droga, é por isso que eu não acho que a sua prima não matou ele, olha quanta coisa ele fez, roubou o apartamento dela, onde ela morava e na praia, quanta coisa ela aguentou e agora ainda sobrou para cuidar dele, depois que a sua tia faleceu, mas a sua tia foi culpada disso tudo, se ela não tivesse passado a mão na cabeça dele e acompanhado ele até a casa da sua avó, levando este problema para ela também é para você, seu pai, os vizinhos, se ela não tivesse ido junto talvez ele teria tomado jeito. Falou a minha esposa com aqueles olhos azuis arregalados e mais vermelha de raiva, do que já era de nascença, branca polaca, rosada por natureza.
- As coisas não são assim tão fáceis como você está falando, ele era como um irmão para mim, a família toda tinha a esperança de um dia resolver isso juntos, é o que uma família tenta fazer, nunca abandonar um soldado um membro da família, a esperança é última que morre, enquanto tiver munição a gente vai morrer atirando.
- É isso que estou falando, vocês foram iludidos, e culpados também, olha quanta coisa, se fosse comigo já tinha matado ele no começo, já poupava todo esse sofrimento, acredito que a sua prima não teve coragem para fazer isso, mas eu tenho e teria feito com certeza, já teria até colocado veneno na comida dele, não pensava duas vezes. Os olhos da minha esposa pareciam que iriam saltar do rosto.
- Sim passamos a mão na cabeça dele, antes dele começar a tomar baque, eu não sou dedo duro, mas deveria ter contato para o meu tio, ele começou com a maconha, tudo tem um começo, existe o meio termo e o início da pior fase, não sei se já te contei como tudo piorou e começou, a história do início da droga mais forte?
- Você já me contou tantas histórias, que já nem lembro mais ou se quero lembrar, qual é a desculpa dessa vez? porque para mim qualquer história vai ser desculpa, usa droga quem quer, não vem com essa história de curiosidade, ou de ser pobre, passando por alguma necessidade emocional, espiritual ou carnal, usou droga porque é trouxa, em pleno século XX, existem propagandas conscientizando, informando que isso não é bom, olha a Cracolândia lá no centro, para mim tinha que matar todos eles, dar uma droga batizada com um veneno ou um dose mais forte e deixar morrer todos eles, o pior que ainda dão trabalho para o governo, o governo que tem que arcar com as despesas médicas, muitas vezes um drogado desse está tirando o leito de um pai de família que não procurou, esse problema para ele, eu sou da seguinte opinião, quer usar droga , que use ,desde que não tire o lugar de outro no hospital, se abdique de atendimento médico, não me vem com desculpa de que é culpa da sociedade, que é vítima, usou droga porque quis, ninguém o forçou a usar, enfiou no seu nariz ou goela abaixo, mas tá desculpa é que essas desculpas me tiram do sério, o que você ia contar ou qual vai ser a desculpa de como tudo começou? Eu estava estático olhando para ela tentando reformular a história que eu iria contar, mas já não sabia se contava ou não porque ela poderia achar que era só mais uma desculpa.
- A Cracolândia realmente é uma hipocrisia, é proibido usar droga, pedem a liberação da maconha e não liberam, mas lá no centro de São Paulo, as pessoas usam craque a vontade como se fosse liberado e ninguém faz nada, vai eu ou você só portar droga, nós vamos preso, agora lá não eu não entendo, as pessoa roubam para comprar drogas, portam drogas e não vão presas, o que seria a solução de internar esses viciados, mas parece que não querem dizendo que é culpa dos direitos humanos, acredito que o que os direitos humano quer é que esse pessoal sejam bem tratadas e não deixadas abandonadas, dormindo no chão mijadas, cagadas, fedendo se tornando um ameaça para eles e para a sociedade.
- Pois é, é hipocrisia, maconha proibida e o craque liberado, mas vai me contar como o seu primo começou a usar droga!
- Não sei se devo te contar como tudo começou, você pode achar que é uma desculpa, mas não é isso só te contar como realmente começou independente da sua opinião sobre isso, só quero te contar a história de como aconteceu, as consequências são outros quinhentos.
- Está bem! Conta, não vou mais dar a minha opinião,
- Não deixa, você está julgando, já falei para você não julgar para não ser julgada, eu só estava lembrando de como foi, você já entrou em questões sociais, se alterou, eu sei que o que aconteceu não foi certo, mas você não sabe como é, nunca sentiu na pele, vai dizer que: Ah! Meu pai era alcoólatra e que etc., etc., pode até ser um problema também, mas não é igual.
- Não é igual porque não foi você que sentiu na pele e que apanhou sem motivo, toda vez que ele chegava bêbado.
- Em nenhum momento eu falei que você não sofreu, sim é ruim tanto quanto, mas o álcool a pessoa compra e arruma em qualquer bar de esquina, é liberado pela lei, tem bêbados que bebem e dirigem e acabam atropelando e matando alguém,, isso é gravíssimo, mas a questão aqui é outra, o bêbado que também é errado, ainda consegue se conter, o drogado quando bate a paranoia, não tem essa escolha, eles fazem mal para eles mesmos, só afetam outras pessoa , quando não tem dinheiro para sustentar os seu vício, aí começa a roubar, assaltar e até matam também, mas no caso do meu primo, o que você chama de passar a mão na cabeça, era justamente para que ele não roubasse outras pessoas na rua, a família não tinha paz, mas o problema era nosso.
- Não tem nada a ver o que você falou, é tudo igual, farinha do mesmo saco, são drogas iguais, seja líquida em pó, erva, química, alteram a normalidade da pessoa, tira o reflexo, altera o comportamento, são alucinógenos para fugir da realidade, são pessoas fracas, que não conseguem aguentar a pressão do sistema e buscam soluções nas drogas, na bebidas com a desculpa que está triste, no caso se está feliz é para comemorar e a felicidade é motivo, quando bebem para celebrar. Ela não me deixava falar, distorceu tudo que estava falando.
- O que você está me olhando? Eu só falei a verdade, era isso que faltou fazer com o seu primo, contar umas boas verdades. Ela pensa que é fácil falar, falar até papagaio fala.
- Nem sempre as pessoas querem ouvir a verdade, às vezes tudo o que a pessoa tem é esperança, e quando se fala a verdade de uma forma com raiva, você tira isso dela, você acaba dizendo o que não quer dizer e muitas vezes tira a esperança da pessoa, você acha que não falamos isso para o meu primo, falamos milhares de vezes, será que ele ouviu uma palavra sequer, acho que só gastávamos saliva, acredito que não, na cabeça dele deveria estar esquematizando alguma coisa de como conseguir mais drogas, enquanto falávamos na sua frente como ventríloquos sem voz.
- Ah! quer saber não falo mais nada, não quero ouvir o que você iria me dizer. ela fala isso e sobe as escadas pisando forte.
- Eu também não iria mais te contar, não dá para conversar com você, era mais fácil conversar com o meu primo drogado do que com você sóbria, ele era mais humano e sabia conversar.
- Então vai lá na Cracolândia, conversar com os Drogados, lá vai ter um monte de ouvintes para você conversar. O sarcasmo dela me mata.
Eu não vou mais contar a história para ela, muito chata, chata pra caramba, quer por palavras na minha boca e vocês caros ouvintes ainda querem saber como foi a primeira vez que o meu primo usou droga mais forte? Só não vou conseguir ouvir a opinião de vocês sobre isso. Eu vi que a senhora no sofá balançou a cabeça dizendo que sim, espero que o restante também, não consigo ver todos no momento, podemos estar em tempos e horários diferentes, mas ok, então vamos lá; O meu primo tinha um amigo em comum com o cara que havia roubado a sua casa e as suas roupas, o nome dele era na verdade o apelido dele era Chantilly, ele também era um amigo da família, no começo ele era amigo da irmã do meu primo, mas eles tinham a mesma idade e assim o meu primo e ele tinham as mesmas ideias, e logo se tornaram melhores amigos, para tudo, eles pegavam ondas juntos, saiam para as baladas juntos, se envolviam em brigas e um se garantia com na companhia do outro, agora aquele outro amigo em comum, o ladrão que roubou a casa e as roupas, pois é, esse sujeito, além de ladrão, também traficava cocaína e maconha, ele havia acabado de comprar um bar de fachada para vender droga, uma vez o meu primo e o Chantilly, estavam passeando com o Jeep da namorada do meu primo eles pararam o Jeep na porta deste Bar , para tomar uma cerveja, o Chantilly não bebia mas gostava de acompanhar o meu primo tomando refrigerante, o traficante os recebeu com toda atenção e cortesia, lhes serviu uma cerveja e um refrigerante e deu de cortesia um papelote de cocaína para eles dizendo:
- Tome cortesia da casa, fica pela blusa que peguei sua, um presentinho para vocês.
O meu primo olhou para ele, e pensou.
- Filho da puta, foi ele mesmo que roubou a minha casa.
Mas elo não disse nada, pegou o papelote e segurou na mão enquanto o Chantilly balançava a cabeça em sinal de negativo, mas o meu primo deu de ombros e foi até o banheiro, ele abriu o saquinho fez uma carreirinha na pia suja do banheiro e aspirou a droga, o Chantilly estava atrás dele dizendo para ele não fazer aquilo.
- Putz, que sensação, experimenta você tem que experimentar.
O chantili resistiu, mas de tanto que o meu primo insistir e acabou cedendo e experimentou também. O nariz do Chantilly ficou branco de pó e o meu primo ria e dizia.
- Chantilly em pó. E os dois riam, mas o que eles não sabiam que essas risadas iriam se transformar em lágrimas, no futuro essa gratuidade vai custar caro.
Eles ficaram tão chapados, que o Chantilly, deixou o refrigerante de lado e bebeu várias cervejas, e cheirando cocaína até o papelote acabar, eles estavam tão loucos, que apostaram com o traficante, que ele conseguia subir com o Jeep as escadas da entrada do bar e estacionar o Jipe dentro do Bar.
O traficante aceitou e dobrou a aposta com mais dois papelotes de cocaína, e disse:
- Mas tem que estar os dois dentro do Jipe. o meu primo concordou balançando a cabeça, o Chantilly, arregalou os olhos tentando dizer não, mas não adiantou, eles foram até o jipe e o meu primo pediu para o Chantilly sentar no banco do passageiro, meu primo deu a partida no carro, deu uma ré forte, acelerando forte o motor, fazendo ele roncar alto, o que fez com que saísse muita fumaça do escapamento, o ronco do motor era forte, o trânsito parou com o jipe atravessado na rua, ele acelerou forte e arrancou contra os degraus da entrada do bar, a escada tinha 10 degraus altos, os degraus eram mais altos que de comum, onde as pessoas acostumaram usá-los como banco e sentavam ali, as pessoas que estava ainda sentadas não acreditavam que ele iria mesmo fazer aquilo e quando viram o jipe vindo na direção delas saíram pulando e correndo para sair da frente, o Jipe bateu no primeiro degrau e balançou forte de um lado para o outro, o Chantilly deu um grito de medo, o meu primo continuou acelerando o jipe contra os degraus, fazendo muito barulho e muita fumaça e a cada degrau superado a galera vibrava e o Chantily gritava e foi assim acelerando e subindo até chegar no último degrau no alto da escada parando o carro dentro do bar, a galera foi à loucura o Chantili estava rouco de tanto gritar de medo, no final eles desceram do carro e se abraçaram e riam muito, eles olharam para o traficante que veio na direção deles e disse:
- Eu cumpro com a minha palavra. Ele apertou a mão do Chantilly deixando os dois papelotes com ele, Chantilly entregou para o meu primo que devolveu um para ele, eles continuaram no bar, bebendo cheirando, mesmo após o dono do bar fechar as portas, eles passaram a noite no bar, bebendo cheirando e fizeram isso por três noites, nessas três noites o traficante deu as drogas de graça, na quarta noite foi quando todo problema começou, o traficante falou que agora eles teriam que pagar pela droga, eles não tinham um centavo, até a gasolina do jipe era a namorada que colocava, sem nenhum centavo para pagar a droga ele resolveu vender o rádio do Jipe e assim esse foi o seu primeiro furto, um sujeito se interessou pelo rádio e com o dinheiro ele garantiu a droga da semana, depois ele mentiu para a namorada, dizendo que haviam roubado o rádio do Jipe, que ele havia deixado o carro na rua e quando voltou, havia roubado o rádio e assim conforme as semanas foram passando ele foi depenando o Jipe, vendo os acessórios do carro, guincho, faróis de milha, e a desculpa era sempre a mesma, deixei o carro na rua e quando voltei roubaram tudo e assim foi até ele vender os pneus. quando a namorada ganhou o Jipe do pai era um lindo Jipe imponente com todos os acessórios de que um carro off Road precisava para fazer uma trilha e assim quando ele vendeu e trocou os pneus grandes com roda e tudo, trocando por outros pneus finos com roda de ferro, o que deixou o jipe parecendo um carro magrelo com aparência de carro velho, a namorada sem saber o que dizer para o pai, deu um basta e se separou dele, assim sem ter de onde tirar o dinheiro para a droga, começaram outros problemas e sem ter como pagar ele pegou fiado do traficante e o Chantilly teve a ideia de começar a usar droga injetável para durar mais o efeito, e assim eles trocaram a cocaína por Heroína, usando o chamado baque, eles pegaram um papelote com o traficante de heroína e se trancaram no banheiro, o Chantilly instruindo de como ele deveria fazer.
- Primeiro a gente ferve a droga e uma colher com o isqueiro, quando ferver a gente coloca dentro da seringa e se aplica na veia, amarando o braço para as veias saltarem, aplicamos a droga e soltamos o elástico, assim a droga se espalha rapidamente.
Quantas vezes eu vi o meu primo fazer isso depois na minha frente, ou ouvir ele fazer isso trancado no banheiro da casa da minha avó, ele fazia isso e jogava a seringa na privada e dava descarga, ele fez isso tantas vezes que chegou a entupir a caixa do esgoto, quando o encanador quebrou o quintal para chegar no cano do esgoto para descobrir o que estava entupindo a saído do esgoto ele se deparou com um aglomerado de seringas descartáveis, eram dezenas, eu lembro que a minha tia pedia para o encanador usar uma pá ou algo assim para retirar as seringas, com medo de que ele se picasse e se contamina-se com alguma doença, na época, na hora e no dia eu não havia entendido por que e isso, mas isso já é outra história.
Capítulo V. Ele tomou um tiro.
Quando ele começou a usar heroína, o seu vício aumentou muito e os aparelhos eletrônicos da minha tia, começaram a sumir tudo, já quase não existia nenhuma aparelho, ele vendeu o liquidificador, rádio da cozinha, da sala e do quarto, torradeira elétrica, sanduicheira, ele já havia vendido tudo, uma coisa que ele nunca fez, foi assaltar, se fez não ficamos sabendo, não tivemos nenhuma notícia sobre isso, mas depois de não ter mais o que vender a sua dívida só aumentava com o traficante, até um dia que a sua dívida estava tão alta e alguém acima do traficante estava cobrando ele e assim o traficante foi cobrar o meu primo, depois de já ter cobrado por várias vezes, ele ameaçou o meu primo com uma arma, mas não atirou, ficou apontando e gritando, cutucando com a arma, em um desses cutucões o meu primo se irritou tomou a arma do traficante e deu um soco no traficante jogando o contra a parede derrubando o no chão, então o meu primo olhou o traficante no chão, jogou a arma em cima do traficante caído, deu de ombro e a saiu dando as costa para o traficante e saiu andando como se nada tivesse acontecido, o que foi um erro, o traficante ainda grogue e tonto, pegou a arma, se levantou cambaleando e saiu atrás do meu primo atirando, o meu primo correu por mais tonto que o traficante estava, ele acertou o meu primo no ombro, depois de vários disparos descarregando a arma, para sorte do meu primo que ainda conseguiu correr por alguns metros, conseguindo chegar em uma casa que estava com a garagem aberta de onde o dono da casa estava saindo com o carro, ele entrou gritando por socorro todo ensanguentado, no primeiro momento o dono da casa se assustou e não entendeu o que estava acontecendo, depois de entender a situação ele colocou o meu primo dentro do carro e o levou para o pronto socorro público.
Os meu tios foram notificados do ocorridos e chegaram alguns minutos depois no hospital, depois de atendido os médicos tranquilizaram o meu tio e a minha tia, dizendo que ele não corria mais risco de vida, porque a bala havia atravessado, não havia ficado alojada, o que era bom, porque não pegou nenhum órgão vital, a minha tia juntando as duas mãos e agradecendo os céus, agradeceu o médico o meu tio concordou balançando a cabeça, a minha dizia só agradecia, porque na família já havia acontecido uma fatalidade com outro sobrinho, que levou um tiro e ficou com a bala alojada muito próxima da espinha, o médico informou que o caso dele não era grave que logo iria para casa, só precisava ficar em observação e bastante descanso, porque havia perdido muito sangue.
A minha tia voltou para casa e foi pedir para a avó por parte de pai do meu primo, se ela poderia deixar ele usar um quarto que estava vago na casa da frente de onde eles moravam, porque o meu tio não queria ele de novo dentro de casa, aquele quarto na verdade não estava vazio, era usado para a prática do candomblé pela tia do meu primo por parte do pai, que era espírita e mãe de santo e ela costumava usar aquele quarto para incorporar entidades, no quarto haviam diversas estátuas de santo, velas, colares, cocares, tambores, vasos, tinha um cheiro de loja de produtos de umbanda ,tudo para a prática da religião, e assim a avó por parte de pai, concedeu o uso do quarto após consultar a filha, a tia que usava o quarto para os suas práticas espirituais, elas prepararam o quarto espiritualmente, prepararam o caminho espiritual para recebê-lo e assim tentar ajudá-lo espiritualmente.
Quando o meu primo teve alta, foi só chegar e se deitar na cama preparada para ele, todo mundo se preparou para ajudar e cuidar dele, era comida na boca, banho na cama ou com ajuda no chuveiro, remédio na hora certa, orações e mais orações, invocações de santos que conversavam muito com ele, dava conselhos, era sempre a Pomba Gira que se manifestava, mas também apareciam , Preto Veio, sete flechas, Marinheiro, São Cosme e Damião, Exu, Capa preta, entre outros, todos se manifestaram usando como cavalo o corpo da tia do meu primo por parte de pai, velas ficaram acesas, o que deixava o quarto com um cheiro peculiar e assim se passaram vários dias depois do susto, parecia que dessa vez o meu primo iria largar das drogas, já estava há algumas semanas sem usar, com a ajuda de todos os santos literalmente, quando ele melhorou e começou a receber visitas, e teve em especial, a visita do Chantilly, visita essa que pôs tudo a perder, o meu primo já foi falando para ele que estava louco para usar algo, que ele não aguentava mais, estavam todos vigiando ele e também não tinha dinheiro e o agravante que o traficante queria mata-lo, se não pagasse o que devia, o chantilly Balançou a cabeça e falou.
- Foi um homem alto loiro, lá no bar e pagou a sua dívida, o traficante aceitou, fazendo um acordo desde que você não o entregasse a polícia e assim ficou tudo certo.
- Pagaram a minha dívida? Exclamou o meu primo, já planejando fazer outras dívidas indevidas.
- Sim.
- Como era esse sujeito? perguntou o meu primo, mas sabia de quem se tratava.
- Ele era como falei, alto loiro, boa pinta e parecia ser cheio do dinheiro, chegou com um carro do ano.
- Acho que é o meu cunhado.
- Eu não sei, faz tempo que não falo com a sua irmã, depois de tudo que fizemos, das drogas etc., ela não fala mais comigo.
- É pela descrição é ele sim, mas o mais importante é que ele pagou a minha dívida.
- E agora? Pergunta o Chantilly esfregando as mãos.
- Não sei, eu não posso sair, mas você pode, não quer ir lá pegar algo para nós?
- Com que dinheiro? perguntou o Chantilly esfregando um dedo no outro, fazendo sinal de dinheiro.
- Espera um pouco.
O meu primo se levantou, foi até a cozinha, mas antes olhou se não havia ninguém, se não tinha ninguém olhando, abriu o armário procurou pela carteira da avó, não a encontrou, mas encontrou um dinheiro escondido dentro das tigelas de vidro, ele pegou o dinheiro e voltou para o quarto.
- Toma vai lá buscar para nós, pega uma nota de um Barão, compra o papelote e depois passa na farmácia e compra seringa e a borracha para o braço.
O Chantilly consentiu com a cabeça e saiu às pressas, retornando depois de algumas horas, quando ele retornou o meu primo reclamou.
- Que demora, já estava preocupado, estou salivando e ansioso pela essa dose, vai preparar logo.
- Ok. disse o Chantilly fazendo sinal de positivo, e foi até a cozinha pegou uma colher, retornou para o quarto, acendeu uma vela vermelha e preta dos santos para usar como fogo para cozinhar a droga, ele se aplicou e passou para o meu primo a mesma seringa, o meu primo se aplicou e relaxou na cama, o chantilly deitou do seu lado e os dois ficaram curtindo o efeito da droga, os dois ficaram calados, por alguns minutos, curtindo com um olhar de nada em direção do teto até a brisa da droga passar.
Após passar o efeito da droga, o Chantilly começou a reparar no quarto.
- Nossa, quantas estátuas e colares, velas, vasos.
- É da minha tia, ela é mãe de santo. falou o meu primo coçando a cabeça como alguém que acabara de fazer alguma coisa errada.
- Sinistro! Como você consegue dormir aqui?
- Eu ando tanto a base de remédio para a dor que desmaio e nem reparo , mas estou acostumado, convivo com tudo isso desde criança, foi tudo isso que me ajudou a ficar sóbrio todos esses dias, eu sou mesmo um desgraçado, olha o que fiz, depois de todo mundo ter me ajudado, eu os decepcionei novamente, quando eles descobrirem, será o meu fim, coitada da minha mãe, ela me pediu tanto, e na primeira oportunidade já pisei na bola, eu devia de ter morrido assim dava sossego para todo mundo. meu primo disse isso e começou a chorar.
O Chantilly se aproximou e o abraçou para consolá-lo, o meu primo correspondeu o abraço.
O meu primo olhou para o Chantilly que estava olhando para ele de uma forma estranha, um olhar de olhos brilhantes, sem piscar, ele achou aquilo estranho, nunca tinha percebido o amigo com aquelas atitudes, daquele jeito como se quisesse…
O Chantilly tentou beijar o meu primo.
- O que você está fazendo? Ficou doido!!! Você é veado?
- Sim, eu sou, a sua irmã nunca te contou nada? Ela sempre soube que sou Gay.
- Você é Gay? Putz!! eu devia de estar muito louco, usei muita droga para não perceber, mas eu acho melhor você ir embora agora, só não vou te socar, porque ainda estou me recuperando, vai embora!!
Essa foi a última vez que o meu primo viu o Chantilly “vivo”.
Capítulo VI. Ajuda espiritual.
Na manhã seguinte a mãe do meu primo, levou café da manhã para ele na cama, o leite com achocolatado batido, que ele tanto adorava, uma xícara de café e um misto quente e ovos mexidos, o cheiro do quarto se misturava com o cheiro de café e essências de candomblé.
- Toma meu Nenezão, a mamãe trouxe o seu café da manhã. O apelido do meu primo era Nenê, porque a minha tia o chamava assim, mesmo ele já adulto e a minha prima o chamava do mesmo jeito, na rua, na escola e assim levando esse apelido para a vida.
A minha tia se senta na cama ao seu lado e pergunta.
- Como você está? mas antes que ele respondesse, se ouve um grito da cozinha.
- Cadê o meu dinheiro? Eu não estou achando, eu não o acho, aposto que foi o Nenê que pegou. gritava a Avó por parte de pai.
A mãe dele ainda no quarto olhou nos olhos dele, bem dentro dos olhos com uma fúria vontade de dar uns tapas nele, mas ele não teve coragem de encarar a mãe, assim ela entendeu tudo e a sua cara de decepção foi instantânea, da alegria de mimar o filho a decepção de ser enganada mais uma vez. A avó entrou no quarto questionando sobre o dinheiro, mas ele negava de pé junto que não tinha pegado dinheiro nenhum, mas neste momento a mãe dele se tornou cúmplice, no mesmo momento que a tia por parte de pai chegava para visitá-lo cheia de ideais e boas intenções.
- O que está acontecendo? perguntou ela sem entender o que estava acontecendo, mas já suspeitando dos velhos e atuais hábitos de desaparecer as coisas.
- O dinheiro que eu havia guardado para a ceia de Natal, sumiu.
- Não Sogra a senhora deve de ter colocado em e outro lugar, o Nenê não foi, ele não saiu desse quarto, eu vou ajudá-la a encontrar, quanto que tinha, qual era o valor?
- Acho que eram Cr$100,00.
- Deixa ver se eu acho. no desespero a minha tia sai do quarto deixando a avó e a tia por parte de pai, no quarto, sai discretamente pela porto dos fundos, abrindo a porta de tela com proteção para mosquito com cuidado para não fazer barulho, mas a mola da porta dá uma rangida, ela encolhe os ombros e fecha os olhos ficando estática e espera alguns segundos, para ver se ninguém aparecia, ela observa que ninguém percebeu e vai até a sua casa, dá um pulo superando os três degraus da escada para chegar mais rápido na porta da sua casa que ficava na edícula dos fundos, quase porta com porta, abre a porta da sua casa bruscamente, pega a bolsa virando ela de ponta cabeça jogando tudo que havia dentro dela em cima da mesa e pega o dinheiro que cai na mesa, volta correndo para a casa da frente, abrindo a porta de tela bruscamente que range e demora para fechar, ela se assusta porque esqueceu que não podia fazer barulho e finge que estava procurando pelo dinheiro, abrindo as portas do armário.
- Quanto que era mesmo?
- CR$100,00, grita a Sogra.
A minha tia conta o dinheiro rapidamente, separa uma nota de cinquenta e cinco notas de dez e grita.
- Achei!! Está aqui. grita ela fechando a porta do armário e assusta com a cunhada que já estava ao seu lado.
- Onde você achou? pergunta a Sogra atrás da cunhada.
- Aqui no armário. respondeu a minha tia.
- Sim, mas que lugar? perguntou a Sogra.
- Aqui embaixo dos pratos, respondeu a minha tia.
- Mas eu olhei tudo aí e não achei, mas eu acho que não achei porque estava procurando um volume maior, pensei que eram dez notas de dez e não uma de cinquenta e cinco de dez.
A minha tia titubeia por alguns segundos, procurando por uma desculpa, olha para a mesa onde havia rabanadas em uma tigela e diz.
- Nossa eu adoro a Rabanada que a senhora faz, estava com saudade. Ela pega uma rabanada e enfia inteira na boca. Deixando-a de boca cheia, que saia um som abafado quando falava, que quase não deu para entender.
- A senhora deve ter se enganado, por isso não encontrava, nossa! A senhora precisa me dar a receita dessa Rabanada, hum! Que delícia!
A cunhada, vendo o que estava acontecendo e observando tudo, entendeu o que tinha acontecido, no mesmo momento que a porta da cozinha de tela verde contra mosquitos, estalou, e assim terminando de se fechar, devido à pressão da mola da porta.
- Eu vim aqui hoje porque tive uma ideia, estava pensando que podíamos fazer a cabeça do Nenê
- Fazer a cabeça? perguntou a avó tentando entender.
- Hum, hum, hum, hum. A minha tia, ainda de boca cheia, estava tentando emitir um som querendo entender o que era.
- Sim, fazer a cabeça no candomblé é: prepará-lo para ser um cavalo e estar preparado para receber entidades.
- Mas dá para ensinar isso? Não tem que ter um dom? perguntou a minha tia terminando de engolir a rabanada em uma engolida seca, tentando limpar a garganta.
- Sim e não. respondeu a Cunhada.
- Sim é possível ensinar, mas pode dar algo errado se a pessoa não tiver realmente o dom.
- Mas isso não é perigoso? perguntou a minha tia.
- Perigoso porque, o que pode acontecer é ele receber um santo do mal, com más intenções, que queira se aproveitar da situação e do cavalo, para prazeres carnais, como sexuais, vícios em jogos, cigarro, bebidas e drogas etc. assim que ela terminou de falar e mal acabou a frase, começou a gritar e rodar colocando a mão direita na testa e a esquerda na costa, de repente parou e disse: Eu sou mulher de sete maridos e comigo ninguém pode.
A minha tia ficou encarando-a e a Sogra disse.
- Laroyê. saudou a Sogra e disse.
- É a Pombagira, vou buscar o champanhe e o charuto.
A Pombagira ficou parada, se balançando para frente e para trás com as duas mãos nas costa, e de vez em quando batia no peito com a mão fechada, a sogra retornou com uma taça de Champanhe e o charuto e entregou para ela, colocou colares e uma saia rodada nela, passou batom e colocou um brinco enorme, a Pombagira deu uma tragada e o cheiro do charuto dominou o quarto, se misturando com o cheiro das essências de candomblé e do café, a Pombagira deu uma tragada no charuto e um gole no Champanhe deu gritou bateu no peito, deu mais uma tragada forte e falou.
- Donde está o rapaz que precisa da ajuda da Pombagira, mulher de sete maridos? falou ela com um sotaque Cigano africano.
A mãe do meu primo apontou para a cama, enquanto a avó corria para sair do quarto e deixá-los à vontade, ela vai na direção da cama faz sinal para que o meu primo se levantasse, cumprimenta ele batendo o ombro direito no esquerdo dele e depois o esquerdo no direito dele várias vezes soltando gritos que pareciam indígenas, quando iam caçar, dá uma baforada no charuto e solta a fumaça pelo corpo do meu primo, dos pés à cabeça, ela se curva bate no peito se levanta e diz:
- Ocê que está precisando largar este vício de fumar droga? diz ela olhando para ele e depois olhando para a mãe e avó.
O meu primo só balançou a cabeça dizendo que sim.
- Então está bom, Pombagira vai te ajudar, primeiro você coloca este colar com as minhas cores em torno do corpo para sempre ter a minha proteção. falou ela o ajudando a colocar o colar preto, dourado e vermelho pelo pescoço e por baixo do braço, cruzando o corpo e forma de proteção fechando o seu corpo.
- Pronto agora vamos começar a senhora pode se retirar e nos deixar sozinhos para trabalhar. a minha tia se retira do quarto e avó estava do lado de fora do quarto curiosa, e fez sinal como se perguntando o que estava acontecendo, a minha tia só balançou a cabeça como que não sabia o que dizer.
A cunhada, ou melhor agora representada pela Pombagira ficou sozinha com o sobrinho, do lado de fora só se escutava a pomba gira falar e falar sem parar, as vezes subia um cheiro mais forte da fumaça do charuto e outras vezes se ouviam gritos de igual que os indígenas fazem quando estão se preparando para a guerra, a voz da Cunhada havia mudado, agora era a voz de um homem.
- É o Sete flechas. Disse a sogra para a minha tia para ela com o ouvido colado na porta, ela abriu a porta e já sabia o que fazer, colocou vários colares coloridos no pescoço da filha agora incorporado pelo Sete Flechas, retirou a saia e os brincos se não a entidade ficava brava, colocou um cocar nele e acendeu várias velas coloridas, preparou uma poção com a bebida e o charuto, mais umas ervas e entregou para a entidade, que deu um gole e assoprou pelo quarto e pelo corpo do meu primo, da cabeça aos pés, de cima a baixo, no peito, na barriga, nas pernas, deu uma tragada no charuto e várias baforadas na rosto do meu primo, que fechou os olhos e franziu a cara para se proteger da baforada do charuto, o Sete flechas preferia cachaça em vez de Champanhe, a Avó entregou para ele um copo de cachaça, ele ou ela deu um gole fez bochecho e cuspiu no meu primo fazendo um spray de cachaça no corpo dele e gritou em uma língua incompreensível. E novamente a voz mudou, agora era uma voz calma de um senhor que falava baixinho.
- É o Preto Veio. afirmou a Sogra olhando para a minha tia que assistia todo aquele ritual do lado de fora do quarto pela porta aberta agora.
A Sogra tirou os colares coloridos e colocou um preto e branco, colocou um chapéu na cabeça da filha, deu uma bengala, acendeu um cachimbo e colocou uma cadeira perto do neto, para que o preto Veio pudesse se sentar.
Não se conseguia escutar o que ele dizia, ele falava muito baixinho, mas dava para perceber que eram conselhos, porque o meu primo só balançava a cabeça, de repente o preto veio parar de falar, se levantou e deu grito.
- Eu sou mulher de sete maridos e comigo ninguém pode, ela pegou a taça de champanhe e a Mãe lhe deu o charuto, deu uma golada e uma tragada se virou para o sobrinho e disse.
- Vós suncê vai preparar este cavalo, ele vai galopar e se armar desses vícios. falou ela girando e cantando uma canção que parecia Cigana ou Africana. Dito isso ela parou na porta do quarto e ficou balançando para frente e para trás, com os olhos fechados, ficou parada em frente à minha tia, balançando para frente e para trás, de um lado para o outro e de repente abriu os olhos e perguntou.
- O que aconteceu?
A minha tia ia começar a falar, mas a sogra lhe tomou a frente e explicou o que tinha acontecido, que haviam se manifestado as entidades Pombagira, Sete flechas e o Preto Veio e o que eles fizeram. A Cunhada olhando a mãe explicar o que tinha acontecido, aparentava estar muito cansada e zonza pela bebida que as entidades consumiram
- Mas deu certo? perguntou a cunhada para a mãe.
- Não sabemos vamos ter que esperar. disse a Avó no momento que a porta da cozinha se abriu, era o pai do meu primo que entrou deu um beijo na mãe, na esposa e na irmã e falou.
- Eu consegui um lugar para internar o Nenê, um amigo do serviço que conseguiu na verdade, é uma casa de recuperação para dependentes químicos, que fica no Riacho Grande, no meio da mata e no meio do nada, bem longe da cidade.
Todos ficaram em silêncio só ouvindo o que o pai dizia e explicando como funcionava.
Capítulo VII. Laranja, açúcar, gelo e Desodorante.
Uma semana depois o meu primo entrava por um portão de ferro, que parecia a entrada de uma cadeia, a mãe e o pai o assistiam de longe encostados no carro, na Belina vermelha, ele entrando e sumir dentro da instituição até perdê-lo de vista, ele entrou por um corredor comprido e gelado que cheirava a mato, tinha um ar puro e gelado devido à proximidade da Serra do Mar, onde haviam vários janelões através do corredor de onde ele pode observar o seu pai abraçar a sua mãe que chorava e depois abrir a porta da Belina vermelha para ela, entrar no carro e partir, ele sentiu um frio na espinha, medo e uma vontade de chorar, mas não demonstrou nenhuma fraqueza para a pessoa que se aproximou e se identificou.
- Bom dia eu me chamo José, eu sou responsável pelos candidatos a se curarem do veneno que destrói vidas, nós vamos te ajudar a se livrar dessa maldição, olha para você rapaz, um jovem bonito que tem toda a vida pela frente ainda, não pode desperdiçar a vida assim, por causa desse vício.
O meu primo só balançava a cabeça e não falava nada, só concordava com a cabeça.
O Senhor José o levou até um quarto, colocou a sua mala sobre a cama e avisou.
- Aqui nós temos regras, que precisam ser obedecidas para poder dar certo, esse é o nosso objetivo, o respeito é a primeira das regras, respeitar para ser respeitado, a confiança também é uma regra, quando se perde a confiança, se perde o tudo, por isso não nos faça perder a confiança em você, é ela que vai trazer esperança, dignidade e cura, se perder isso, tudo está perdido e voltamos à estaca zero.
O meu primo só balançava a cabeça.
E assim ele se adaptou ao local ou pelo menos tentou, os dias foram se passando na instituição, nos primeiros dias ele resistiu bem, mas logo teve uma recaída, se contorcia a noite por não conseguir dormir, por falta da droga, era o vício querendo falar mais alto, teve febre, crises de vômito, calafrios e dormia de cócoras no chão segurando os joelhos junto ao corpo na tentativa de aliviar aquela dor, foi uma fase difícil para superar a abstinência, passando essa fase, parecia que tudo iria dar certo, começou a trabalhar na horta, depois na cozinha, fez amizades com outros pacientes, jogavam bola, praticavam atividades físicas e artística, rezavam em uma pequena capela que ali havia, aos domingos um padre vinha administrar uma missa para eles, preparavam a própria comida e justamente na cozinha foi onde ele aprendeu a ludibriar a vontade de tomar alguma coisa que o tirasse da sobriedade, ele conheceu o cozinheiro chefe, um viciado também que estava tentando se curar, ele tinha uma cara de poucos amigos, não era muito de falar, calado, mas quando falava se notava um hálito etílico perfumado.
o meu primo percebeu que tinha algo estranho ele pensava o que poderia ser aquele cheiro? O hálito do rapaz cheirava a desodorante, mas ele fedia a suor, estava parecendo um francês, pensou o meu primo.
O cozinheiro lhe passou as tarefas diárias e assim eles foram se envolvendo e aprendendo tudo o que lhe passava as coisas boas e as coisas ruins, e foi assim que o meu primo descobriu porque o cozinheiro tinha o hálito cheiroso, o Cozinheiro o ensinou a preparar uma bebida com desodorante líquido, esses do tipo Rexona, que tem grande parte formada por álcool, o cozinheiro pegou duas laranjas e as espremeu em uma caneca, depois tirou debaixo da bancada um tubo de desodorante, tirou o bico dosador e derramou todo o líquido dentro da caneca, jogou o tubo vazio no forno a lenha para que ninguém percebesse, o que deixava um cheiro de plástico queimado e o cozinheiro dizia que tinha esquecido de tirar a embalagem de plástico da carne ou do que quer que fosse, quando alguém percebia, então ele colocava açúcar e gelo na caneca mexia e bebia normalmente como se estivesse bebendo uma laranjada, ele serviu ao meu primo que recusou balançando a cabeça dizendo que não iria beber aquilo, o cozinheiro deu de ombros e deu um gole e novamente dizendo.
- Experimenta!
Então ele pegou o copo, levou até a boca e deu uma golada, ameaçou cuspir, o cozinheiro o repreendeu e o fez engolir, ele fez uma careta após engolir e devolveu o copo para o cozinheiro.
- Gostou? Perguntou o cozinheiro.
- Não, é horrível, como você consegue beber isso? Respondeu o meu primo.
- OK, vou colocar mais gelo, costumava ficar mais suave e mentolado. O cozinheiro pegou uma forma de gelo, tirou algumas pedras de gelo e colocou na caneca acrescentado algumas folhas de hortelã.
O meu primo bebeu e continuou achando ruim, balançando a cabeça e respondeu.
- Está menos ruim, um pouco melhor, mas é estranho o perfume agarrar na garganta é horrível parece que estou bebendo álcool puro, desce queimando, parece pimenta.
O cozinheiro dava risada e o meu primo também, já sentia o efeito do álcool agindo no seu organismo e disse.
- Pelo menos dá uma brisa, vale a pena pelo resultado e agora eu entendi, porque você tem esse hálito perfumado e esse cheiro de Cecê, até parece um cozinheiro francês, só não levanta o braço senão você mata um. disse ele bebendo e rindo.
- Hi-Fi de desodorante, você se acostuma, quer que coloque um guarda-chuvinha para decorar o copo missie? Disse o cozinheiro rindo imitando um sotaque francês.
- Faltou uma porção de camarão para acompanhar. Disse o meu primo já bêbado de desodorante rindo.
- Chiou! se não vão nos descobrir, não dê pala, age naturalmente! Pede o cozinheiro com o dedo na boca fazendo sinal de silêncio e rindo por cima.
E assim foram se passando os dias, sempre que chegava à compra com desodorante era uma festa, e as pessoas pensavam se gasta tanto desodorante mas o cozinheiro continua fedendo a suor e agora o meu primo também, hálito perfumado com o Suvaco fedido, mas isso não ajudou o meu primo em nada, só piorava as coisas, aquilo só estava fazendo ele querer algo mais forte e regredir, e assim ele começou a querer fugir dali, mas sempre lembrava o pai falando.
- Nesse lugar eles só te aceitam uma vez, eles tem um lema, Respeito e confiança, se perder um desses não tem cura, por isso anda na linha até você se curar, caso você queira sair antes ou fugir eles não te aceitam mais, dá você como um caso perdido sem solução, o método deles só funciona uma vez, quem não aceita essa primeira fase , não pode chegar a segunda fase, o fim dessa pessoa é caixão e vela preta.
Ele só pensava no que o pai havia dito e isso não saia da sua cabeça e era a única coisa que o segurava ali, mas ele não resistiu e em uma noite enquanto todos dormiam, ele saiu pela janela, subiu em uma árvore que dava acesso a rua, se pendurou e pulou o muro para fora da instituição, estava uma escuridão no meio da serra e daquele matagal, mas ele fugiu assim mesmo, até sem sabe para que lado ir.
Na manhã seguinte ele entra pela porta da cozinha da casa da sua mãe, que estava cozinhando.
- Que cheiro bom! diz o meu primo para a minha tia que se assusta e deixa cair a panela que estava na sua mão derrubando todo o molho no chão.
- O que você está fazendo aqui?
- Eu fugi mãe, não aguentava mais.
- Não, você não pode ter feito isso, você tinha que ter ficado lá até se curar totalmente, você tem que voltar.
- Eles não aceitam mais quando a gente foge.
- Como você fugiu daquele lugar?
- Eu esperei todo mundo dormir, pulei o muro por uma árvore e depois andei por uma estrada de terra por alguns quilômetros, até chegar na Rodovia onde havia alguns ônibus dos torcedores do Corinthians parados, eles estavam voltando do jogo de Santos e se envolveram em uma briga de torcedores, estava muita correria eu aproveitei entrei no ônibus e fiquei quietinho lá até o ônibus começar a andar, o ônibus parou em Santana e eu vim a pé de lá até aqui. A mãe estava incrédula olhando para ele sem acreditar que era ele que estava ali, que aquilo não era uma miragem, a única coisa que trazia a realidade era o cheiro que exalava dele.
- Pelo cheiro que você está inalando eu acredito, parece que não toma banho a um mês.
- Essa é outra história.
- O seu pai vai ficar uma fera e agora o que vamos fazer?
Ele olha para a mãe, pega uma banana na fruteira e sai comendo indo para a rua e só voltando tarde da noite, bêbado e drogado.
A sua mãe ainda não havia contado para o marido o que havia acontecido e assim que ele atravessa a porta, naquele estado o seu pai dá um grito.
- Você fugiu? Eu não acredito, foi difícil conseguir uma vaga para você e você me apronta mais uma dessa, ah! não, quer saber, aqui você não fica, pode juntar as suas coisas e ir embora, aqui você não fica, já tinha te dado uma segunda chance, mas agora chega, vai embora daqui!
A mãe ainda tentou dialogar com o pai que estava irredutível e ele voltou para ela e gritou.
- Se você quiser pode ir junto também!
E assim voltamos aonde havia começado o meu pesadelo, como já havia contado, a minha tia sem ter para onde ir, foi morar com o meu primo na casa da minha avó, onde ela dormia no quarto da minha avó e eu e meu pai no quarto da frente o meu primo na sala, no sofá, onde ele tinha total liberdade para fazer o que ele bem entendesse, entrar e sair a hora que quisesse, usar droga, beber, furtar etc.
- Hi-Fi de desodorante, credo! Imagina o gosto que horrível. disse a minha esposa fazendo uma careta, após escutar a história escondida, incrédula da bebida desodorante.
- Ah! Estava escutando a história escondida, eu contando aqui para os queridos leitores, que são uma companhia muito agradável, estava um silêncio muito bom, todos concentrados na história, sem certas pessoas interromper com opiniões precipitadas, agora acabou o silêncio.
- Pronto porque fui me manifestar, me descobriu, agora aguenta. Disse a minha esposa com cara de arrependida.
- Mas você entendeu agora pelo menos meu amor, que as coisas não são tão fáceis como você imaginou e isso é só o começo, tenho histórias muito mais chocantes para te contar.
- Tá, tá, já entendi, mas tomar tiro foi merecido, devia ter morrido, assim, não dava trabalho para ninguém, tentaram de tudo para ajudá-lo, até espiritismo ou macumba sei lá o que é.
- Mesa branca, Candomblé, disse eu rindo dela.
- Que seja, até no Budismo, e mesmo assim ele fez o que fez e você acha que isso não é motivo para matar ele? - Se a irmã o matou, até que demorou, eu já tinha matado ele a muito tempo, acabou com o casamento dos pais dela e com a vida de todo mundo que o rodeava. Eu não duvido da minha esposa, até fiquei com medo do que ela acabou de dizer agora.
- Sim, eu acredito que ela não fez isso, tomara que não, mas quem que sabe?
- Na verdade a irmã estava saturada de todos tentarem ajudar, tinham paciência, e diálogos noturnos, eram vários diálogos, o meu primo gostava da noite, ele era Boêmio era como um gato, dormia de dia e era ativo a noite em todos os sentidos, longas conversas regadas a bebidas e cigarros, ele não era de comer muito, ele até dizia que havia visto uma pesquisa de quem comia demais tinha mais probabilidade de morrer mais cedo e quem comia pouco viveria mais, eu lembro dele dizendo isso, estranho, nessa época era o que mantinha o seu corpo em forma , ele era magro, mas não esquelético, mesmo usando tanta droga como ele usava, para a sua altura, ele até que tinha um corpo ideal, alto e não tão magro, algumas pessoas até o apelidaram de Magrão, mas em um futuro esse apelido poderia ter sido Gordão antes de falecer.
Nas primeiras noites na casa da minha avó, onde agora era a sua casa, estava tudo indo muito bem, dentro dos conformes, a paz estava instaurada, o meu primo estava tentando resistir ao vício, então quando ele se sentia na paranoia, tínhamos vários diálogos longos, eram diálogos noturnos como falei, as vezes saiamos a noite para passear e espairecer, em uma dessas noites nós fomos juntos , para uma danceteria, ele não tinha mais o que vestir, só alguns trapos, ele havia vendido quase toda a sua roupa, então eu emprestei um tênis e uma blusa para ele e falei.
Cinco “V” em.
- O que é cinco V? perguntou a minha esposa com cara de ué e gesticulando os braços.
- Vai e volta viu veado.
- Mas aí só tem 4 V.
- Vagabundo. Disse eu rindo.
- Ah, sua besta e eu ainda caio nessa.
- Mas você riu, eu vi, o meu primo também deu muita risada ele fez a mesma pergunta que você na época.
- Voltando para o que eu estava contando, então eu emprestei o meu tênis e a blusa ele calçou o tênis e vestiu a blusa, eu ainda avisei , cuidado com esse tênis, eu paguei uma nota dele e não foi fácil achar, é um modelo exclusivo, comprei ele em uma galeria lá no centro de São Paulo e essa blusa também , não foi barato, custou quase meio salário mínimo, depois de pedir cuidado com as minhas coisas, saímos, andamos até o ponto de ônibus na direção de Santana, dentro do ônibus estava lotado, era sábado de carnaval e as pessoas estavam indo para o Sambódromo, se esprememos para passar e acabamos sentando na tampa do motor do ônibus, meu primo me olhou e me abraçou, sorriu e disse.
- É nessas horas que o Jipe faz falta.
Eu olhei para ele e dei de ombros, não quis dizer nada, mas a minha vontade era dizer, também você depenou o carro, só sobrou a carroceria e o pneu magrelo, pensei com os meus botões e disse.
- E aquele Fusca Baja que tinha a pintura personalizada da bandeira do Brasil?
Meu primo me olhou pensando e eu ainda dei mais detalhes de como era o carro.
- Era um fusca transformado em Baja, tinha os pneus para barro, todo transformado, mas a pintura da bandeira do Brasil era o máximo, o círculo da bandeira ficava no meio do teto, o losango amarelo descia pelas laterais e a parte de baixo a frente ea traseira eram verde formando o resto da bandeira, esse carro era seu e do seu amigo Paulão, você montaram juntos antes de você se envolver com as drogas pesadas , porque maconha vocês usavam como água , dentro do carro já cheirava maconha estava impregnado com o cheiro da erva e da fumaça, você fumavam tanto dentro dele, que parecia que a mata da bandeira estava pegando fogo, a parte verde parecia estar em chamas, de tanta fumaça que saia de dentro do carro, parecia a Amazônia pegando fogo, tinha tanta fumaça que devia atrapalhar até a visibilidade para dirigir, e coitado do carro, vivia todo amassado, não saia do funileiro de tanto que vocês baterem ele dirigindo muitos loucos, a bandeira tinha que ser retocada toda hora.
Meu primo me olhou balançou a cabeça e falou.
- Está bem, eu já entendi, depois de tudo isso que você falou, que memória hein, eu vendi a minha parte para o Paulão por uma mixaria, em uma noite de loucura.
- Na verdade ele queria dizer em uma noite de paranoia e trocou por droga, não é isso? falou a minha esposa sarcástica.
- Sim foi isso, em uma noite de fissura e vontade de se drogar, não conseguindo nenhum dinheiro ele praticamente trocou o carro por droga.
- Mas me deixa terminar a história virgem marai do calcário.
A minha mulher fez uma careta de criança entortando os olhos ficando vesga e mostrando a língua, eu olhei para ela e dei risada.
Então quando eu e o meu primo chegamos no nosso destino, já na entrada o meu primo conhecia todo mundo, consegui pagar a minha entrada e a dele com desconto porque ele conhecia o cara da bilheteria e assim entramos no baile, ele cumprimentando quase que todo mundo, ficamos ali na parte debaixo da danceteria, que tinha dois ambientes , na parte de baixo era escuro, sendo iluminado só pelas luzes de efeito coloridas e pelo estrobo e pelos lasers do salão, a luz de estrondo me deixava enjoado, ficamos ali curtindo a música e de repente a música parou e do teto desceu um lustre de luzes formando uma espaçonave, girando e se abrindo ficando maior girando mais rápido fazendo um show com efeito de luzes , era luz para todo lado, de todas as cores e tamanhos, rios, estrondo, lasers, tudo ao mesmo tempo, ao som de uma batida forte misturada ou um remix de uma música clássica, o Mc da festa, pegou o microfone e gritou.
- Boa noite Vênus!
O pessoal foi à loucura e respondiam ao boa noite aos gritos, o Dj começou a fazer Scratch nas pick-ups, como um alucinado tocando pedaços de músicas de sucesso, obedecendo o pit da batida, ele trocava a música sem perder a agitação. o pessoal não parava de dançar e formavam rodas e grupos de danças de passinhos, outros que só assistiam ou dançavam sozinhos, como eu e o meu primo, mas ninguém ficava parado. ele me deu um toque no ombro apontou para cima, querendo dizer para subirmos, porque o som estava tão alto que não iria conseguir entender o que ele estava dizendo, nós fomos na direção da escada e subimos, na parte cima ficava o bar e a parte do pessoal que gostava mais de rock e clássicos da época, quando acabamos de subir já no final da escada, algumas garotas avistaram o meu primo e vieram na nossa direção gritando.
- Nenê, Nenê, ela o abraçou e o beijou e eu só de lado olhando, uma delas ofereceu um copo de cerveja para o meu primo, que aceitou sem titubear e perguntou para ele.
- Tem alguma coisa aí? Falou ela discretamente.
Mesmo com aquele som alto deu para entender e ler os lábios dela perguntando.
- Tem... alguma... coisa... aíiiiii?
O meu primo balançou a cabeça e olhou para mim tentando disfarçar e disse.
- Não estou de boa.
A moça acompanhou o olhar dele para mim juntamente com outra garota e perguntou para ele.
- Quem é esse gatinho? Disse a moça da cerveja.
- É o meu primo.
- Nossa que família, só tem homem bonito nela. disse a moça passando a mão no meu rosto e apertando as minhas bochechas, enquanto a outra passava a mão pelos meus ombros e me abraçou.
- Ai!
- Ela fez assim na sua bochecha? pergunta a minha esposa apertando as minhas bochechas. Ciumenta.
- Modéstia à parte, mas o meu primo era bonito e consequentemente eu também era e sou, é o gene da família é a nossa hereditariedade. Não conta para ninguém mas pesquisei no Google.
A minha esposa fez fusquinha para mim, entortando os olhos e mostrando a língua e puxando uma corda imaginária dizendo que iria se enforcar.
- Na minha família somos bonitos e charmosos, o meu primo era quatro anos mais velho que eu, mas eu já estava se tornando um homem deixando de ser adolescente, puxando a beleza da família e realmente eu sou bonito, eu disse aquilo já esperando um beliscão da minha esposa, que deu de ombro.
Mas voltando a história eu também era bonito junto com o meu primo onde as garotas o rodeava ele me puxou para junto delas e dele e fiquei no meio deles, alguma me abraçando querendo me beijar.
- Calma isso faz tempo, não me belisca.
- Está bom convencido, termina logo essa história. Disse a minha esposa com cara de poucos amigos.
As garotas traziam mais bebidas, caipirinha, Whisky, cerveja.
- Vamos para o meio da pista adoro essa música, disse uma delas que segurava um copo de whisky com bastante gelo em uma mão e na outra segurava a minha mão e me arrastou junto com ela, elas formaram uma rodinha em volta da gente, o meu primo agitava,
- Dança vai, dança!
E a garota com o copo de Whisky era a mais agitada.
- Dança vai, você está muito duro, mexe esse corpo, pega dá um gole para se soltar.
- Está vendo não sou só eu que te acha duro para dançar. Disse a minha esposa rindo, aproveitando a deixa, realmente eu não era um bom dançarino.
- Eu sabia que você iria dizer isso, mas deixa eu terminar, a garota colocou o copo com Whisky na minha boca, senti um gosto forte de Malte Escocês na língua enquanto um líquido gelado descia pela minha garganta, depois de tirar o copo da minha boca, só senti uma língua quente que teve um contraste com o da bebida, procurando a minha língua e se enroscando nela, a garota estava dançando com o copo na mão por cima do meu ombro e me beijando ao mesmo tempo, aquilo foi muito bom e foi assim que comecei a gostar de whisky.
- Eu não devia de estar contando esses detalhes para você, está ficando emburrada.
- Estou nada, isso foi no passado, estou pouco me lixando. Está bom enganar outro, ela estava brava, até parece, se você visse a cara que ela está fazendo, mas está bom, pelo menos não me beliscou mais.
Capítulo VIII – Não Desista de mim.
Nesse dia o meu primo estava feliz, ele sorria e me olhava e fazia sinal de positivo para mim, dizendo silabicamente:
- Esse é o meu primo!
ficamos ali no meio da pista aproveitando, bebendo, dançando, beijando, gostamos de muito desta noite, o meu primo era conhecido, as pessoas passavam por ele e o cumprimentavam, alguns comprimentos de mão eram estranhos e demorados outros discretos, mas um deles que eu deveria ter reparado, mas não percebi um momento crucial, sempre abraçado com uma das garotas, as vezes duas, era muita intimidade, beijos e abraços entre eles. Enquanto as outras garotas me abraçavam também, uma delas brincava comigo.
- Vamos fazer igual?
E antes que ela terminasse a frase, já havia enfiado a língua dentro da minha boca, eu só fechei os olhos e curti o momento, foi uma loucura, o Dj mudou a música bem naquela hora e colocou para tocar um clássico dos Scorpions e um assobio melódico saiu dos altos falantes, nos continuamos a se beijar dançar juntos, quando a música acabou o Dj colocou uma música dos Ramones, “Surfing Bird” as outras garotas pulou no meio de nos dois nos separando e fazendo a gente dançar e pular também, e o Dj fez uma sequência de playlist punk rock, California Uber Alles do Dead Kennedys, Nellie the Elephant do Toy Dolls, a galera foi à loucura e cantavam juntos, pulavam e faziam roda de Punk se batendo uns nos outros, simulando uma dança indígena, muito legal eu queria que aquela noite não terminasse nunca, foi muito divertido, mas o tempo passa e tudo que bom se acaba.
- Vamos embora. disse o meu primo.
As garotas já estavam indo também e ainda ganhei mais um beijo de despedida, de cada uma delas, era boca de todo sabor, chiclete de hortelã, halls de cereja, gosto de cerveja, whisky, cigarro, amarga, doce e uma com um gosto químico que não soube distinguir o que era, essa garota era a mais agitada de todas, estava alucinada, agitada com um olhar inquieto, eu me lembro do meu primo gritar.
- Chega de beijo porra! - vamos logo porra! Ele estava diferente, como se algo o perturbasse ou que estava cansado porque acabou a energia, algo assim.
Eu tentava me despedir das garotas, mas elas estavam tão bêbadas, alucinadas, que voltavam para dar outro beijo e eu tentava sair, mas não conseguia, saia uma, voltava outra e dizia.
- Só mais um beijo de saideira.
A outra dizia.
- É o último, eu prometo. Dizia ela, mas não era.
Fiquei ali, estava adorando, ser água benta na saída da igreja, onde as pessoas passam a mão na água e se benzem, até o meu primo me puxar.
Uma das garotas nos deu uma carona e nos deixou perto de casa, na hora de se despedir, foi mais beijo, essa era a garota mais bonita de todas, usava um perfume maravilhoso e a sua boca tinha gosto de mistura de Halls com algo químico, eu desci do carro e dei a volta no carro e ganhei mais um beijo pela janela do carro, o meu primo me puxou e deu tchau para a garota, que antes de partir ela me olhou e disse.
- Tchau meu Anjo. e me mandou um beijo beijando a mão e assoprando, ela ligou o carro e partiu dando tchau com a mão fora da janela do carro.
- Estou apaixonado. Eu disse e o meu primo me abraçou pelo pescoço, e fiquei preso no seu Suvaco com a cabeça entre o seu peito e a sua barriga, com a cabeça virada para cima, eu olhei para cima e percebi que as narinas dele estavam brancas, com resto de cocaína, eu me desvencilhei do seu abraço e olhei nos seus olhos, que estavam vidrados, ele estava com a boca seca, o que o forçava ele colocar a língua para fora para tentar umedecer e ele me disse.
- E aí, gostou? disse ele olhando para o vazio, tentando se concentrar, mas sem esperar uma resposta direta, como se já não lembrasse mais da pergunta que fez.
Eu fiquei fitando ele, demorei para responder para ele ali parado na minha frente como um Zumbi, pensei comigo, quem foi que deu Cocaína para ele e não percebi, e parece que não foi pouco, pelo estado que ele está, misturou várias bebidas e droga, olha o estado que ele está, foi aí que juntei as coisas, lembrei da menina que tinha gosto químico na boca, que perguntou quando chegamos, se ele tinha alguma coisa, eu lembro dele falar que não, mas na hora não havia entendido a sua resposta, agora eu entendi e faz sentido o que ela disse, que na hora não consegui ler os seus lábios, que ela respondeu:
- Mas eu tenho.
Agora faz sentido, as pessoas que cumprimentavam o meu primo e que demoravam para soltar a mão estavam entregando para ele os papelotes pagos pelas meninas, por isso estava tão agrupados para disfarçar, e agora a menina do carro, tão linda mas também estava com gosto químico misturado com Halls na boca, ela deve de ter cheirado com ele no momento que me esperava enquanto as outras meninas tiraram uma casquinha comigo, eu percebi que tinha hora que ela dirigia estranho, e tinha momentos de lucidez e outras horas, parecia que estava dirigindo no céu sobre nuvens, devia de estar viajando com o efeito da droga e por isso que o beijo dela, não terminava, ela beijava gostoso como se não queria mais parar de beijar, devia estar achando que eu era um anjo do céu, e queria beijar sem parar, viajando no efeito da droga, mas que beijo gostoso que foi, espero que ela chegue em casa bem e não se envolva em nenhum acidente, pensei depois.
- Sim, adorei!
Respondi para o meu primo, que já não sabia mais do que eu estava falando, ele me olhou, fechou e abriu os olhos tentando entender o que eu estava falando, ele deu um sorriso e descemos andando a rua de casa, entramos pela porta da sala tentando não fazer barulho, porque já era bem tarde, e qualquer barulho menor que seja nesse horário parece uma orquestra sinfônica tocando, eu subi para o meu quarto e ele ficou no sofá da sala que ficava embaixo da escada sentado como um Zumbi, mas antes de eu subir ele me chamou em um momento de lucidez e me disse tirando a minha blusa e descalçando o par de tênis.
- Toma, guarda isso!
Naquele momento achei estranha aquela atitude, peguei o meu tênis e a minha blusa e subi, deixei o tênis entre a minha cama e a do meu pai, me deitei para dormir, mas o meu pai roncava e ainda estava com o rádio ligado ao lado do travesseiro, eu demorei para dormir, pensava na noite que havia acontecido e no gosto que estava na minha boca, era uma mistura de whisky, cigarro, cerveja, bala sabor de cereja e um gosto estranho que não sabia identificar na hora, mas agora eu já sabia o que era, fiquei me lembrando do que havia acontecido até adormecer.
Por volta das 05:00 horas da manhã escutei uma barulheira, barulho de porta fechando e sofá arrastando a minha tia e a minha avó gritando, pulei da cama rapidamente e desci as escadas correndo, pulando os degraus para chegar mais rápido lá embaixo e me deparei com uma cena, que se tornaria rotineira naquela época da minha vida.
O meu primo havia empurrado o sofá até a porta da entrada da sala como se quisesse bloquear a passagem de alguém, se apoiava no sofá fazendo força para impedir que alguém entrasse, a minha tia estava de pijama e tentava segurar o meu primo, pedia para ele parar, que não tinha ninguém ali, era tudo da imaginação dele, ela falava chorando e gritava.
- Por quê? Como se ela já tivesse visto isso e que iria começar tudo de novo.
A minha avó, que estava ainda de camisola cor de rosa, chorava também, sem saber o que estava acontecendo.
o Meu primo olhava para elas e pedia silêncio colocando o dedo no meio da boca.
- Chii! Eles estão aqui e vão me pegar.
- OH! estão aqui, escuta, são eles, - oh!
- Não tem ninguém aqui, para com isso, por favor! dizia a minha tia chorando.
E ele abria a parte do vidro e espiava, olhava, olhava e se passasse um carro ou alguém andando na rua, ele trancava rapidamente o vidro e dizia,
- Oh! oh! estão aqui.
E fez isso por um bom tempo.
Eu e a minha avó estávamos estáticos, observando aquela cena medonha sem entender nada e sem saber o que fazer.
De repente passa um carro na rua, o meu primo pula a poltrona rapidamente, derrubando o vaso e os objetos que estava na mesa de centro, ele corre e sobe as escadas correndo e entra dentro do guarda-roupa, podíamos escutar o barulho das madeiras dentro do guarda-roupa quebrando.
A minha avó gritava.
- Você vai quebrar todo o meu guarda-roupa. mas era em vão ele não escutava uma palavra do que ela dizia.
Eu não sabia o que fazer, só fiquei ali sem saber como ajudar ou o que atitude tomar.
A minha tia estava envergonhada, era a primeira crise de Paranóia que acontecia na casa da mãe dela, que estava tentando ajudá-los dando abrigo e suporte, naquela noite ninguém mais conseguiu dormir, era um tal de subir e descer escada, trancar e abrir porta, empurra sofá e coloca no lugar e volta a empurrar novamente na direção da porta, era a minha tia tentando acalmá-lo a minha avó sem saber o que fazer gritava.
- Para com isso menino, não tem nada aqui.
E foi assim até passar o efeito da droga, ele estava com a boca mais seca, uma gosma branca ressecada nos dois cantos da boca, ficava colocando a língua para fora e para dentro da boca e depois de conseguir acalmá-lo e ele dormir.
A minha tia se virou para mim e para a minha avó, enquanto o meu pai dormia desmaiado.
- Onde ele conseguiu dinheiro para comprar droga?
Eu lembrei que ele tinha usado no baile e mencionei com ela o que eu havia percebido e que poderia ter acontecido, e ela balançando a cabeça respondeu.
- Não foi isso, esse tipo de droga não deixa ele assim, foi algo mais forte, mas essa droga que você falou só abriu o apetite dele, fazendo com que ele quisesse mais, algo mais forte, a droga injetável. Disse a minha tia apontando para o braço dele onde havia um pequeno buraco, que ainda sangrava na veia no meio do braço na dobra do cotovelo, era possível ver resquícios de sangue seco em volta enquanto no buraco gotejava sangue.
- Vai dar uma olhada, se não está faltando nada de vocês mãe. disse a minha tia olhando para a minha avó, ela não olhou para mim com vergonha do que estava acontecendo e já sabendo que o que tinha sumido provavelmente era meu, ela disse sem me olhar.
- Você também, vai olhar as suas coisas!
Eu pensei e lembrei do tênis e subi correndo para o meu quarto, já no quarto, não encontrei o tênis, não estava mais lá, me deu uma raiva e desci com vontade de bater nele, a minha tia me pediu calma implorando e disse que me daria outro.
- Calma? a senhora sabe quanto custou esse tênis? Foi quase um salário-mínimo, parcelei em várias vezes para pagar.
- Está bem, eu te dou outro assim que receber o meu décimo terceiro.
Fiquei com tanta raiva que sai para a rua sem comer nada depois de trocar e disse.
- Não quero nem saber, eu quero outro, senão eu vou matar esse filho da puta, vou pegar a arma do meu amigo emprestado e dou um tiro nele. mas falei aquilo da boca para fora. a minha tia coitada estava apavorada e a minha avó preocupada comigo só dizia.
- Não sai assim, sem comer nada em jejum, faz mal.
E sai assim mesmo, batendo a porta, a noite quando voltei para casa, estava todo mundo apreensivo, pensando que eu iria cometer algum ato impensado.
A minha avó e a minha tia vieram na minha direção, assim que abri a porta.
- Você não está armado, está? perguntaram praticamente juntas as duas enquanto um barulho vinha do guarda-roupa do quarto da minha avó, o meu pai estava na ponta da escada segurando um pedaço de pau, com os olhos arregalados.
- O que está acontecendo? eu perguntei.
- Ele está drogado de novo. disse a minha avó.
- Como ele conseguiu mais droga?
- Não sei, olha se não está faltando mais nada seu. disse a minha tia.
- A minha blusa. subi correndo e procurei por ela, mas nada, ele havia pegado.
- Ele pegou a minha blusa que comprei com o dinheiro que vendi a minha moto.
- Vamos dar um pau nele. disse o meu pai com um pedaço de pau na mão, com muita raiva, que até gaguejava para falar.
A minha avó pedia calma, e a minha tia se desculpava e pedia para não fazer nada também, elas ficam na frente da subida da escada nós tentando impedir de subir, impedindo de tirar ele de dentro do guarda-roupa, que estalava e dava para ouvir o barulho lá de baixo.
- Deixa filho, outra hora a gente o pega. disse o meu pai colocando a mão no meu ombro.
Assim desistimos de bater nele e fomos jantar na cozinha, na cozinha percebi que havia muita comida gostosa, em cima da mesa e do fogão, a minha tia e a minha avó para me agradar fizeram várias coisas que eu gostava, eu estava faminto não havia comido nada o dia inteiro, em cima da mesa havia, pão de brioche recheado de presunto e queijo, pão de maçã, coxinha, bolo, no fogão, havia arroz de forno, panqueca, purê e suflê de batata, na geladeira tinha e uma torta de morango e uma de pêssego e no congelador um sorvete caseiro que a minha tia costumava fazer. eu não sabia por onde começar e peguei um pedaço do Brioche recheado de presunto, queijo e tomate.
- Cuidado ainda está quente acabei de fazer, demorei para fazer por causa do show do seu primo, me atrasou toda eu e a vovó, não me deixava terminar, ficava me chamando e gritando, que iriam pegar ele, eu tentei ignorar, mas tem hora que não dá. disse a minha tia, mas já era tarde, queimei a boca com o tomate quente, não sei por que, mas o tomate sempre demora para esfriar.
Assoprei com a boca cheia tentando esfriar na boca e querendo mastigar por causa da fome que estava e do sabor que instigava a engolir quente mesmo, enquanto mastigava assoprando a minha tia veio até a mim pedindo mil desculpas, que iria me devolver tudo o que o meu primo me roubou, a minha avó também veio ao meu encontro pedindo calma, mas eu estava com tanta fome, que só queria comer e balançava a cabeça concordando com elas.
- Está vendo todo mundo passava a mão na cabeça dele, se tivesse tomado uma atitude diferente. Disse a minha esposa e dessa vez eu tive que concordar com ela.
- Você tem razão, tenho que concordar com você dessa vez, fui burro e estupido, acreditando que as coisas poderiam ser diferentes, essa foi a primeira vez que ele
Roubou uma coisa minha, se eu tivesse tomado uma atitude diferente, naquela época não teria chegado aonde chegou.
- Está vendo, foi o que disse, tinha que ter dado um pau bem dado nele, mas não todo mundo só passava a mão na cabeça dele, aí se fosse comigo, eu dei uma paulada no meu pai, imagina o que não teria feito com ele se fosse comigo? Disse a minha esposa vermelha de raiva.
Capítulo IX. Diálogos Noturnos.
Algumas noites depois, cheguei em casa tarde, abri a porta de casa com cuidado para não acordar ninguém, estava tudo escuro e não acendi a luz para não acordar ninguém e nem o meu primo que deveria estar dormindo no sofá na sala, abri e fechei a porta com cuidado para não fazer nenhum barulho, andei no escuro até a escada desviando da mesa de centro e da poltrona onde o meu pai costumava se sentar para ver televisão, imaginando onde ela deveria estar, cheguei até a escada e quando fui subir o primeiro degrau e coloquei o pé no degrau, ouvi uma voz do nada.
- Boa noite!
Tomei um susto, demorei para entender, mas lembrei que o meu primo dormia no sofá embaixo da escada, eu estava tão acostumado a dormir primeiro que ele, porque ele não parava em casa sempre chegava de madrugada depois de mim nos últimos dias depois dos acontecimentos, com medo ou vergonha de me encarar, que eu pensava que ele não poderia de estar ali, mas evitava acender a luz para não fazer contato caso estivesse e infelizmente esse dia ele estava e puxou conversa, eu demorei para responder até processar tudo o que estava acontecendo e por fim respondi.
- Boa noite também.
E ele respondeu.
- Posso conversar com você só um minuto.
Assenti com a cabeça, mas a voz disse novamente.
- Posso conversar com você, é rápido, não precisa me ignorar.
Assenti com a cabeça novamente. E a voz disse mais uma vez.
- Me desculpe, só queria me desculpar, isso está me matando, preciso conversar com você, isso está acabando comigo.
Consenti com a cabeça mais uma vez e foi só aí que percebi e entendi que estava escuro e que ele não estava vendo eu consentir com a cabeça, então respondi.
- Sim, mas vamos lá na cozinha!
- Ok. ele respondeu balançando a cabeça, deu para ver no escuro ele balançando a cabeça, porque a luz que entrava pela janela iluminava ele, no momento que passava um carro na rua com o farol alto, ele estava fazendo a mesma coisa que eu havia feito, só que ele não sabia que eu tinha entendido ou visto ele balançar a cabeça no escuro. Então desci um degrau da escada e acendi a luz e fui na direção da cozinha, acendi a luz da cozinha e pedi para ele apagar a luz da sala, ele apagou a luz e veio na minha direção, ali estava ele, o rapaz que me trouxe os problemas dele, ele estava descalço, vestindo um short e estava usando uma camiseta de uma banda de rock.
- Eu conheço essa camiseta. Disse eu lembrando que havia ganho essa camiseta de uma antiga namorada e um shorts.
- Eu peguei no varal, era a única que estava seca, pensei que fosse uma minha, mas desculpa depois eu te devolvo. disse ele sem olhar nos meus olhos, ele não conseguia me encarar ou olhar para mim, ficava com a cabeça baixa com vergonha.
Também eu acho que ninguém iria querer comprar essa camiseta velha. pensei comigo.
O meu primo, tentava começar um diálogo, mas não sabia como, eu me sentei na cadeira da mesa da cozinha, o passarinho, um canário da terra que era todo amarelinho era xodó da minha avó, ele dormia na gaiola presa na parede e estava coberta com um pano, o passarinho deu um Pio, como se estivesse reclamando da luz acesa.
- Calma Tim, já apago a luz. disse eu para o passarinho que se chamava Tim.
O meu primo puxou uma cadeira também e se sentou.
- Piu. piu o passarinho mais uma vez reclamando da luz acesa.
E o meu primo meio que sem jeito começou a se desculpar e falar.
- Me desculpe por pegar o seu tênis e a sua e trocar por droga, eu vou tentar pegar de volta ou te pagar outro, a blusa está com um amigo que deixei como garantia do dinheiro, eu só deixei com ele até ter o dinheiro para pegar de volta e ter o dinheiro que peguei emprestado.
Eu só balançava a cabeça, ele conseguia ser convincente nos seus argumentos, por isso conseguia convencer as pessoas nas suas tramoias, ele era um malandro, eu só estava ouvindo, até que disse.
- Sim, eu te perdoo só quero tentar te ajudar a se livrar dessa merda. naquela época eu não podia imaginar como estava sendo ingênuo, inocente, acreditando que eu poderia ajudá-lo, acreditando que ele poderia se livrar desse vício, mas eu não era o único, a tia dele por parte de pai também tentou de tudo, a tia por parte de pai até o levou em centro de candomblé, para prepara-lo para poder incorporar entidades, fazer a cabeça como ela se referia a prepará-lo para tal procedimento, como ela já havia começado, quando ele estava morando no quarto da Avó por parte de pai, nesse dia eu fui junto, quando chegamos no terreiro de Umbanda, da rua já se ouvia tambores que tocavam com força e animação, na entrada no terreiro um cheiro de incenso com charuto dominava o ar, quase todas as pessoas ali estavam vestidas de branco, tirando a nossa família, só o meu primo e a tia dele que estavam de branco, rasparam a cabeça dele, outras entidades rodeavam ele enquanto raspavam a cabeça dele, depois o levaram para o centro do terreiro, os tambores tocaram mais alto e com mais força, entidades incorporadas nos seus cavalos, cavalo era a pessoa que a entidade usava para se manifestar através do corpo dela, eles dançavam em volta do meu primo, até que os tambores pararam bruscamente, entrou uma entidade usando uma roupa de palha que cobria todo o seu corpo e rosto, falou no ouvido de uma senhora vestida de baiana, que foi na direção do meu primo, pegou na mão dele e o levou para uma porta no canto do terreiro, enquanto isso ficamos ali parados e os tambores voltaram a tocar, depois de alguns minutos o meu primo saiu da porta, a entidade mandou chamar a minha tia, depois a minha prima, a minha avó e por último me chamou também, então lá fui eu, assim que passei pela porta ficou escuro, fiquei um pouco assustado, era um corredor comprido só iluminado por velas, logo na entrada havia algumas oferendas que estavam sendo preparadas para ser deixadas em alguma encruzilhada, despachadas em algum canto da cidade, havia algumas galinhas que ainda sangravam em um tacho ou um vasilhame de barro, mas o que mais me assustou foi uma coisa que não consegui identificar direito, parecia um pedaço de carne com um monte de espinhos ou espetos enfiados nele, isso me deixou assustado pela aparência, uma entidade vestida de branco pegou na minha mão e me levou até o fim do corredor onde estava a entidade vestida de palha, que estava sentado em um trono ao lado dele havia outra entidade, sentado em um banquinho, ele usava um chapéu e não mostrava o rosto, ele fumava um charuto e não mostrava o rosto, ficava o tempo todo de cabeça baixa, a entidade de branco me posicionou na frente das outras duas entidades, a entidade que fumava charuto deu uma baforada com a fumaça do charuto em mim, eu quase tossi, ele continuou soprando a fumaça por todo o meu corpo, falando umas palavras, que parecia ser de uma língua africana, me deu vontade de rir, mas me segurei para não rir e a entidade falou.
- O que posso fazer por vossu se?
Eu fiquei sem saber o que dizer, não esperava nada sobre isso, só achava que tinha a ver com o meu primo, pensei um pouco e disse.
- Por mim nada, mas o que eu queria era que vocês possam ajudar o meu primo a se livrar desse vício maldito.
A entidade que não olhava nos meus olhos, que ficava o tempo todo de cabeça baixa, deu uma tragada no charuto, bateu no peito deu um grito, falou umas palavras estranhas novamente e disse.
- Sei, vossu se tem um coração bom, preocupado com o outro cavalo, o outro irmão, o seu pedido está encaminhado, a entidade se levantou, deu mais baforadas com a fumaça do charuto em cima de mim, dessa vez eu tossi, ele disse mais algumas palavras estranhas, bateu no peito, a entidade vestida de palha se levantou e dançou em volta de mim, as duas entidades se juntaram e falaram.
- Pronto pode ir, que oxalá o guie.
A entidade vestida de baiana pegou na minha mão e me levou até a saída do corredor, mas antes de sair eu tropecei em uma das oferendas, justamente na que mais me assustou, o pedaço de alguma coisa cheia de espinhos, eu peguei o negócio com nojo e coloquei no vasilhame, a sorte que o vaso não quebrou, endireitei o vaso, sai pela porta rapidamente e fui de encontro da minha família, que me olhavam tentando entender o que tinha caído do outro lado.
O Tim piou mais uma vez reclamando da luz, me tirando do transe da lembrança, mas aquela conversa iria ser longa, seria mais um diálogo noturno.
A minha intenção era ajudar e não julgar, porque nunca sabemos o nosso dia de amanhã.
- Amanhã é segunda-feira. respondi para mim mesmo, rindo fazendo uma piada boba.
- E tenho que trabalhar. mas aquela noite o meu primo queria abrir o coração, colocar o seu coração na mesa, ele começou a chorar e disse que:
- Eu estava um mês sem usar nada dessa vez, acho que foi uma das vezes que fiquei mais tempo sem usar, depois que fiquei internado na clínica de recuperação, bastou eu encontrar as pessoas erradas, com um pouquinho de má influência e foi tudo por água abaixo, era um mês sabe o que é isso, sabe como foi difícil, esse um mês parecia um ano, a minha mãe me pediu para não decepcioná-la, que nós já não tínhamos mais para onde ir e que essa era a nossa última chance de superar, eu consegui por um mês, um mês.
Ele ficou repetindo várias vezes e eu não sabia o que dizer nessa hora, fiquei pensativo, mas ainda estava chateado com ele, por ter vendido o meu tênis que havia pagado caro, além do meu moletom, balancei a cabeça e disse:
- Vai dar certo, nós vamos conseguir, a esperança é a última que morre, vou tentar te ajudar, mas você vai ter que ter força de vontade, tem que ser forte.
- Força de vontade, como fui ingênuo, não sabia onde estava me enfiando, era um inocente, iludido achando que poderia acreditar na cura de um viciado em Heroína.
O meu primo me agradeceu e mais uma vez me disse.
- Eu vou pagar pelas suas coisas ou vou pegar de volta.
- Pio! Piou o passarinho mais uma vez.
- Eu lembro que você me contou que ficava até tarde conversando com aquele estrupício do seu primo, foi um pouco antes de começarmos a namorar, também lembro que aquele lazarento roubou o meu Walkman que havia te emprestado e a blusa novinha que te dei no nosso primeiro dia dos namorados, Deus que me perdoa, mas quando eu ia na casa da sua avó depois que casamos, e ele teve a overdose eu tinha vontade de fazer maldade com ele, quando o via deitado na cama hospitalar no canto da sala, até isso ele tinha sorte, tinha cama e enfermeiro e médico que o atendiam em casa uma vez por semana, isso era injusto, tantas pessoas doentes não tinham essa sorte, esse atendimento, isso é muito injusto, foi ele que procurou isso, não foi uma doença que aconteceu, é nessas horas que sou a favor de liberar as drogas, mas tem que ser assim, quer usar, usa, mas se precisar de assistência hospitalar tem que ser pago do seu bolso ou deixa morrer, não pode tirar o lugar de um pai de família que pagou impostos e que fica doente sem causar a própria doença, quer usar, que use, mas não pode tirar o lugar em um hospital de uma pessoa que não tem nada a ver com isso, era por isso que eu tinha vontade de beliscar ele, esfregar fralda suja de merda na cara dele, ou afogar ele com um travesseiro, quando eu lembro disso tudo que ele te fez eu gostaria de ter a metade do coração que você tem ou essa capacidade de perdoar que você tem, eu sei que errei com você também e você me perdoou, por isso fiz de tudo para te ajudar com o seu pai, cuidei dele como pude, o levava no médico, cuidei das feridas do pé dele, ira lá duas vezes por semana para fazer curativo, porque eu lembro quando você chegou em casa quando o seu pai estava internado e os médicos queriam amputar o pé dele, você estava branco e assustado e nós demos um jeito eu e a minha irmã nos revezávamos e fazíamos o curativo no pé podre do seu pai, você mesmo não conseguia, só de você chegar perto te dava ânsia de vomito, pois é fiz isso e muito mais, levava ele no médico, até bati o carro uma vez porque ele me deixava nervosa, como aquela vez, que ficou enjoado e abriu a porta do carro para vomitar com o carro em movimento, quase bati o carro de novo e foi aí que dei um basta e falei que não levaria mais no médico sozinha, mas o médico logo depois falou que o Alzheimer do seu pai havia piorado e não podia mais morar sozinho e assim tivemos que levá-lo para morar com a gente, foi uma barra, o problema de urina que ele tinha, era terrível, ele não queria usar fralda e enfiava tudo o que achava pela frente na cueca para tentar conter a sua incontinência urinária, era saco plástico , até caneca ele enfiou no saco e o pior era que ele não lembrava se havia comida e ficava pedindo mais comida ou reclamando e brigando comigo enquanto você estava trabalhando e quando você chegava em casa, muitas vezes encontrava eu chorando de um lado e o seu pai chorando do outro, aí quando decidimos colocar o seu pai em um asilo a família toda me crucificou como se a culpa fosse minha, ele era o seu pai e você que decidiu depois que tentamos de tudo percebemos que não tinhas capacidade para cuidar dele, porque a cada dia que passava ele piorava e precisa de um acompanhamento de profissional, mas é fácil julgar né, a sua prima um pouco antes da sua tia falecer, eu lembro que ele te ligou e perguntou como era a casa de repouso, que ela não iria cuidar do irmão, e que queria colocá-lo também porque a sua tinha já estava velhinha e não tinha mais saúde para cuidar dele. a minha esposa não entendia como eu tinha a capacidade de lidar com tudo isso, mas o que eu pensava, que tudo o que o meu primo me roubava, era só bens materiais, e que eu a perdoei por causa da nossa família e o meu pai, foi o álcool que acabou com a vida dele, ele era alcoólatra e isso destruiu a vida dele também, o seu casamento, a vida social, porque ninguém o respeitava, parecido como o meu primo fez com a dele por causa de um vício.
- Eu te perdoei no começo, por causa da nossa filha, eu não queria que ela passasse pelo mesmo que eu passei, não suportava imaginar um outro homem batendo nela ou querendo ser pai dela, ou até fazer alguma maldade com ela, como vemos no noticiário quase todo dia, eu iria matar essa pessoa na dentada e eu não conseguia ficar um dia longe dela, adorava colocar ela para dormir e contar uma história para ela, era doloroso imaginar ficar sem ela, de ser preso e ficar sem vê lá, era insuportável imaginar isso, fiz isso pela nossa família, agora você falando assim e vendo de fora, não vou dizer que é fácil julgar, mas se isso que aconteceu com o meu primo fosse com a sua família, digamos que se a sua irmã se envolvesse com droga, ou melhor que o seu pai destruiu a sua família por causa do alcoolismo, como ele quase fez, se não fosse a sua mãe segurar toda a barra, como você iria resolver isso, o que você iria fazer?
- Eu ia dar um pau nela todo dia e o meu pai iria deixar que a minha mãe resolvesse, porque se ela aceita ele ser assim, o problema é dela, eu já não aceito.
- Eu sei disso. rimos muito do sarcasmo dela.
O pior que ela estava falando a verdade a irmã iria apanhar todo dia, ou seria uma briga feia todo dia, e o pai dela ou tomava jeito ou se ferrava.
- Engraçado como o passado está tão presente, você lembrou do Walkman, um aparelho que já estava usado, surrado e velhinho, mas o pior foi o meu primeiro rádio que ele roubou, depois de uma noite de diálogos e promessas, eu fui trabalhar e não imaginei que ele iria pegar o meu rádio, aquele rádio que havia pago com o meu 13º salário e mais umas parcelas no crediário também, era aquele Micro System, com duas caixas de alto falantes acopladas, Surround da Philips, era aquele da propaganda que passava na televisão, da galera dançando na rua e onde eles pisavam na rua se acendia como se estivesse te ensinando a dançar e tocava a música do Techno Tronic, naquele dia eu cheguei em casa e subi para o meu quarto e percebi que o criado mudo estava vazio e que estava faltando alguma coisa, demorei para entender e acreditar, até a ficha cair e quando a ficha caiu, eu desci reclamando para a minha tia, coitada ela não sabia mais o que dizer, e eu disse:
- Hoje ele apanha, fiquei esperando ele aparecer, mas essa noite ele não voltou para casa, estava no hospital internado, ele havia se envolvido em uma briga na rua e tomou uma facada, foi superficial, a facada não atingiu nenhum órgão vital, mas ele teve que ficar em observação no hospital público, ele era vaso ruim de quebrar e tinha sorte, tomou tiro e facada e nenhum dos dois acertou um órgão vital, essa história me fez lembrar, do meu outro primo que que morreu, ele foi assassinado com cinco tiros e não teve a mesma sorte que ele, e o motivo foi o mesmo, por causa de droga, mas antes dele morrer, esse meu outro primo um pouco antes de morre, estava junto com outros usuários de droga em uma roda de amigos e como meu primo que era primo dele também, os meus dois primos estavam juntos usando droga, o que morreu e esse da história, e no meio deles estava um traficante pé de chinelo que queria me matar por causa de uma briga, então alguns moleques que moravam na minha rua passou perto deles esse traficante se levantou, sacou uma arma e gritou para os moleques da minha rua.
- Avisa lá o seu amigo, que isso aqui é para ele. Disse o traficante mostrando a arma e dizendo o meu nome. Eu havia tido um desentendimento com esse traficantezinho de merda e na pancada ele não aguentou e queria me pegar na trairagem, queria se vingar.
Nesse dia os meus dois primos que estavam juntos, quando ouviu o meu nome, se entre olharam e perguntaram entre eles, se era de mim que ele estava falando, o traficantezinho confirmou que era, e para azar dele os meu dois primos compraram a minha briga e foram para cismado traficante, dizendo que ele não era louco de encostar um dedo em mim e tomaram a arma do cara e descobriram que a arma não tinha bala, por sorte naquele dia, ninguém se machucou, porque se arma estivesse carregada o meu primo poderia ter tomado outro tiro, um dos meus primos, ou o que morreu poderia ter morrido nesse dia, porque os dois deram uns tapas no traficanteZinho. isso era honra de família, e já havia acontecido algo parecido, esse meu primo que morreu, uma vez arrumou uma briga com um homem bem mais velho que ele, por causa do filho do cara, o meu primo tomou uns socos do cara mais velho e o meu primo correu e foi chamar o irmão mais velho dele também, assim os dois foram até a casa do cara que bateu no meu primo, o irmão mais velho gritava para o cara sair, se fosse homem, o cara saiu armado, e como estava dizendo os meu primos são tudo loucos, aliás eram, porque quando o cara saiu armado, o irmão mais velho do meu primo que morreu, levantou a camisa até o peito e gritou:
- Eu tenho mais medo disso no chão do que na sua mão, se você é homem mesmo, vai atirar ou vou te encher de pancada? disse ele levantando a camisa e batendo no peito e gritava.
- Se você é homem, atira!
Se ouviu um estrondo, um estopim e o meu primo mais velho colocou a mão no peito e viu o sangue escorrendo, o homem atirou mesmo, mas graças a Deus ele não morreu, mas tem a bala alojada até hoje perto da espinha.
Capítulo X. Ele me defendeu.
- A sua família é tudo louca, depois você fala da minha, cambada de debiloide, retardado, pensa que tem peito de aço, acha que é mais homem que os outros, é bom para aprender, não morreu por sorte, se fosse comigo tinha atirado na cabeça, aí eu queria ver, o outro toma arma do traficante e sai andando como se estivesse no quintal da casa dele, muito otário e vacilão. O senso crítico dela está à flor da pele, acho que ela está na TPM.
Depois dessa, eu fiquei quieto observando, sem saber se continuava o que estava falando.
- Vai falar, conta o resto ou vai ficar mudo com essa cara de bocó, não gostou que eu falei da sua família? vai ficar emburrado agora? - Ah quer saber, não quero ouvir mais nada da sua boca ou da sua família, para mim chega.
- Vixxii!! cruzes, que bicho que te mordeu? Eu só ia terminar dizendo que o pior, que eles falavam que eu era louco, porque quando éramos criança, eu que era a ovelha negra da família.
- Também com uma mãe igual a sua, não virou bandido ou morreu por pouco, onde se viu uma mãe trocar o filho por homem e ainda colocar o filho em um orfanato e depois que envelhece quer cobrar carinho, amor, ah tenha santa paciência, o inferno está cheia de gente assim, a pessoa abandona o filho e depois quer que o filho lembre que ela exista, e se você tivesse morrido, igual o seu primo, aí eu queria ver ela querer cobrar alguma coisa, a sua irmã que tem que cuidar dela, afinal ela cuidou da sua irmã, agora você não foi abandonado no mundo, deixado a Deus dará, a sorte do destino, quando você me fala essa coisas, me dá uma raiva e olha que hoje eu ainda estou calma, que foi, porque está me olhando agora com essa cara de que comeu e não gostou? ela estava falando pelos cotovelos, com um ódio no olhar.
- Nada, eu não estava falando da minha vida, estava só contando uma história, você que está colocando a carroça na frente dos burros, tirando conclusões precipitadas, deixa eu terminar a história.
- Vai terminar de contar essa merda.
- Tá bom, posso?
- Vai, conta logo.
- ok, então depois do Traficantezinho de merda, eles foram me procurar, para avisar sobre o que estava acontecendo, eles foram até lá em casa e me contaram tudo, que era para eu ter cuidado, porque o cara era traiçoeiro, mas eu acreditava que o traficante não iria fazer mais nada depois de tomar um apavoro dos meu primos, mas também não era bom eu ficar vacilando, nesse mesmo dia depois que conversamos, eu saí com eles, junto com outros amigos deles, fomos em uma festa, estavam lá curtindo a festa e uns caras, os amigos do meu primo me ofereceu droga, os meus dois primos colocaram a mão no ombro do cara , que me ofereceu droga e falaram para ele que não era para oferecer droga para mim e os dois falaram para o cara.
- Ele sem droga é mais louco que a gente chapada, careta já muito louco, agora imagina cheirado ou doidão, vai acabar com essa festa. todos riram do comentário dos meus primos.
- Você acha isso engraçado? Eu teria vergonha de ser chamada de louca. Eu não queria falar nada, mas hoje ela estava insuportável.
- É! Hoje você está difícil. eu acabei falando.
- Difícil por quê? você me conheceu assim.
- Ah não vou contar mais nada, hoje não dá para conversar com você, você está insuportável.
- Insuportável é a senhora sua mãe, que coloca filho no mundo e não cria.
- Pronto, lá vem você falar da minha mãe de novo, a minha mãe não tem nada a ver com a história e você fica aí falando dela.
- Eu não estou falando mal, só estou falando a verdade.
- Que verdade? Não tem nada a ver com o que estava falando, eu ia continuar a história.
- Você não acabou?
- Não, eu ia terminar de falar que além desse dia, teve uma outra história com o meu primo, que ele resolveu para mim.
- Qual dos drogados?
- O que ficou vivo e morreu agora recentemente.
- Ah o folgado, filhinho da mamãe, que mamãe fazia tudo para ele, diferente da tua, que mesmo nessa situação não abandonou ele ou trocou ele por outro homem.
Fiquei em silêncio.
- Que foi, não vai terminar a história? Vai terminar, prometo que não dou nem mais um pio e nem vou comentar ou dar a minha opinião.
- Duvido.
- Do ouvido sai cera. falando ela tentando fazer graça.
Fiquei parado olhando para ela.
- Que foi? perguntou ela
- O mosquito engoliu um boi. Respondi para ela que riu.
- Vai termina a história?
- Então, mesmo depois de adolescente, não parei de soltar pipa eu sempre gostei e gosto até hoje em dia.
- Não tem vergonha, um marmanjo desse tamanho soltando pipa.
Eu só olhei para ela.
- Está bem, fico calada.
- Eu gosto, é relaxante, gosto de sentir o vento e dominar a pipa, eu sinto uma sensação de liberdade.
- Uma sensação de falta do que fazer.
- Ué não era você que disse que não iria dar mais a sua opinião.
- Mas não é verdade, um bando de marmanjo, olhando para o céu e correndo atrás de pipa que nem uns tontos, igual quando vai jogar bola, um bando de idiotas correndo atrás de uma bola, coisa mais estúpida.
Fiquei em silêncio novamente, só observando.
- Ok, não vou te interromper mais, termina essa droga da história. ela fala isso e se engasgou do nada.
- Dei um tapa nas costas dela na maldade, aproveitando a oportunidade.
Ela desengasgou e brigou comigo.
- Precisava bater tão forte, você exagerou.
- Mas você desengasgou, ou você queria que eu te deixasse morrer igual o meu primo, putz perdi a oportunidade.
- Sem graça, vai! depois ia ficar aí chorando pelos cantos e o arrependimento bater em você, não ia adiantar depois.
- Tá bom, estava brincando, como eu estava falando, eu gostava de empinar pipa.
- Xiiii! Eu falei para ela colocando o dedo na boca em sinal de silêncio, porque ela ia tirar sarro com sarcasmo.
- Que foi? eu não ia falar nada, só bocejei. disse ela fazendo careta.
- Então, onde eu estava, ah tá, estava empinando uma pipa um dia e a minha pipa caiu em cima de uma casa, eu subi na casa para pegar e quando eu estava lá pegando a pipa, eu vi uma bicicleta novinha escondida no telhado, logo deduzi que aquela bicicleta era roubada, eu sabia de onde tinha sido roubada, de uma casa de alguns quarteirões atrás, que havia sido arrombada a alguns dias atrás, eu passei pelo local e vi a polícia e uma criança chorando que haviam roubado até a bicicleta dele, logo deduzi e juntei tudo e quando eu desci, contei para o meu amigo que tinha o apelido de Sapo, ele era sangue ruim, e ele teve a ideia de tomar a bicicleta do Baianinho, então nós fomos até a casa do Baianinho, chamamos ele e falamos que sabíamos de onde ele havia roubado aquela bicicleta então o Sapo falou assim para o Baianinho.
- Se você não me der essa bicicleta eu vou te dedurar, porque eu conheço o dono da casa. O Baianinho ainda quis confrontar o Sapo e sacou uma faca, o Sapo deu um tapa na cara dele e mandou ele entregar a faca, o Baianinho estava entregando a faca com a lâmina virada para o Sapo, que mandou ele entregar a faca virando cabo para ele, o inocente do Baianinho entregou a faca segurando na lâmina, quando o sapo pegou no cabo da faca ele puxou com força cortando os dedos do Baianinho, que gritou de dor e o sangue escorreu rápido da sua mão, pingando no chão, depois disso sapo ainda bateu com o cabo da faca na cabeça do Baianinho e mandou ele ir buscar a bicicleta. O Baianinho buscou a bicicleta e trouxe para a gente, eu peguei a bicicleta dele, ele saiu pelo portão e foi acompanhando a gente pela rua, o Sapo que não era bobo percebeu que o Baianinho estava com má intenção, percebeu que ele estava escondendo alguma coisa.
- O que você tem aí? Perguntou o Sapo.
- Nada. respondeu o Baianinho.
- Nada, e o que é esse volume então? disse o sapo levantando a camisa do Baianinho.
- Outra faca, me dá essa porra aqui!
O Baianinho tirou a faca da cintura e entregou a faca segurando pela lâmina novamente, o que foi o erro dele. O Sapo puxou a faca novamente sem dó, cortando a outra mão do Baianinho, que gritou de dor e novamente escorreu mais sangue entre os seus dedos, ele saiu correndo na direção da casa dele gritando de dor e gritando que aquilo não iria ficar assim, que ele iria contar para o Batata.
- Quem é Batata agora? É Baiano, Batata, mas eu gostei do Sapo esse é dos meus, sem dó de vagabundo, puxou a faca sem dó, ai que gostoso, deve ter doído muito.
- Você gosta de maldade, né? Por isso que quando falei do sapo falei que ele era sangue ruim.
- Mas o que essa história tem a ver com o seu primo?
- Agora que você vai entender, nesse dia o Sapo virou para mim e falou.
- Fica com a bicicleta com você, esconde ela, não anda com ela por enquanto, esconde ela na sua casa por enquanto, depois a gente a pinta e muda a cor e tal.
Nesse dia eu entrei com a bicicleta e subi com ela, escondendo-a no banheiro de cima, que ninguém usava. Alguns dias depois a minha tia me chamou na casa dela, e eu fui até lá, mas nem imaginava do que se tratava, quando cheguei lá, estavam ela e o meu primo me esperando, quando eu cheguei o meu primo foi direto ao assunto.
- Você está ficando doido, roubando de Bandido?
- No começo eu não entendi, então ele explicou.
- Estou falando da bicicleta que está escondida lá na casa da vovó.
- Que bicicleta?
- A que você tomou do Baianinho, e ainda por cima machucou tudo a mão dele.
- Ah ok, mas o que tem?
- Ah tá nada, o problema não é o Baianinho, mas sim o Batata, ele que é o cabeça do assalto, o Baianinho é um Zé ruela , que só estava escondendo as coisa do roubo, mas o Batata não, ele é matador, mas eu sou amigo dele de infância e ele sabe que você é meu primo e veio falar comigo, que ele iria te matar, que você e um outro cara, tinham tomado a bicicleta do Baianinho e ainda por cima, machucaram ele.
- Mas não fui eu.
- Mas você estava junto e escondeu a bicicleta lá na vovó, a vovó falou que a bicicleta está coberta com um pano no banheiro de cima.
- Não, eu quis dizer que não fui eu que cortei os dedos do Baianinho.
- Eu sei que ele falou, mas eu conversei com ele, conversei muito com o Batata pra ele deixar quieto, mas vê se não fica vacilando, ele é matador, é sangue ruim também, já vi ele matar um homem por muito menos.
- Sim. concordei com a cabeça e voltei para casa, quando cheguei em casa a minha avó estava gritando para eu me desfazer da bicicleta, mas se eu me livrasse da bicicleta iria que se ver com o Sapo, essa história durou semanas e alguns meses depois, encontrei com o meu primo que me perguntou.
- Lembra do Batata da história da bicicleta, que queria te matar?
- Sim, o que tem?
- Ele foi preso e morreu na cadeia, o bicho era ruim, chegou na cadeia e já matou um rapaz, aí a justiça da cadeia o sentenciou e mataram ele com vários golpes de estilete, falaram que ele morreu de olho aberto de tão ruim que ele era.
- Até hoje eu penso nessa história, eu só não morri porque o meu primo conversou com ele e ele foi preso logo na sequência e morreu, porque não sei o que teria acontecido. por isso que não julgo as pessoas, nunca sabemos o dia de amanhã e não sou santo.
- Amanhã, vai ser terça-feira, eu sei que dia é amanhã e gosto de falar a verdade na cara das pessoas e falo mesmo, sem dó e sem rodeios. Falou a minha esposa fechando a mão e mostrando os dentes, com ironia.
- Quer saber, perdi a paciência, não conto mais nada para você, está muito chata e irônica.
- Espera, termina vai.
- Já perdi a linha de raciocínio, nem sei mais onde eu estava e o que estava falando.
Capítulo XI. Caixa d’água.
- Bom dia! falou a minha esposa.
- Bom dia! Eu respondi com um bom dia seco.
- Está mais calmo? Perguntou ela.
- Quem tem que perguntar isso sou eu.
- Desculpa, estou chata mesmo, estava na TPM, desceu para mim agora, estou bem melhor.
- Estava chata é apelido, você estava insuportável, já é chata por natureza, juntou com a TPM, ficou pior que o cão chupando manga, ninguém merece.
- Ah! para vai, me desculpa. prometo que não te interrompo mais, termina o que você estava contando.
- Nem lembro mais, deixa eu pensar, quer café?
- Quero, respondeu ela.
- Quer tapioca ou pão de queijo ou um ovo?
- Os três, acordei com muita fome. Disse ela, estava muito doce para um limão.
Preparei o café da manhã e nos sentamos para comer.
- Lembrou onde você parou?
- Deixa eu pensar me lembra alguma coisa.
- Você estava contando a história do seu primo e da bicicleta.
- Ah, ok.
- Eu estava contando tudo aquilo, para mostrar que o meu primo também cuidava de mim, se preocupava comigo, por isso eu ainda tinha consideração por ele.
- Me passa o adoçante por favor. pediu a minha esposa.
Ela pingou 3 gotas no café, eu peguei o adoçante e pinguei algumas gotas.
- Para, para que isso?
- Vai tomar adoçante com café ou café com adoçante.
- O pior é o seu, é melhor tomar puro logo.
Estava contando a história e ela me interrompeu mastigando um pedaço de pão de queijo, e parou de falar de repente, começou a tossir sem parar e não conseguia respirar, gesticulando para a boca, tentando pegar ar, pensei que ela estava brincando, até ameacei a dar um tapa nas costa dela, mas ela começou a ficar vermelha e depois roxa, ai que percebi que ela estava realmente engasgada, eu levantei ela da cadeira e a segurei por trás aplicando a manobra de Heimlich, ela cuspiu o pedaço de pão de queijo e conseguiu respirar.
- Ufa que susto, pensei que você estava brincando.
- Brincando nada estrupício, quase morri de verdade agora, agora sei como o seu primo se sentiu, que desespero, parece que está morrendo afogado, credo que sensação horrível.
- Está melhor? Toma um gole de água!
Ela bebeu água e ficamos parados refletindo o que tinha acabado de acontecer.
- Caramba, que alívio, vai continuar de onde você parou tabacudo.
- Mas você está bem?
- Estou já falei energúmeno, foi só um susto, continua a porra da história.
- Não vou contar mais nada, você é muito ignorante, chata pra caralho.
- Então não conta mais nada, também não quero ouvir mais.
- Está bem, não conto.
Eu fui para o quarto ela ficou na sala, cada um no seu canto, mas não deu 10 minutos, ela subiu atrás de mim.
- Me desculpe, ainda estou um pouco chata e fiquei nervosa com o engasgo.
Começou a me beijar, e fazer carinho, parecido com um gato, que chega não querendo nada e vai se esfregando e depois se deitar nos seus pés, mas na verdade aqui ela não se deitou nos meus pés, às segundas intenções eram outras, coisas que não posso falar nesse horário, tem crianças nesse horário lendo, depois do momento romântico ela se deitou para o meu lado e disse.
- Pronto, agora estou mais calma.
- E eu estou todo sujo de sangue, vou ter que tomar um banho agora e você também.
Tomamos banho e nos deitamos na cama, ela se deitou no meu braço e disse.
- Vai terminar de contar o que você estava falando.
- Deixa ver onde eu estava, ha! sim, naquela época foram tempos difíceis, quando você apareceu na minha vida, eu já tinha passado um bocado com o meu primo, depois que ele voltou do hospital, por causa da facada, ele voltou como um santo, mas não demorou muito para ele voltar a aprontar, o meu pai coitado só se preocupava com o seu rádio de pilha, velhinho que não valia nada, se o meu primo o roubasse, não comprava nem um copo de pinga.
A minha esposa riu.
- Não valia nada mas era bom não descuidar mesmo, podia não valer nada , mas era tudo o que ela tinha, o seu companheiro da solidão, o meu primo não tinha essa consideração, qualquer coisa que ele achasse que valia alguma coisa ele pegava e tentava trocar por droga, poderia valer centavos, já era suficiente para tentar trocar por droga, então o meu pai deu uma ideia de colocarmos um cadeado na porta do quarto, assim eu e ele saiamos para trabalhar mais tranquilo, tranquilo? não podia relaxar, no primeiro dia que voltei do serviço e tirei o cadeado da porta, quando entrei no meu quarto ele estava todo revirado, só havia roupas velhas jogadas no chão, as roupas boas e novas haviam sumido todas, o meu pai entrou no quarto desesperado e foi olhar embaixo do travesseiro da cama dele e disse.
- Ufa! ele não roubou o meu radinho, ainda está aqui.
Eu e o meu pai chegamos juntos e a minha tia também, assim a minha avó ficava o dia inteiro em casa sozinha, sozinha não o meu primo ficava dormindo, igual gato aprontava a noite e dormia de dia, nós chamamos a minha tia, que subiu para ver o quarto, a minha avó veio atrás.
- Meu Deus o que aconteceu aqui! disse ela.
- O que você acha Vó o Drogado deu um jeito de entrar aqui.
- Mas como? Se perguntava à minha tia.
- Ele entrou pelo buraco do teto, da parte que o estuque caiu respondi para ela, lembra que no meu quarto havia um buraco no teto que caiu em cima de mim e do meu pai enquanto dormíamos, o estuque estava podre, lembra que contei essa história?
- Sim, lembro que estava feio aquele buraco no teto. disse a minha esposa.
- A sorte que quando caiu não caiu nas nossas cabeças, caiu só nas nossas pernas e eu e o meu pai não acordamos, acordamos depois com a minha avó acendo a luz e me cutucando, dizendo,
- Caramba pode cair no teto nas suas cabeças que vocês não acordam, não ouviram o barulho que fez, eu meio sonolento olhei para a minha avó olhei para o meu pai que estava cheio de pó e não entendia o que estava acontecendo, demorei para entender, que havia um buraco no teto depois de cair o estuque em cima de mim e do meu pai, o quarto estava branco de pó e pedaços de argamassa com arame e tela de contenção.
- Vixxii, e você não acordou e não sentiu nada no dia? perguntou a minha esposa.
- Pior que não e foi justamente por esse buraco que o meu primo conseguiu entrar no nosso quarto, ele subiu no telhado pelo buraco do alçapão que tinha no banheiro e que dava acesso a caixa da água e foi pisando nas vigas de madeira do telhado até chegar no meu quarto, o chão do quarto estava todo sujo de pó de cimento do estuque, haviam pegadas para todo quarto, porque na hora que ele entrou derrubou mais um pedaço do estuque, ele pegou tudo o que precisava e saiu pela janela do quarto carregando as minhas melhores roupas, me deixando praticamente sem nada.
- A minha avó estava assustada e espantada com a audácia do meu primo e coitada ele dizia assim.
- Eu até escutei um barulho e até subi para ver o que era, mas vi que a porta estava fechada com o cadeado, não desconfiei de nada.
- Para mim chega! não vou ficar trabalhando por nada, ele levou tudo, não tenho mais nada, agora ele acabou com tudo, não tenho nem roupa para poder ir trabalhar.
- Calma menino você não pode perder esse emprego. dizia a minha avó.
- Mas depois dessa eu desanimei e comecei a faltar no serviço até ser mandado embora, agora eu também era vagabundo e podia dormir até tarde, ainda tinha um pouco de dinheiro na carteira, eu precisava comprar um tênis, não tinha mais nenhum em bom estado para usar, na época parece que foi transmissão de pensamento, estava em casa e de repente um conhecido me chamou, eu atendi a porta e ele me falou assim.
- Você quer comprar um tênis, eu conheço um cara que está vendendo por um bom preço, se quiser me dá o dinheiro que eu vou lá buscar para você. pensei pronto todo mundo me acha com cara trouxa, então eu disse.
- Não eu vou com você, não confio em dar o dinheiro na sua mão eu nem te conheço direito.
- Está bom, está certo, então vamos lá. disse o homem.
- Assim eu fui com esse rapaz até o local chamado Singapura, era um conjunto de prédios da Cohab. Chegando lá ele falou assim:
- Pronto, agora você fica aqui e eu vou lá buscar, eles não gostam que pessoas estranhas entrem lá, me dá o dinheiro que eu trago o tênis.
- Não vou dar nada, você está querendo me passar a perna, pegar o meu dinheiro e comprar droga com ele e depois me deixar aqui esperando que nem um otário.
- Não é nada disso, me dá só metade ou um pouco, eu ganho a comissão deles, são produtos roubados que os viciados trazem para eles para trocar por droga.
- Então acha que deve de ter muita coisa minha lá que o meu primo trouxe e trocou por droga, esse tênis deve até de ser o que era meu.
- Assim, por isso lembrei de você, achei parecido com um que vi com você uma vez e lembrei de você.
- Não te dou nada, acho que nem tenho trocado, deixa ver o que tenho. Quando abri a minha carteira não havia dinheiro nenhum, tinha sumido, até as moedas, havia sumido tudo da minha rescisão do trabalho que havia retirado na caixa, a minha barriga gelou, era todo dinheiro que eu tinha.
O rapaz do tênis continuou plantado na minha frente, tipo esperando uma resposta eu virei para ele e disse.
- O que você quer, já chegaram primeiro, você chegou atrasado, o meu primo já levou tudo, pegou o meu dinheiro para comprar droga. Eu dei um gritão.
- FILHA DA PUTA!!!!
E disse para o rapaz.
- Vai sair daqui antes que eu desconte toda a minha raiva em você.
O Cara olhou para a minha cara assustado, viu que eu não estava brincando, então ele desceu o morro e saiu correndo na direção que ele estava apontando onde iria comprar o “Tênis”.
Voltei para casa puto de raiva e sem nenhum puto literalmente, quando cheguei em casa que fui descobrir como que ele havia pegado o meu dinheiro, só pode ter sido na hora que eu estava dormindo.
- Também pode cair o teto em cima de você e do seu pai que vocês não acordam, podia entrar um batalhão no seu quarto que você e o seu pai não iriam acordar.
- Sim o pior foi que na noite passada, anterior do dia que o cara foi me chamar para vender o tênis, quando cheguei em casa, o meu primo estava com vários maços de cigarro, várias cervejas, salgados, doces, chocolates e até me ofereceu, eu até peguei um chocolate, mas em nenhum momento passou pela minha cabeça que quem estava pagando tudo aquilo, era eu mesmo, até pensei comigo na hora, onde foi que ele arrumou esse dinheiro, deve de ter assaltado alguém, e nem imaginei que a vítima tinha sido eu mesmo, ele já estava bêbado e sobre o efeito da droga ouvindo Legião Urbana em um radinho de pilha parecido com o do meu pai, eu ainda olhei para ver se não era o do meu pai, mas era outro, ele estava muito louco de álcool e droga, estava falante, falando que a música que estava tocando tinha muito sentido, que o Renato Russo era um poeta e sabia o que estava cantando na música, o refrão da música era: “Parece cocaína, mas é só tristeza” E o meu primo apontava para o rádio e dizia:
- Esse homem é um Gênio, essa letra diz tudo o que estou sentindo.
E assim ele falou, falou e eu inocente e ingênuo, estava ali escutando ele falar sem saber que eu que era o patrocinador daquela festa particular.
- Quando cheguei em casa e contei para a minha avó o que tinha acontecido, ela ficou chocada de boca aberta pela frieza e cara de pau do meu primo.
- Meu! Isso é muita safadeza, que grandíssimo filho da Puta ele era, ai que raiva, você me contando isso, só me deixa com mais ódio, aí! que maldito, isso foi muita
maldade e egoísmo e não sei nem como classificar, me falta palavra para classificar, e o que a sua avó falou no dia?
- Ela disse, vamos falar com a mãe dele, isso não pode ficar assim, tem que parar.
- Eu virei para a minha avó e disse, não vai adiantar nada, ela vai dizer a mesma coisa de sempre, “depois eu te devolvo ou compro outro para você, Deus vai te dar em Dobro e vai te abençoar, você tem uma fazendo lá no céu” Ela nunca devolveu ou comprou e o pior que ainda falava mal de mim por trás depois, na minha frente eu era o sobrinho querido, nas minhas costas só deus sabia o que falava.
- É muita safadeza, ela nunca te pagou e eu lembro uma vez, mesmo você já não morando mais lá e foi levar aquelas farinhas que vinha na cesta básica do meu pai e como a minha mãe não usava você levava para a sua avó fazer pão caseiro, que era uma delícia e um dia você voltou dizendo que havia escutado a sua tia falando algo, o que foi mesmo.
- Sim, quando eu entrei na casa da minha avó a minha tia estava conversando com a minha prima e a cunhada dela , ela não escutou eu entrando e eu estava indo na direção da cozinha quando escutei ela dizendo assim: “ele vem aqui e só traz resto, é resto de cesta básica, resto de privada e pia, tudo o que a família da mulher dele não quer ele traz para cá, acha que estamos morrendo de fome e não ajuda em mais nada” Eu fiquei parado ali só escutando ela falar mal de mim.
- Que pia e privada era essa que você levou? perguntou a minha esposa.
- Aquela marrom, que a sua mãe trocou por outro conjunto novo.
- Ah! Lembrei caramba, eles estavam com uma pia quebrada e aquela privada toda ferrada, você e o meu pai que instalaram ainda e mesmo assim falou mal, é, é a sua família mesmo.
Eu só podia concordar com ela e lembrar que.
- Você sabia que ela também foi culpada pela separação dos meus pais, foi ela que agrediu a minha mãe e a expulsou da casa da minha avó, fazendo a minha mãe deixar o meu pai e ir embora, mas o mundo dá volta, depois que saí de lá e a minha avó não suportava mais foi a minha vez de pedir para ela sair e ir embora, caso contrário eles iriam acabar matando a minha avó, mas na época o meu primo teve a overdose e ficou acamado dormindo na sala e assim eu acabei deixando para lá, ela só saiu depois que a mãe do pai do meu primo aceitou eles voltarem para morar na casa do fundo onde eles moravam antes, só porque a minha tia não queria cuidar da minha avó ou ajudar ela, e também reclamava que a casa da minha avó era muito velha, tanto quando eu escutei ela falando mal de mim foi nessa época, que ela estava planejando se mudar.
- É depois que eles sugaram tudo, aí foram embora.
- É naquela época que eu ainda morava lá, eu já não sabia mais o que fazer, com aquela situação, eu não tinha mais nada, roupa, tênis, radio, dinheiro, tudo que havia trabalhado para comprar durante anos, sumiram assim em um piscar de olho, a minha sorte foi que a vizinha do fundo, deixou eu usar um quartinho que ela tinha, para eu poder guardar o que sobrou das minhas roupas, era um quartinho de bagunça, onde toda vez que tomava banho e tinha que sair eu tinha que ir incomodar ela na casa dela, para poder pegar a minha roupa e me trocar, senão eu tinha ficado pelado e o pior que o meu primo roubou até o filho dela, ele chegou para o rapaz que gostava muito de moto e disse uma conversa fiada, se o rapaz não queria comprar umas peças de moto, porque ele tinha um amigo que estava vendendo e o rapaz sem desconfiar de nada, deu o dinheiro para ele ir buscar as supostas peças, o rapaz deu o dinheiro na mão dele e ficou esperando ele voltar com as peças de moto, o rapaz esperou o dia inteiro, quando foi a noite que ele viu que o meu primo não voltou com as peças, ele foi contar para a mãe dele, que deu um grito.
- Você não fez isso? você não viu o que ele fez com o próprio primo? Você foi muito burro, ele roubou tudo do primo, deixou o rapaz quase sem nada, só não deixou sem nada, porque o resto que sobrou ele está guardando aqui em casa no quartinho de bagunça, você não viu umas bolsas lá no quartinho?
O rapaz foi conferir e viu que era verdade, o que a mãe estava dizendo, havia bolsas com roupas então ele voltou e disse:
- Vou chamar o pai e o meu irmão para tentarmos pegar o dinheiro de volta.
O rapaz foi lá na casa da minha avó com o pai e o irmão, mas nesse dia o meu primo estava mais louco que de costume, ele havia misturado de tudo, droga, pinga, remédio do coração e de diabete e outros remédios que nem sei para o que era da minha avó, os olhos dele estavam arregalados, a boca estava seca e não parava com a língua dentro da boca, ele fechava a porta e pedia para a gente fazer silêncio.
- Chii, ele fazia colocando o dedo na boca e dizia.
- Eles estão aqui e vão me pegar. então ele corria para o quarto da minha avó e entrava no guarda-roupa e se trancava dentro dele, mas no momento que o rapaz chegou com o pai e o irmão.
Eu atendi a porta e o rapaz perguntou.
- O seu primo está aí?
- Sim e não. Eu respondi.
- Como assim? Perguntou o rapaz.
- Ele está super drogado. assim que eu tentava explicar para o rapaz o que estava acontecendo, nós ouvimos um barulhão na parte de cima da casa, era um barulho de telha quebrando e água caindo no corredor como se fosse uma cachoeira, o doido do meu primo havia saído do guarda-roupa e subiu pelo buraco do sótão para o telhado e entrou dentro da caixa d'água.
Todo mundo estava olhando para onde havia vindo o barulho.
- Eu quero o meu dinheiro de volta. Gritava o rapaz no portão.
- Vai ser difícil, o seu dinheiro virou pó, literalmente. Eu disse para ele.
- Isso é um absurdo, vamos dar um pau nele. - gritava o pai do rapaz.
- Eu até adoraria ajudar vocês a bater nele, mas agora vai ser difícil, se tentarmos subir lá para pegar ele, corremos o risco de desabarem junto com a caixa d'água, está tudo podre. Eu saí para a rua para mostrar para eles onde ele estava, e o do meio da rua tentávamos ver onde ele estava, mas estava de noite e não conseguimos enxergar direito, de repente escutamos um barulho alto e um grande volume de água caiu na lateral da casa no corredor, o maluco conseguiu quebrar a caixa d'água e quase caiu junto com a água que desceu como uma grande cachoeira, podemos ver as telhas quebradas e duas pernas penduradas balançando, no meio das madeiras do telhado, ele quase morreu afogado com a quantidade de água e só não caiu junto porque a divisão de madeira que separa as telhas o segurou, mas deve de ter machucado e doído muito, depois que toda a água da caixa d'água caiu, podemos ver ele se levantar e quebrar mais telhas para sair dali, um jato de água forte jorrava água sem parar pelo cano de água que vinha do cano da rua e que alimentava a caixa d'água, o jato era tão forte que estava molhando a casa do vizinho do lado direito.
- Fecha o registro da água da rua. Gritou o pai do rapaz.
Eu corri e fechei o registro fazendo com que a água parasse de jorrar.
Depois disso ainda podemos ver o meu primo, correndo pelos telhados dos outros vizinhos tentando fugir, podíamos escutar o barulho das telhas quebradas e mais gente saindo para a rua reclamando do que estava acontecendo. havia uma multidão na rua olhando para os telhados procurando entender o que estava acontecendo.
O rapaz das peças de moto olhou para aquela situação, olhou para o pai e perguntou.
- E aí pai, o que vamos fazer?
Depois olhou para mim e perguntou.
- E aí, o que vamos fazer?
Eu não sabia o que dizer e dei de ombros.
Sem saber o que fazer e respeitando a casa da minha avó, eles não invadiram a casa, desistiram de recuperar o dinheiro naquele momento depois de toda essa confusão e foram embora, mas sempre olhando para cima dos telhados tentando ver onde o meu primo estava.
- Que vergonha, que situação, já está roubando até os vizinhos e agora quem vai pagar pelo conserto disso tudo, o que vou fazer? dizia a minha avó.
- Credo que situação mesmo, eu queria que a caixa d'água desabasse com ele dentro, mas o bicho tem tanta sorte, que isso não aconteceu, o pior é destruir a casa da sua avó coitada, que não tinha culpa, não tinha até certo ponto para falar a verdade, porque ela podia mandar ele e a sua tia embora. falou a minha esposa.
- Pois é! Eu concordei com ela balançando a cabeça.
Capítulo XII. Troféu e Oscar, por Heroína ou Ironia.
- Amor pega uma lata de extrato de tomate para mim por favor e coloque no carrinho, eu vou ver o preço do peixe.
- Que marca você quer?
- Escolhe uma que tem pedaços de tomate.
Eu dei um embalo no carrinho do supermercado, me apoiei no ferro de segurar e coloquei os meus pés no ferro em cima das rodas, deslizei com o carrinho até a gôndola de enlatados, usei o meu pé como freio e freie a rodinha com a sola do sapato, procurei por uma lata de massa de tomate com pedaços, achei uma que estava escrito em italiano.
- Pronto vai esse, gostei da foto da lata. eu peguei 3 latas e coloquei no carrinho, de volta para onde a minha esposa estava fui olhando o restante dos produtos, peguei um vidro de palmito na mão, mas quando olhei o preço desisti, coloquei na prateleira de volta, olhei para um vidro de aspargo e pensei.
- Se palmito estava aquele preço imagina o aspargo. Continuei pelo corredor e achei um vidro de conserva de Cenoura, pepino e aipo, coloquei no carrinho, dei um impulso no carrinho e deixei ele me levar até o embalo acabar, a minha esposa vinha falando sozinha, falando estava resmungando eu dei risada.
- O que você está rindo? É para chorar, está tudo caro, não tive coragem de comprar Bacalhau, está a preço de ouro, então pensei no salmão, também não tive coragem, então pensei na Tilápia, e pedi um quilo e meio, mas na hora que o peixeiro estava preparando, uma senhorinha que estava do meu lado, falou que a Tilápia não parecia estar muito fresca e ainda por cima estava cara, nós debatemos sobre os preços das coisa e no fim acabei pedindo para cancelar, me deu raiva e falei quer saber de uma coisa, eu não vou levar nada.
Ela foi reclamando até caixa, eu tentei falar alguma coisa sobre os preços também, mas não consegui, eu só balançava a cabeça, pagamos a conta e ela continuou reclamando para o caixa, que coitada, não podia fazer nada e contribui com um sorrisinho amarelo sem graça, eu carreguei o carro e ela continuou reclamando, de repente ela olhou para mim e disse.
- Lembra daquela vez?
Eu não entendi a pergunta.
- Que vez?
- Que o seu primo nos levou na boca de droga?
Pensei comigo,
- Ferrou, agora ela vai desenterrar e reclamar que quase foi presa, que poderia ter sido presa sem saber, então falei.
- Sim, o que tem?
- Você só me leva para as furadas, naquela época nós ainda éramos noivos né, e aquele estrupício, nos pediu uma carona, quando estávamos saindo da casa da sua avó e você ainda deu a carona para ele, você sabia para onde poderia ser a carona e não me falou nada, quando chegamos em um lugar, onde havia um portãozinho podre de ferro e eu perguntei para você, que lugar é esse e você respondeu.
- Acho que é um ponto de droga.
- Eu fiquei apavorada e eu dizia para você, vamos embora, deixa ele aí, ele vai voltar com droga e se a polícia nos parar, estamos ferrados, eu inocente, nem beber eu bebia naquela época, só pensava no que o meu iria dizer se eu fosse presa com droga, que nem minha era, sem saber de nada, só por estar na hora errada no local errado.
- Nesse dia realmente demos sorte, porque o pior era quando ele nos envolvia nas suas tramoias, nos rolos dele.
- Como assim? perguntou a minha esposa querendo saber mais detalhes.
- Mas porque você lembrou disso agora? perguntei.
- As coisas estão tão caras que estou pensando em vender droga. disse ela sério.
Eu olhei para ela e ela riu.
- Estou brincando, não levo jeito para isso, mas como ele te envolvia nos rolos dele?
- Teve uma vez que ele me pediu uma carona e assim eu o levei em um ponto de droga no meio do morro, chegando lá eu só percebi que era um ponto de droga quando já estava dentro do local. O meu primo me convenceu a ajudar ele com o rolo dele, mesmo que eu dissesse que não ele já tinha me envolvido no rolo dele com o traficante dizendo que eu era o cara que vendia roupas de marca de Surf e que eu tinha uma produção sendo feita e que assim que ficasse pronta eu iria deixar uma quantidade com ele e ele iria repassar para o traficante, quando eu percebi a mentira e o esquema que o meu primo estava tramando, eu não podia dizer que era mentira ali, porque nós dois iríamos morrer ali mesmo, e o traficante começou a me fazer perguntas, de como era roupa, se iria ter de tal marca e coisa e tal, eu pensei rápido e comecei a desconversar, mudei de assunto rápido, dizendo que o conhecia de algum lugar e realmente conhecia e lembrei que ele era irmão de um amigo, um amigo de infância da escola, lembrei de algumas histórias desconversei e fui saindo até conseguir ir embora, o meu primo para não ficar para trás veio comigo, porque ele percebeu se o irmão do cara mais novo voltasse ia me reconhecer e dizer que eu não vendia roupa nenhuma, aí estávamos ferrados, quando entrei no carro, xinguei o meu primo para caramba e falei para ele que se o meu amigo irmão do traficante estivesse ali, ele tinha ferrado com nos dois, depois fiquei calado o caminho todo de volta e o meu primo não disse uma palavra porque sabia que o plano dele podia ter matado nos dois.
- Realmente você poderia ter morrido, nossa as coisas só pioram a cada lembrança.
Eu balancei a cabeça concordando com ela.
- E no nosso casamento, lembra o que ele fez?
- O que? perguntei por que não lembrava.
- Quando ficamos sabendo que haviam roubado o carro do seu outro primo e o seu primo drogado pediu o nosso carro emprestado para tentar achar o carro do seu outro primo que foi roubado, eu fiquei morrendo de medo do nosso carro voltar faltando alguma coisa ou detonado, depredado ou quebrado, nós iríamos viajar com aquele carro no dia seguinte, graças a Deus ele voltou com o carro intacto sem faltar nada, mas até ele voltar parecia uma eternidade, nem conseguia relaxar para poder curtir a festa, até discutimos na festa por causa disso, eu briguei com você dizendo que você era um louco por emprestar o carro para ele, e realmente você deu muita sorte naquele dia, ele podia ter acabado com a nossa Lua de mel.
- E às vezes ele conseguia fazer o que prometia, era raro, mas às vezes acontecia, em uma fase de tentar se recuperar e tentar largar o vício.
- Lembra daquela vez que o time da nossa sala foi campeão de futebol da escola?
- Lembro.
- Então naquela noite, depois que ganhamos eu fui com o time para a padaria comemorar e você foi embora, naquela noite quando eu cheguei em casa todo feliz, porque tinha ganho o campeonato colegial e o troféu de melhor goleiro, o goleiro menos vazado, eu estava com dois troféus, do campeonato e de melhor jogador, eu cheguei em casa muito feliz mostrando os troféus para ele, mostrei para o meu pai todo orgulhoso, mostrei para a minha avó e novamente para o meu primo eu estava tão feliz que não queria brigar com ninguém.
- Olha, fui o melhor goleiro e o meu time foi campeão.
A minha avó batia palma e me dava os parabéns o meu primo só ficava me olhando, então eu coloquei os troféus na estante, porque por mais que os troféus eram dourados, eles eram de plástico pintados de dourado e não tinham nenhum valor vendável, só tinha um valor sentimental, depois que coloquei os troféus na estante a minha avó e o meu pai subiram para dormir, a minha tia ainda demorou para subir, ela estava terminando o seu chá que tomava toda noite para dormir, para poder relaxar e sempre deixava um copo de leite com Nescau para o meu primo, leite gelado batido com chocolate, ela terminou de tomar o seu chá, colocou a xícara suja dentro da pia, pegou o copo com Chocolate e entregou para o meu primo, deu um beijo nele, me desejou boa noite, e me deu os parabéns pelo os meus troféus e subiu para o quarto onde ela dormia junto com a minha avó, eu estava muito agitado para ir dormir, fiquei na sala assistindo televisão, que ainda não tinha sido vendida porque era velhinha, mas ele já havia tentado vender ela uma vez, mas a minha tia o flagrou tentando carregar, o som da vinheta do programa que passava , quebrou o silencio que pairava no ar e o gelo que estava entre nos dois, depois da propaganda entrou novamente a vinheta que anunciava o programa após um trilha sonora de Jaz.
- Jô onze e meia! O apresentador era engraçado, ele era um senhor gordinho e usava óculos colorido, ele começou o programa contando uma piada, ele era bom e a piada foi boa, então eu ri alto e o meu primo riu também.
- Foi a deixa para o meu primo puxar assunto.
- Bonito os troféus que você ganhou.
Eu balancei a cabeça concordando.
- Foi um campeonato de futebol de salão?
Novamente eu só balancei a cabeça enquanto assistia o apresentador gordinho entrevistar um músico que estava lançando um CD na época.
- É a vida é um jogo. disse o meu primo.
Eu não entendi nada, mas ele completou.
- Às vezes se ganha e outras se perde.
Eu concordei balançando a cabeça novamente.
- Hoje você ganhou, mas vem perdendo tudo o que conquistou e a culpa é minha eu tento não te prejudicar, penso não posso fazer isso com ele, mas acabo fazendo e depois me arrependo e esse arrependimento é mais doloroso e só consigo aliviar essa dor com mais droga.
O meu primo estava querendo desabafar e me enrolar com conversa fiada e mole dele.
Pensei comigo ele está tramando alguma coisa, mas eu não sabia o que falar ou dizer para ele, já tinha tido todas as melhores intenções com ele, já havia conversado com ele por várias noites, mas essa noite eu não estava a fim, estava cansado das suas mentiras e falcatruas, eu estava feliz e não queria me entristecer com o egoísmo e egocentrismo do meu primo, mesmo assim ainda respondi.
- É não tenho mais nada, só tenho esses dois troféus agora. e pensei comigo pelo menos esses troféus ele não vai conseguir vender, pelo menos assim eu acho,
porque é de plástico, imagina se fosse de ouro de verdade ele não iria pensar duas vezes.
Ele olhou para os troféus, olhou para mim e repetiu.
- A vida é um jogo, um dia se ganha e na outra se perde ou como disse o Renato Russo: “parece cocaína, mas é só tristeza, mas eu prefiro: A Heroína é uma Ironia, essa é de minha autoria, a Heroína é uma Ironia, porque no começo ela é realmente uma Heroína te salva de todas as dores e de todos os problemas, como uma heroína de quadrinhos, ela te dá super poderes, te dá de tudo no começo, te dá um prazer imensurável, prazeres escondidos dentro da mente, que nem imaginamos que existam, como um sonho bom, mas com o tempo esses prazeres são precoces e mudam e duram pouco e o que era sonho vira pesadelo e heroína vira Vilã, por toda a sua vida deixando um questionamento sem resposta: Heroína ou Ironia? Ela te dá de tudo e depois te toma tudo, ela tem um custo caro para algo tão precoce.
- Eu pensei comigo, nossa ele está usando palavras difíceis e virou filósofo e poeta, mas ele continuou.
- Agora eu inverto a ordem Ironia ou Heroína? com uma pergunta com resposta, eu sei de todo o prazer que ela me proporciona, mas também sei de toda dor que ela me causa e de toda destruição que ela fez nas nossas vidas, seja o ativo o alvo direto ou indireto, o mal que causa nas pessoas que nos cercam, olha o que eu fiz com a minha vida, a da minha mãe, com o casamento dela, agora eu estou aqui destruindo a sua vida a da vovó e do seu pai, ou até de uma pessoa que não conheço andando pela rua, que muitas vezes eu penso em assaltar, olha como isso é egoísta, acaba com toda uma sociedade, seja ela do lar ou civil.
- Pensei, pronto agora ele virou Sociólogo.
Quando ele terminou de falar tudo isso, ele estava tremendo a sua boca estava seca e ele mesmo disse.
- Olha agora eu estou sentindo uma vontade louca de se drogar, para poder aliviar essa angústia, essa dor que fica repetindo dentro da minha cabeça, tome o seu remédio, você sabe o que vai te aliviar, precisamos da nossa dose diária, que de diária não tem nada, só dura minutos, precisamos desse remédio que ao mesmo tempo é o nosso veneno, que alivia tudo por um momento e depois vem a agonia eterna. Ele olhou para mim tirando algo enrolado em papel alumínio do bolso e me mostrou.
- Isso é só uma substância, mas porque não consigo controlar essa tentação, o meu desejo por ela, sei que me faz mal, mas eu preciso dela, essa é a Ironia que nessa hora, a Heroína vira uma vilã e a pergunta fica sem resposta, isso é Heroína ou uma Ironia?
Eu estava estático só olhando para o papelote que estava na sua mão e não sabia o que dizer, ele olhou nos meus olhos e falou.
- Você se importa de eu usar aqui na sua frente, eu não queria, estava esperando todo mundo subir para dormir para eu usar tranquilamente, não queria usar no banheiro, mas agora eu não estou me aguentando da vontade de sentir essa Heroína guerreira no meu sangue e na minha mente, que se foda a Ironia.
- Não. Respondi monossilabicamente, porque na verdade eu não sabia o que dizer, e estava curioso para ver alguém se aplicando, pensava que precisava dessa experiência, de ver como era e como a pessoa ficava, quando a droga era injetada, e como ele fazia isso.
Então ele enfiou a mão no vão que separava o sofá e tirou lá de dentro um saquinho com uma seringa, uma colher queimada e um elástico daqueles usados na farmácia para aplicar injeção, ele pegou a colher queimada, ela estava preta de tanto que ele já a usou, ele foi até a cozinha e pegou um copo com um pouco de água, colocou no degrau da escada, mais próximo dele, encheu a seringa com água e colocou do seu lado, desembrulhou o papelote, e colocou um pouco daquele pó branco cristalino na colher, pegou a seringa com água na medida certa, dava para ver que ele tinha muita prática, sabia exatamente a quantidade certa, como alguém que já fizera aquilo centenas de vezes, ele acendeu o isqueiro e colocou embaixo da colher, ele esquentou o líquido até borbulhar, um cheiro de vinagre ácido predominou no ar, então ele colocou o liquido dentro da seringa, ele coloca a colher no chão e a seringa no sofá ao seu lado, pegou o elástico e amarrou um pouco para cima do cotovelo em cima do músculo, deu uns tapas na veia, para que elas ficassem saltadas, pegou a seringa e injetou o liquido na veia, quando ele aplicou um pouco de sangue voltou para a seringa, formando um desenho de fumaça de sangue dentro da seringa, de tudo aquilo eu só conseguia pensar que eu não iria conseguir me aplicar, assim pensava que essa era a pior parte, mas a pior parte viria agora era agora que a coisa iria ficar feia, quando ele terminou de aplicar, ele deixou o corpo cair para trás no sofá, os seus olhos estavam revirados para cima, aparecendo a maior parte branco dos olhos, ele abria e fechava a boca de uma forma tão aberta que parecia que iria rasgar as bochechas, a seringa ainda estava no seu braço, retornando um pouco de sangue, até ele deixar o seu braço cair e bater no sofá derrubando a seringa no chão, deixando um buraco no braço, por onde escorria um pouco de sangue, eu estava ali assistindo tudo aquilo curioso e observando cada detalhe, eu levantei para olhar mais de perto, eu era o único espectador para aquele show de horror, uma plateia de um só e espectador, assistindo aquele monólogo silencioso e ruidoso ao mesmo tempo, ele estava desconfigurado igual um personagem de filme de terror e foi relaxando em um coma profundo, parecia que não estava respirando, eu pensava:
- Será que morreu? Será que ele teve uma overdose? Eu fiquei ali olhando e pensando o que eu faço se esse idiota tiver uma overdose? Mas fiquei ali assistindo e observando aquela cena de teatro dentro do palco do inferno, ato: A droga sugando a sua alma, literalmente aquele corpo estava desalmado, era só um pedaço de carne que estava apodrecendo vagarosamente, observei que ele realmente era só pele e osso, estava tão magro que os ossos do seu corpo estavam sobressalentes, as costelas aparecendo igual aqueles cachorros de rua, os braços pareciam de um idoso, a cabeça parecia uma caveira, era possível ver a curvatura do crânio, ele não tinha bochechas, era fundo e formava a figura de uma caveira, e pensava como ele estava vulnerável e como seria fácil matá-lo naquele momento, mas ao mesmo tempo eu pensava, acho que até já morreu e agora o que eu faço? Chamo a minha tia, o que eu faço? se eu não fizer nada pode ser omissão de socorro, mas se eu deixar ele morrer, ninguém nem vai saber ou querer investigar, vai ser um livramento para todo mundo, vai acabar com o sofrimento dele, meu da minha avó e da sociedade como ele mesmo falou, mas a minha consciência não deixava e me fazia pensar, o que faço? ligo para a polícia, chamo uma ambulância, o que eu faço, aquele espetáculo estava ficando tenso, mas o corpo apresentou um espasmo, pensei, i morreu mesmo , esse foi o espasmo da alma deixando o corpo, não sei se foi um bom sinal ou se foi o último espasmo mesmo, fiquei ali estático olhando, observei a respiração é parece que não morreu, vou subir para dormir, fingir que não vi nada e que ele morreu aí sozinho, mas eu não vou conseguir dormir até saber o que realmente aconteceu, então fiquei ali esperando para ver se ele iria despertar ou se partiu, mas do nada ele abriu um olho arregalado e tomou fôlego como se estivesse se afogando dentro de uma piscina, olhou para mim que estava em cima dele, olhou em volta tentando entender onde ele estava, fechou a cara e disse.
- Acabou, viu como é pouco a duração, como é pouco tempo e tão caro por ter que pagar toda a sua vida. disse ele com a boca torta, os olhos vidrados, demorando para concluir a frase, mas ele já tinha uma rotina e já foi recolhendo a prova do crime, a seringa, o elástico e a colher, ele guardou o elástico e a colher no vão do sofá, se levantou, balançou um pouco, se estabilizou e andou até o banheiro, eu fui acompanhando para ver o que ele iria fazer, então ele jogou a seringa no vaso sanitário e deu descarga a seringa desapareceu, mas a água da privada começou a subir até derramar, a privada estava entupida, ele deu um pulo para trás para não molhar os seus pés, deu de ombro e voltou para a sala, ele já não a estava tão falante e parecia envergonhado. Eu peguei o desentupidor da privada e forcei a descarga descer, voltei para a sala, desliguei a televisão e subi para dormir, demorei para pegar no sono, aquela cena do ato da morte, não saia da minha cabeça. na manhã seguinte acordei com uma gritaria.
- O que aconteceu aqui? perguntava a minha avó.
- Olha o estado desse banheiro, está todo alagado que cheiro forte e olha o que esse maluco escreveu na parede no azulejo. Estava um cheiro forte de esgoto e na parede estava escrito com sangue.
- Heroína ou Ironia?
Eu pensei comigo, ele deve ter usado mais depois que subi e deixou tudo transbordar, mas antes enlouqueceu e usou o próprio sangue para escrever no azulejo.
A minha tia trazia um balde, um rodo e pano de chão para tentar limpar toda aquela, bagunça, aquilo não parecia ser novidade para ela, não estava abalada, parecia já estar acostumada, como se aquilo fosse parte da sua rotina, ela já sabia o que tinha acontecido ou imaginava, ela passava o pano no chão e torcia, mas ao mesmo tempo tentava limpar a frase da parede, aquilo parecia incomodar mais ela.
- O que vamos fazer? perguntava a minha avó.
- Vamos ter que chamar um encanador. Disse a minha tia.
Quando o encanador chegou, ele tentou desentupir a privada com um arame, mas havia algo muito duro que não deixava o arame passar.
- É, acho que vamos ter que quebrar o quintal e desbloquear o esgoto pelo cano, mas antes vamos tentar pela caixa do esgoto.
A minha tia só olhava para o homem e concordava com a cabeça porque ela já sabia o que estava bloqueando a passagem da água.
Depois do encanador tentar de tudo quanto foi jeito, desistiu e resolveu quebrar o quintal até chegar no esgoto, com uma picareta ele arrebentou o cano do esgoto.
- Nosso, o que é isso? perguntava o encanador
- São seringas. respondeu a minha tia com uma cara de você nunca viu uma seringa na sua vida.
- Sim, eu sei, mas como isso veio parar aqui? se perguntava o encanador.
- A história é longa moço, você não vai querer saber, o que posso fazer para te ajudar a retirar isso?
O homem pediu uma caixa ou um balde grande para depositar todo aquele lixo que estava bloqueando o esgoto, o Homem não parava de tirar seringa do esgoto, ele cutucava pelo outro lado e saia mais do outro lado.
- Pega também um saco de lixo, porque não para de sair, deve de ter dezenas ou centenas delas, o homem já havia feito uma pilha de seringas em cima da terra ao lado do buraco aberto.
A minha tia trouxe um saco de lixo e atrás dela veio a minha avó ver o que era.
- Ah meu deus, pai do céu! o que é isso, são seringas?
A minha tia concordou balançando a cabeça e recolhendo as seringas sujas de fezes e lodo colocando as dentro do saco de lixo.
- Meu Deus que absurdo. Dizia a minha avó.
O homem só olhava para a minha tia e para a minha avó tentando entender como aquilo foi parar ali, ele sabia que alguém jogou na privada, como se quisesse se desfazer da prova do crime e quando ele tentava pegar a seringa a minha tia dizia.
- Deixa que eu pego, como se ela soubesse de algo que pudesse infectar o homem com algum tipo de doença até então.
- Nossa que nojo, que horror, eu não acredito nisso, que loucura, não consigo nem imaginar, só consigo imaginar o cheiro, só vendo para acreditar, mas se tratando da sua família eu não duvido dessa história, credo que nojo. disse a minha esposa que estava calada só ouvindo esse fato e estava chocada a cada detalhe que eu contava para ela.
- É só vendo mesmo para acreditar, até eu duvido às vezes, parece que isso foi só um pesadelo, realmente é inacreditável, depois de tanto tempo, anos jogando seringas no vaso sanitário, uma hora isso tinha que dar merda literalmente, foram anos de deposito de seringa, o tanto que tinha ali, não sei dizer exatamente de quanto tempo foi, mas foram por anos, imagina assim na altura do campeonato, ele já havia me roubado tudo o que eu tinha, eu já não tinha mais nada, imagina a quantidade de droga que ele usou com as minhas coisas que ele pegou, mais o dinheiro que ele pegava da mãe e da minha avó todo mês, mais os rolos que ele fazia para conseguir a droga, calcula comigo quanto dá isso, mais outras coisas que ele pegou da mãe e o dinheiro que dava quando ele descobria que ela tinha dinheiro, ele infernizava ela até conseguir o que queria, ali deveria de ter centenas ou até milhares de seringas, se cada seringa custa 0,50 centavos, calculando mais o preço da droga que custa em torno de R$10,00 cada papelote, calcula aí quanto que dá? no mínimo se uma ano tem 365 dias, dois anos são 730 seringas, mas ele às vezes usava mais de uma vez ao dia, como foi no dia que entupiu, 730 x 3 = 2190, mais ou menos isso para mais ou para menos, como diz aquelas pesquisas de Ibope, disse comparando o cálculo que fiz com a pesquisa.
- Sua besta, mas que loucura! mas é muito coisa. Disse a minha esposa.
- Sim eu posso estar exagerando, ou pode ser até mais, porque tudo o que ele roubou, não vendeu pelo preço que valia, deve de ter vendido por uma mixaria na hora da fissura da paranoia, mas recalcular, se um Tênis que valia R$300,00 ele deve de ter vendido por R$30,00 ou no máximo R$50,00 e assim por diante, o rádio que valia R$500,00 deve de ter vendido por R$50,00 e pensando assim a quantidade diminui 60% a 70% do real valor.
- O que é isso, aula do capital as inversas do Karl Max? disse a minha esposa rindo.
- Não, mas é um capital inverso mesmo de como realmente perder tudo no que você investiu.
- Mas e o restante, se ele não tinha mais o que roubar de você e da casa, como ele conseguia a droga ou ficava doidão?
- Mas antes me ajuda a guardar a compra, depois você me conta ou tenta me contar, porque isso é surreal.
Capítulo XIII. Loucura a base de cola de sapateiro, pinga e remédio.
- Me ajuda aqui estrupício a estender a roupa, é muita roupa, você suja roupa igual criança, você e a sua filha pode dar as mãos, dá para contar o que é meu.
- Isso quer dizer que tenho bastante roupa, ao contrário de outra época que quase fiquei pelado.
- É, mas isso não quer dizer que você precisa usar todas e sujar ao mesmo tempo.
- Se é doida, não exagera.
- Exagerando, eu, dá uma olhada nesse varal, olha o tanto de roupa que tem sua e olha o que é meu, você acha que estou exagerando?
- Sim, eu ainda tenho muita roupa guardada, até preciso doar um pouco.
- Isso mesmo, às vezes precisamos doar o velho para vir coisas novas.
- Eu sempre lembro de uma frase, que a vizinha me disse na época que eu não tinha mais nada, que toda vez que quebrar ou alguém tomar ou roubar algo seu, precisamos pensar em comprar outro maior e melhor e não se apegar a trapos e velharias, no fim são só bens materiais e ninguém leva para o céu ou para o inferno.
- Agora eu penso, será que o seu primo está em um lugar melhor, será que ele pagou os seus pecados, tomará que ele esteja em lugar melhor, assim espero, por mais maldade que ele tenha feito, tomara que esteja em um lugar bom.
- Nossa você falando assim, estamos evoluindo, agora acredito que a sociedade tem uma solução, como diria ou Evolucionistas baseados em Darwin, viemos do macaco e evoluímos.
- Eu não vim do macaco, só se for você Chimpanzé.
- Eu sabia que você iria falar isso. Nós rimos da brincadeira.
- Você ainda não respondeu a minha pergunta Lazarento.
- Do que?
- De como o seu primo fazia quando não tinha dinheiro para comprar droga, o que ele fazia para ficar doidão.
- Ah tá!
- Lembra que te falei, que eu tinha um tio que fazia sapato no fundo do quintal da minha avó.
- Sim, eu cheguei a conhecer ele.
- Então ele construiu uma edícula no fundo da casa da minha avó, lá ele montou o seu ateliê e o seu escritório, onde ele atendia os seus clientes, ele trabalhou lá por anos, mas quando a minha tia e o meu primo se mudaram para lá, ele não aguentou o meu primo, várias coisas dele também começaram a sumir, já nos primeiros meses o meu primo já havia roubado um monte de coisas dele, ferramentas, produtos, tecidos,
produtos finalizados, então ele desistiu e se mudou, mas largou muita coisa para trás, tecidos, latas, linhas, moldes e latas de cola de sapateiro.
- O que tem isso?
- Você nunca ouviu falar em cheirar colo de sapateiro, nunca viu aqueles moleques no centro da cidade de São Paulo, na praça da Sé tem bastante, eles ficam com os saquinhos, inalando e ficam doidão.
- Sim, mas isso é tão forte assim?
- Depende da qualidade da cola ou com o que você mistura.
- Misturar com o que?
- Então a cola é só um detalhe, uma parte do cocktail que o meu primo fazia para se drogar, quando ele já acordava na secura, ele não tomava nem o seu achocolatado que a minha tia preparava para ele todas as manhãs, ele recusava e fazia manhã para que a mãe lhe desse dinheiro, e se ela não tinha ou não dava ele fazia birra igual uma criança mimada, as vezes a minha tia dava os últimos trocados que ela tinha, que não dava para comprar droga, mas ele conseguia comprar uma garrafa de pinga, a minha tia tentava relutar, mas no fim sempre acabava cedendo e assim ele ficava o dia inteiro bebendo e assistindo televisão, as coisas começavam a piorar, quando ele acabava a primeira garrafa e começava a segunda, o que para uma pessoa normal, isso já era quase como alcoólico, mas para ele isso era só uma entrada.
- Sim, eu entraria em como alcoólico já no terceiro copo de pinga, eu sou fraca para pinga, mas eu não suporto nem o cheiro, lembra aquela vez que quis experimentar?
Nós rimos lembrando da situação.
- Então às vezes ele não chegava a beber tudo, mas ficava o dia inteiro sentado no sofá, bebendo ou dando pequenos goles e assistindo televisão, mas quando anoitecia ele já estava bêbado e percebia que a bebida não satisfazia e não dava o mesmo barato da heroína, então depois que todo mundo subia para dormir, ele pegava os remédios da minha avó, que ficavam dentro do armário da cozinha, a velhinha deixava ali para não esquecer de tomar, ficava tudo separado para ela tomar nos horários certos, tinha vários tipos de remédios, para diabete, pressão alta, colesterol e remédio para dormir, calmante, depois que começou a sumir ela tirou esses de lá, mas até então, era uma fonte de droga para ele, as vezes ele era tão audacioso que ele percebia que a minha avó havia escondido esses remédios , ele subia no quarto dela enquanto ela dormir, procurava e achava e aí a festa estava festa.
- Como assim?
- Ele misturava esses remédios com álcool, nunca ouviu falar dessa mistura?
- Não.
- O álcool potencializa o efeito dos remédios, mas é uma combinação perigosa, pode causar uma parada cardíaca, consumindo o álcool com remédios.
- Nossa, que perigo e o lazarento não morria.
- Pois é, o Lazarento era duro na queda, mas calma a melhor parte está por vir agora.
- Tem mais?
- Sim! falei já rindo por lembrar da história.
- Então ele misturava, pinga com remédio da minha avó, quando acabaram os calmantes ou qualquer remédio que desse algum efeito, ele pegava qualquer coisa para tentar sentir algo parecido com a heroína, lembra do quartinho do meu tio que eu estava falando?
- Sim.
- Lembra das latas de cola que falei que ele abandonou?
- Sim, o que tem essa droga de cola, o que tem, fala logo seu tonto.
- Então ele inalava a cola, depois de ter tomado pinga com remédio.
- Deixa ver se entendi, ele bebia pinga, misturava com remédio e ainda por cima cheirava cola, caramba imagina a dor de cabeça no dia seguinte.
- É mesmo, mas ele acordava como se nada tivesse acontecido, lógico acordava às 03:00 horas da tarde.
- Caramba, como ele não morreu antes?
- Uma vez ele ficou tão doido, mas tão doido com toda essa mistura, que acho que foi o dia que vi ele mais alucinado, eu cheguei da escola e todo mundo já estava dormindo, mas a luz do fundo do quartinho estava acesa, eu estava com fome e fui para a cozinha comer alguma coisa, eu percebi que a porta da cozinha estava aberta, quando fui fechar a porta, escutei um barulho, abri a porta e fui conferir o que era, fiz muito barulho porque a minha avó colocava bacias de alumínio atrás da porta justamente para fazer barulho, eu fiquei parado por uns instantes, paralisado e o passarinho Tim piou, então abri o restante da porta tentando não fazer mais barulho e consegui sair para o quintal, a luz do ateliê do meu tio estava acesa e pude ver pela porta de vidro uma silhueta, eu conhecia aquela silhueta era o meu primo, ele segurava uma lata grande de 20 litros de cola de sapateiro na altura do peito, a lata deveria de estar no finalzinho, porque ele não iria conseguir segura-la tão fácil se estivesse cheia, o cheiro era o mesmo, até sobrava mais espaço para ele enfiar a cabeça dentro da lata e inalar o cheiro, mas quando eu sai no quintal depois de ter feito o barulho, ele estava estático segurando a lata e com a outra mão fazia com o dedo na boca, pedindo silêncio, eu pensei , mas para quem que esse doído está pedindo silêncio.
- Chii! Fica quieto, senão eles vão nos ouvir e vão nos pegar, ele parecia estar conversando com outra pessoa.
Então ele colocou a lata de cola no chão e foi para o outro lado, como se trocasse de lugar com alguém, a silhueta dele ficou um pouco atrás da parede então eu fui um pouco para o lado para poder ver o que ele estava fazendo e quando ele se posicionou do outro lado, ele assumiu uma outra postura e mudou a voz e começou a dar bronca na outra pessoa imaginária que estava segurando a lata.
- Eu falei para você não fazer barulho, você é estupido e burro, agora eles vão vir nos pegar e é tudo culpa sua, seu idiota, você faz tudo errado, nunca faz nada certo. ele apontava o dedo para o outro lado como se estivesse alguém ali, depois que ele terminou de dar a bronca, ele voltou para o outro lado e sua silhueta apareceu do outro lado, ele pegou a lata de cola do chão, deu uma inalada, mudou de voz, estava usando uma voz de coitado e falou como se queria se desculpar com alguém.
- Me desculpa por favor, me perdoa, eu não vou fazer de novo, eu prometo, juro que tomo cuidado, mas não me bate por favor.
E ele se ajoelhou no chão juntando as duas mãos em forma de prece olhando para cima e implorando para a pessoa imaginária não bater nele e perdoá-lo.
E falava gesticulando e implorando perdão, depois ele se levantou e trocou de lado novamente, eu me ajeitei novamente para acompanhar a silhueta, então ele assumiu outra voz e dizia.
- Não você não presta, você é ladrão safado, você merece morrer, não merece perdão, você tem que ser castigado, você não merece viver, você é uma desgraça, você engana todo mundo, ninguém mais confia em você.
Então ele trocou de lado novamente, pegou a lata de cola e inalou novamente e mudou de voz.
- Eu prometo vou melhorar, não é a minha culpa, a culpa é desse maldito vício que não me deixa, eu sou bonzinho eu tenho um bom coração.
Então ele depositou a lata no chão e foi para o outro lado eu me ajeitei para acompanhar, ele mudou de voz e dizia.
- Não você é um maldito, você acabou com o casamento da sua mãe e do seu pai, agora está acabando com o resto de vida da sua avó, dando trabalho para a velhinha que não tem mais saúde, toma desgraçado você merece morrer.
Ele dava golpes, como se estivesse dando chicotadas em alguém, dava soco no vento e chutes como se estivesse batendo em alguém, já sem fôlego ele mudou de lado e assumiu o papel de quem estava apanhando e assim a silhueta apareceu do outro lado, ele pegou a lata do chão deu uma inalada e assumiu o papel de quem estava apanhando.
- Não, por favor, não me bate, ai, ai, está doendo, para por favor.
Ele colocou a lata no chão e implorando com as mãos em forma de prece, suplicando.
- Não me bate mais, você vai me matar, eu sei que não presto, mas eu prometo que vou mudar, eu sei que sou um verme e que só ferro com as vidas das pessoas.
Ele pegou a lata, deu uma baforada e trocou de lado novamente assumindo a voz brava, mas agora só com uma das mãos porque estava segurando a lata de cola, ele apontava com o dedo e dava bronca.
- Eu não acredito mais em você, você gastou todas as suas fichas, morrer é pouco para você, você não pode morrer assim tão fácil, tem que sofrer muito antes, para pagar os seus pecados.
Ele colocou a lata no chão e foi para o outro lado e eu acompanhando ajeitando o corpo para não perder nenhum detalhe daquele teatro, já do outro lado a sua silhueta no vidro da porta assumiu a voz de coitado, mas estava debochado.
- Aí não me mate o todo poderoso. ele dizia isso e dava risada.
- Aí como você é forte, eu tenho tanto medo de você, olha como estou morrendo de medo. ele mostrava a mão para o nada.
- Vai se foder, filho da puta, vai tomar no seu cú, pensa que eu tenho medo de você, quem você pensa que é para falar assim comigo, você acha que é melhor do que é?
Então ele mudou de lado, pegou a cola e deu mais uma inalada e mudou de voz.
- Então é assim, ficou valente agora, não se cansou de apanhar, mas o que é seu está guardado, você vai dormir ou vai vacilar, aí eu te pego.
Ele mudou de lado rapidamente e remendou a outra voz.
- Aí ele vai me pegar, aí que medo, eu sou o rei da malandragem, nasceu ontem e já quer dar um de cão para cima de Moa, tem que comer muito feijão, rainha de sabá.
Eu pensei que estava louco e não aguentei, tentei tapar a boca, mas acabei soltando uma risada involuntária, ele escutou, parou e olhou para o lado da cozinha, ele tentou olhar pelo friso da porta.
- Viu você está fazendo muito barulho, eles vão nos pegar e você vai morrer, eu não, só você que vai morrer, você faz tudo errado, ele mudou a voz novamente.
- Xiiii, viu, tem gente aí, e agora?
Ele trocou de lado e a voz brava perguntou.
- Quem está aí?
Eu corri para a cozinha e dei uma pancadinha na porta, a bacia pendurada no prego fez barulho, mas eu entrei rápido e subi para o meu quarto.
Eu pensei comigo, que louco, hoje ele está doidão, alucinado, se eu contar ninguém vai acreditar, tinha que ter filmado, isso já não é mais louco é insanidade, camisa de força é pouco, é caso de internar no hospício.
- Literalmente. disse a minha esposa.
- Vixxii era para chamar cata louco, caso de hospício daquele de alta periculosidade. disse a minha esposa perplexa e depois riu.
- Meu que loucura.
- O Cara foi um perfeito ator, digno de um Oscar, se um dia eu escrever um livro e um ator interpretar essa cena desse jeito, ele ganha um Oscar com certeza, fácil, aquilo foi melhor que muitas peças de teatro, teve drama, comédia, foi hilário ao extremo, foi tudo ao mesmo tempo, acredito que foi a coisa mais louca que já vi na minha vida, eu ali no escuro assistindo aquele espetáculo, só faltou a pipoca e poltrona reclinável, eu poderia ficar a noite toda assistindo aquilo, que ator, que interpretação, foi muito emocionante, o medo de ser descoberto, foi uma experiência única.
- Posso imaginar, aliás não dá para imaginar, deve de ter sido muito doido, algo único é impossível imaginar algo assim.
- Agora eu fico pensando, como uma moça bonita e cheia de dinheiro se envolveu como seu primo, com essa loucura toda e ainda por cima ele passou Aids para ela coitada, como ela se chamava mesmo?
- Também não lembro do nome dela, eles se chamavam de um nome carinhoso, Chuchuzinho, algo assim.
- Era muito falso, falso foi o que ele fez comigo e com ela, nessa época eu já estava desempregado e vivia de bico e de rolo, fazia um bico aqui, um rolo ali, nessa época até apareceu uma entrevista de emprego em uma empresa boa, eu fui na entrevista de emprego e passei, mas no dia que eu iria começar a trabalhar novamente o meu primo me roubou durante a noite o outro rádio que eu havia comprado, com o dinheiro dos bicos que eu estava fazendo, era um rádio menor do que o primeiro que ele roubou, ele era vermelho bonitinho e tinha um som bom, mas não aproveitei nada ele, acho que não durou um mês, naquele dia quando acordei para ir trabalhar o rádio havia sumido, o criado mudo estava vazio, acordei todo mundo naquele dia, xinguei de tudo quanto foi nome, dei um show e no fim eu falei.
- Quer saber de uma coisa, eu não vou trabalhar coisa nenhuma, para quê, não posso ter nada que esse desgraçado me rouba, vou ser vagabundo igual esse filho da puta, eu falava isso e tentava pegar ele, mas a minha tia, o meu pai e a minha avó entrava na frente e não deixava, o desgraçado ainda estava drogado sobre o efeito da droga com a boca torta com o meu patrocínio, com a droga que ele deve de ter pego na troca pelo o meu rádio, ele correu e se escondeu dentro do guarda roupa, eu dei um monte de paulada no guarda roupa para assustá-lo, ele saiu do guarda roupa com os olhos arregalados com a boca seca e torta, correu e subiu na caixa d'água, eu podia ter pego ele, mas não sou covarde e a minha avó estava na frente podia ter machucado ela, que coitada gritava.
- Acabei de arrumar a caixa d'água você vai quebrar de novo, mas o desgraçado era egoísta e não estava nem aí, para o que era dos outros, quebrava e roubava.
- No fim deixei para lá, não adiantava bater nele naquele estado.
- Mas a única coisa que ele não conseguiu me roubar foi um relógio, porque eu não tirava do pulso, havia comprado com o dinheiro dos meus bicos e rolos, só não virou pó, por causa que sempre estava comigo, caso contrário já tinha sumido também.
- Nessa época eu queria aprender a tocar algum instrumento musical, eu e os meus amigos queríamos montar uma banda, na época eu queria aprender a tocar violão, guitarra ou contrabaixo, que era o que eu mais gostava, então o que eu fiz, eu conheci um cara que tinha uma guitarra, propus um rolo para ele, trocar o meu relógio com a guitarra dele, o relógio valei a um pouco mais, mas eu não fiz questão , porque já estava acostumado a perder coisas de valor, a minha vontade de aprender a tocar guitarra ou violão e contrabaixo era maior, eu até tinha conseguido um rolo em um violão velho e quebrado, que estava remendado, comecei a estudar com ele, pelo menos para entender as notas, mas não consegui evoluir porque o violão não afinava devido ao braço estar remendado e não deixava afinar as notas, pensei que a guitarra iria me ajudar e seria mais fácil e assim fiz o rolo com o cara, dei o relógio e peguei a guitarra e isso foi na mesma época que ele começou a namorar com ela, ela havia dito que tinha um loja de instrumentos musicais, então eu tive a infeliz ideia de perguntar para o meu primo, se ela não podia trocar a guitarra por um contrabaixo, e é lógico que ele concordou na hora, foi a oportunidade de pegar algo e ficar um tempo sem ser descoberto, então eu falei, legal, então um dia eu cheguei em casa e quando entrei no meu quarto e fui pegar a guitarra, ela não estava lá, eu costumava deixa-la pendurada em um suporte na parede, ela era vermelha e contratava com a parede azul clara, o que deixava uma decoração bem legal no meu quarto, e quando entrei no quarto a parede vazia foi chocante, dava para perceber que estava faltando alguma coisa, porque na parede oposta eu também tinha uma prancha de surf pendurada na parede, era um prancha quebrada, remendada que não servia para nada, só para decorar, por isso o meu primo nunca a roubou também, ele foi surfista e sabia que a quela prancha não valia nada, mas não duvido que não tenha passado nada na cabeça dele sobre rouba-la e tentar enganar alguém até então, porque depois ela sumiu também, junto com o meu Skate velhinho, que o shape estava todo destruído, já não tinha nose e tail, era só um resto de madeira, mas ele conseguiu vender assim mesmo e na parede à direita ficava o violão quebrada também, que depois mesmo quebrado o meu primo sumiu com ele e com a prancha, tudo que ele podia pegar e dar um jeito de enganar alguém, ele fazia, não tinha consideração com ninguém, era egoísta ao extremo, só interessava o vício dele e de como aliviar o seu desejo de se drogar, então nesse dia quando eu vi a parede vazia, eu pensei comigo, pronto virou pó e já desci bravo xingando pronto para bater nele, mas antes que eu falasse alguma coisa ele já foi falando.
- Eu levei a guitarra para o meu Chuchuzinho.
- Quem é Chuchuzinho, é algum traficante?
- Não a minha namorada. Ele até falou o nome dela na época, mas agora eu não lembro.
- Ah tá!
- Eu levei para ela ver se consegue trocar para você, mas ela falou que tem que esperar um pouco, um contrabaixo com o preço equivalente, porque os que ela tem lá são todos muito caros.
Eu concordei balançando a cabeça e disse.
- OK, está bom. até me senti mal por desconfiar dele, pobre inocente ingênuo que fui.
- Acreditando na história assim, mas o tempo foi passando e nada dela me dar uma resposta, como eu não tinha intimidade com ela, nunca cobrava porque ele dizia para não fazer isso, deixava que ele falava com ela, e toda vez que eu a via, o meu primo dava um jeito de desconversar e disfarçar, até que um dia eu cheguei em casa tarde da noite e peguei os dois transando no colchão que agora ele colocava no meio da sala para dormir com ela, os dois estavam pelados na sala, eu cobri os olhos para respeitar a moça e não ficar olhando ela pelada, mesmo o meu primo sendo um canalha, eu não sou talarico e tenho os meus conceitos de respeito com a mulher do próximo, assim ela puxou uma coberta e se cobriu, ela estava em pé no colchão tentando achar a roupa dela, ela estava morrendo de vergonha, eles acreditaram que eu já estava em casa dormindo, porque já era tarde, eu cheguei de madrugada em casa e como eu costumo fazer pouco barulho quando chego tarde, eles não perceberam eu entrando, devido estar no rala e rola, eu fiquei um pouco sem graça de atrapalhar o dois, eu e a moça estamos com vergonha um do outro, mas o safado do meu primo , não estava nem ai, parecia estar gostando daquilo e ficava desfilando todo peladão, estava bem à vontade com o pinto balançando para lá e para cá, como se não tivesse perigo da minha avó descer ou a mãe dele.
- Eu pedi desculpa para a moça e subi para o meu quarto, isso só piorou a situação, depois disso eu morria de vergonha dela e ela de mim e não podia perguntar ou não tinha coragem de perguntar, se ela tinha conseguido trocar o instrumento por outro e toda vez que ela me via ficava vermelha de vergonha e assim o tempo foi passando e demorando para saber como resolver isso, até que um dia ela estava sozinha na sala e eu cheguei da rua e o meu primo havia saído por algum motivo, acho que tinha ido se drogar longe dela ou algo assim, estava enrolando ela que ficou sozinha na casa da minha avó esperando por ele, aí eu pensei é agora, vou aproveitar e perguntar sobre o contrabaixo, mas antes que eu dissesse qualquer coisa, ela falou primeiro.
- Mocinho, posso falar com você um segundo?
Eu inocentemente, pensei: oba! Agora ela vai falar que conseguiu o meu baixo e balancei a cabeça dizendo que sim, então ela começou a falar.
- Eu não aguento mais dar presente para o meu namorado o seu primo e você roubar dele para comprar droga, eu dou tênis, blusa, relógio e outras coisas mais e você rouba tudo, quem você pensa que você é para ficar roubando os outros assim?
Em um primeiro momento eu fiquei sem resposta e confuso e não falei nada e ela continuou.
- Você não tem vergonha na cara de ficar roubando os outros, de pegar algo que não é seu.
Eu fiquei ali sem saber o que dizer ou por onde começar, até que a minha avó se intrometeu e disse dando risada.
- Ele roubando do primo, tenha santa paciência é ao contrário, é o primo que rouba tudo dele, o coitado não pode comprar nada ou ter qualquer coisa que o safado do primo pega tudo para comprar droga.
- Não ele falou que é ao contrário, não é sogra, não foi que até a senhora confirmou aquele dia?
A minha tia também sem saber por onde começar e o que falar, balançou a cabeça e disse.
- É ao contrário mesmo, é o meu filho que rouba todas as coisas dele, o menino aí nunca pegou nada do meu filho, pelo contrário até tenta ajudar ele a largar desse vício maldito, então tudo que você der para ele, ele vai trocar por droga, qualquer presente que tenha algum valor, vai virar droga ou pó, possivelmente tudo o que você deu para ele já não existe mais nada.
A moça olhou para mim sem saber o que dizer, querendo chorar.
- Eu acabei de dar uma blusa para ele, porque ele falou que não tinha mais nada para vestir porque o primo estava roubando as coisas dele.
- Vamos ver se ele vai voltar com a blusa, você o viu saindo com ela, se você puder esperar, você vai ver com os seus próprios olhos.
- Mas porque a senhora confirmou aquele dia e não me falou que era mentira.
A minha tia tentava falar alguma coisa, mas não saia nenhuma palavra da boca dela, a moça olhou para mim, mas não pediu desculpa, então eu até contei a história da guitarra.
- Ele também estava me enganando, ele falou que você tinha uma loja de instrumento musical, então eu pedi para ele pedir para você trocar uma guitarra por um contrabaixo.
- Que guitarra? Falou a moça. Ela não precisava falar mais nada, que eu já tinha entendido o que tinha acontecido, a minha guitarra já era, já tinha virado pó.
Depois desse dia a moça ficou com vergonha de ir lá em casa e com medo de que eu iria fazer alguma coisa com o meu primo, então a maluca teve a péssima ideia de levar o meu primo para morar com ela em um apartamento, ela tinha este apartamento, mas também morava com os pais, porque viajava muito a negócios, mas deixou o meu primo morando lá e quando ela queria ficar com ele, ela o encontrava lá e dois ficavam de boa, de “boa” nem tanto, acredito que o meu primo deve de ter dito alguma coisa para ela: Dizendo que eu iria mata-lo ou coisa e tal e a coitada acreditou. Então depois de algumas semanas que ela deixou o meu primo morando lá sozinho no apartamento, alguns vizinhos ligaram para ela dizendo que o barulho e o entra e sai do apartamento de madrugada estava insuportável e que estava destruindo o apartamento como ela estava viajando e não conseguiu retornar rápido, quando ela deixou o meu primo lá e saiu para resolver os seus negócios, o apartamento tinha de tudo, estava todo mobiliado e bem arrumado, quando ela retornou de viagem, encontrou o apartamento vazio e todo destruído, a porta do apartamento aberta, as paredes sujas de sangue, escrito: Heroína ou Ironia? os móveis haviam sumido e a polícia queria falar com ela, porque depois que o meu primo vendeu tudo de valor que havia no apartamento, e com o dinheiro fez festa e levou outros viciados para lá, quando acabou o dinheiro, ele pegou fiado com os traficantes locais daquela região, e os traficantes foram lá cobrar levados por outros viciados, o meu primo fugiu e largou tudo aberto lá, o resto que ficou os viciados e os traficantes levaram, os vizinhos até chamaram a polícia, mas quando a polícia chegou já era tarde, o meu primo saiu fugido com medo de morrer e voltou correndo para a casa da minha avó, o pior que a moça quando estava saindo do apartamento, foi abordada por dois traficantes que queriam o resto do dinheiro, a coitada teve que pagar mais dinheiro e ainda ficou com o prejuízo do apartamento, teve de pagar uma multa do condomínio e depois ainda teve que comparecer na delegacia para se justificar porque os vizinhos estava pensando que ela também era viciada e estava conivente com aqueles drogados. Depois disso ela não apareceu por um tempo, até um dia que cheguei em casa e a minha tia estava desesperada sem saber o que fazer e pediu para eu ir ajudar a moça.
- Corre! Se não ele vai matar ela, eles estão lá no quarto da vovó.
Eu subi correndo as escadas e quando eu cheguei no quarto, a moça estava chorando segurando o braço com dor, ele tinha machucado ela e quebrou o braço dela, quando ele me viu se afastou dela com medo de eu ir para cima dele, eu fui até a moça peguei ela pelo braço que não estava machucado e a ajudei sair dali, acredito se eu não chego àquela hora ele tinha matado ela, mas mesmo assim ele tinha conseguido quebrar o braço dela, além de tudo ainda era covarde e batia em mulher.
Depois disso ela desapareceu e só aparece uns meses depois, dizendo que estava com Aids e coincidiu com a morte do Chantilly, que havia acabado de morrer e a causa tinha sido pneumonia, mas o real motivo era porque ele tinha Aids e ninguém morre de Aids, mas de alguma doença que não se cura.
- Que Lazarento, acabou com a vida da moça, a moça também era uma tonta, porque se é comigo eu tinha matado ele dormindo, que desgraçado destruiu a vida dela. Disse a minha esposa indignada.
- Eu sei. disse eu balançando a cabeça concordando com ela, com um olhar de lamentação.
- E o maldito do Lazarento falou que era você que roubava as coisas dele, esse merece ir para o inferno, eu até queria desejar que estivesse em um bom lugar, mas se existe justiça divina acredito que ele está pagando.
Eu fiquei olhando para a minha esposa pensativa.
- Me dá mais alguns pregadores e me ajuda a estender essa coberta, parei no tempo e já estou demorando para acabar com isso, também quando penso que já ouvi de tudo, o pior que posso imaginar, você me vem com outra história pior que a outra.
Capítulo XIV. Cadê o Peru do Natal?
- Então quer dizer que ele vendeu duas geladeiras e ninguém falou nada, roubou a da namorada do apartamento e a da sua Tia que estava na casa da sua avó, que absurdo, como alguém rouba uma geladeira e ninguém vê, olha o tamanho disso, como alguém consegue carregar sozinho. disse a minha esposa enquanto abria a geladeira para pegar alguma coisa para o almoço.
- Na verdade a geladeira da namorada, os viciados da região deve de ter ajudado ele a carregar, agora o da casa da minha avó, a geladeira que era da minha tia, eu já não estava mais morando lá e nessa época a minha tia tinha voltado a casa do meu tio e estava tentando voltar com ele, o meu primo se aproveitando da situação, falou que a minha tia tinha pedido para ele levar a geladeira para ela na casa do pai dele, a coitada da minha avó e o meu pai, não suspeitaram de nada e deixaram ele colocar a geladeira na camionete e levar embora, só depois quando a minha tia, conversou com a minha avó que foram descobrir que era mentira ele conseguiu vender a geladeira e gastar tudo em droga.
- Mano do céu, que história cabeluda, tenho que concordar o homem era bom de xaveco ou tramoia, meu Deus, não sei como ele não vendeu a casa da sua avó.
- Porque não tinha documento. Disse eu rindo.
A minha esposa riu, mas ainda estava incrédula e disse.
- Quando ele vendeu a geladeira nós já estamos casados, agora eu lembro que fui com você em um Natal, nós ainda namorávamos e não tinha Peru na ceia de Natal, mas eu lembrava que você falou que alguém já tinha comprado, mas não estava na mesa da ceia e você falou que o seu primo tinha vendido o Peru de Natal para comprar droga, que absurdo o cara roubou o Peru de Natal e vendeu ou trocou por droga, na hora que você falou, achei que você estava brincando, você vive fazendo piadinhas, até achei que era brincadeira mesmo, eu lembro que na mesa tinha um frango, Brioche, pavê, Rabanada, Pernil, tinha arroz e outras coisas, mas não tinha nenhum Peru, tinha muitos doces porque a sua tia e a sua avó eram ótimas cozinheiras, contando ninguém acredita uma coisa dessa, não dá para acreditar, o cara trocou o Peru da ceia da família por droga, se eu não tivesse visto com os meus próprios olhos diria que era mentira.
- Pois é, qualquer coisa que ele podia fazer rolo, vender ou trocar era uma moeda de troca por droga, era o que ele fazia para se drogar.
- Eu lembro que essa época foi muito difícil para você, você estava magro com a cara chupada, tinha olheiras, o rosto estava bem magro, eu não sei o que vi em você nessa época, você era só o pó Zé ruela. Falou a minha esposa rindo e tirando sarro.
- Sim foram tempos difíceis, mas eu lembro que quando comecei a trabalhar e não dormia direito, uma noite que eu estava voltando da sua casa e no caminho eu encontrei um amigo e ele perguntou se eu não queria trabalhar?
- Eu pensei duas vezes antes de responder, mas respondi que sim, o rapaz falou que tinha que começar sempre às 05:00 horas da manhã e já logo na primeira noite que tinha que acordar cedo, o meu primo deu Show e não deixou ninguém dormir aquela noite, corria para o guarda-roupa, subia na casa, brigava com a mãe, foi um inferno e quando o cara chegou para me buscar para ir trabalhar, eu já estava acordado, aliás eu nem tinha dormido e assim foram algumas noites, eu ia trabalhar sem dormir e não podia comprar nada , porque tudo que eu comprava ele roubava para comprar droga, continuava na mesma situação, mas um dia eu estava tão de saco cheio dessa situação, que eu estava na cozinha e ele do lado da mesa e eu perto da pia e a minha tia e a minha avó perto da porta que dava para o quintal do fundo, estávamos discutindo e ele falou para mim assim:
- O que foi, o que você está olhando quer brigar, quer sair no soco... E antes que ele terminasse a frase, eu fui dando socos nele, da pia até o armário do outro lado da cozinha, dei um monte de socos nele, só parei de bater quando a minha tia e a minha avó entraram no meio de nós e o covarde aproveitou e me deu um chute no saco e correu até a gaveta da pia para pegar uma faca e veio para cima de mim com a faca eu agarrei na faca, cortei todos os meus dedos e empurrei ele, depois eu corri para a sala e sai para a rua, ele veio atrás com a faca, quando eu cheguei na rua, havia um buraco cheio de pedras de asfalto, daquelas que se usa para pavimentar rua, eu peguei algumas e atirei nele com toda força, atirei para acertar na cabeça, mas ele se abaixou e a pedra bateu na parede fazendo um buraca que saiu até fumaça, se tivesse acertado a cabeça dele eu acho que tinha matado, mas tinha atirado para matar mesmo ele pegou a pedra e jogou de volta , eu peguei mais pedras e fui atirando sem parar ele correu e entrou de volta para dentro de casa e depois disso eu ainda tinha que me trocar para ir trabalhar, fui trabalhar com a mão toda cortada, mas antes de eu sair, ele estava doidão e pegou a faca e cortava a própria barriga, querendo dizer que não tinha medo, era quase todo dia assim.
- Experimenta esse feijão para mim, vê se está salgado. Pediu a minha esposa, com uma colher cheia de sopa cheia de caldo de feijão para eu experimentar do feijão que ela estava preparando para o nosso almoço.
- Hum, está um pouquinho salgado, vai me fazer mal. disse eu para ela após experimentar o caldo do feijão.
- Deixa eu tentar arrumar. Ela colocou mais água.
- Experimente agora! disse ela colocando uma colher com caldo de feijão na minha boca, já sem paciência.
- Coloquei mais água, pronto agora não tem gosto de nada. disse ela brava porque falei que o feijão estava salgado, eu devia ter ficado quieto.
Ela ficou calada tentando melhorar o tempero do feijão, batendo a colher na panela e no fogão e depois ficou resmungando, eu esperei um pouco ela se acalmar e me oferecer de novo para experimentar o caldo do feijão.
- Estou experimentando agora! disse ela enfiando a colher sem paciência na minha boca.
- Hum!! Que delícia, agora sim está perfeito. ainda estava salgado, mas eu sabia que não podia dizer isso, mas ela chamou a minha filha para experimentar.
- Filha experimenta esse feijão para mim. ela pegou um pouco do caldo do feijão e colocou na boca da minha filha, eu fiquei gesticulando para a minha filha não falar que estava salgado, mas.
- Está muito salgado mãe. Aí eu tentei avisar ela.
- Salgado! essa droga ainda está salgada, ah vocês vão comer assim mesmo, se quiser vocês que façam outro.
A minha filha olhou para a minha cara, eu estava sinalizando para ela com os olhos, querendo dizer, eu tentei te avisar para não falar.
- Pelo menos faça alguma coisa, arruma a mesa para nós almoçarmos!
Eu e a minha filha, pegamos a toalha de mesa e colocamos sobre a mesa, depois os pratos, os copos e os talheres, a minha esposa nos serviu e nos sentamos para almoçar.
- Aposto que naquela época que você estava magro não comia uma comidinha assim feita com carinho.
- É naquela época eu sentia muita falta disso, coitada da minha avó e da minha tia, era difícil se concentrar para ter um almoço de família, diante dos fatos daquela época, mas quando eu comecei a frequentar a sua casa, foi uma das coisas que me fez não querer ir embora e querer ficar lá, fui justamente nessa época que eu dormi pela primeira vez na sua casa, eu dormi no sofá na sala, e fazia tempo que não dormia tão bem, mas na verdade eu precisava de um lugar para dormir e melhor ainda se eu pudesse ficar mais tempo com você
- Safado pilantra, eu sei bem quais eram as suas intenções.
- O que?
- O que é, eu posso dar detalhes, porque a minha filha está aqui agora. disse a minha esposa olhando para minha filha que disse.
- Eu não quero ouvir nada disso, por favor me poupe. disse ela tampando os ouvidos.
E nós rimos bastante da cena e eu continuei.
- Eu me lembro como se fosse hoje, naquela noite quando eu cheguei em casa depois de trabalhar o dia inteiro, me deparei com o meus troféus todos quebrados e jogados os pedaços no canto da sala no chão, como se alguém tivesse varrido e deixado ali, mas não fiz questão nenhuma, porque o que me interessava era ganhar o campeonato, o troféu era só um símbolo, dei de ombros e subi para o meu quarto para se trocar não me preocupei com nada, porque não tinha mais nada para ele roubar no meu quarto, que antes era um quarto de adolescente muito legal ,como já falei que antes dele ir morar lá, no meu quarto tinha uma prancha de surf pendurada na parede, o meu rádio ao lado da cama, em cima do criado mudo, a parede do lado da minha cama era toda grafitado do chão ao teto, fora outros desenho que haviam espalhados pelas outras paredes do quarto, o violão que não funcionava pendurado na parede oposta do Graffiti, ao lado de um pequeno desenho feito com estêncil do Garfield, a minha bicicleta e o meu Skate.
- Você já falou isso. disse a minha esposa.
- Sim, falei para você, mas a nossa filha não sabe disso. disse eu apontando para minha filha que retrucou.
- Você já me falou isso milhões de vezes. disse ela fazendo uma cara de adolescente impaciente.
- Tá, está bom, mas aquele, quando olhei para o meu quarto e pensei, é! está vazio, não tem mais nada, só o guarda-roupa velho caindo aos pedaços, sem porta que o meu primo também conseguiu quebrar, eu não sabia o que sentir ou pensar sobre aquilo, mas tinha um pensamento de que o que se foi, só eram bens materiais, que no fim se só se torna lixo ou resto de alguma coisa, o que importa são as pessoas o ser humano e a lição que tiramos disso, mas eu tinha um problema, eu tinha que pôr o rádio do serviço para carregar e deixar o bip do serviço junto, eu não podia sair por aí carregando o bip e também não podia deixar o rádio carregando na casa da vizinha onde estava o resto das minhas coisas, não podia abusar e usar a energia dela também para carregar o rádio, e na sua casa eu ainda não tinha tanta intimidade assim, então eu o deixei carregando na tomada do meu quarto, ainda meio que escondido, inocente pensei acha que o meu primo, não iria pegar aquilo, o que ele iria fazer com aquilo, ainda deixei junto da bota do serviço, debaixo da cama, mas ele ficava acesso um luz vermelha que ficava verde depois de carregado, e eu me lembro que era uma sexta-feira de carnaval por isso havia trago o aparelho para casa, o rádio Walk Talker e o Bip Pager do serviço, assim os deixei carregando, pensei várias vezes acreditando que o condenado não iria pegar e colocava embaixo da cama, atrás do criado mudo, tentei esconder de tudo quanto foi jeito, porque precisava deixar carregando, então tomei banho coloquei uma roupa qualquer e fui me trocar na casa da vizinha, onde estava as roupas novas que havia comprado e fui para a sua casa, nós ficamos juntos o feriado de carnaval inteiro e só voltei para casa terça feira a noite, quando cheguei em casa, estavam todos preocupados, dizendo que o meu primo havia sido preso e estava na cela da delegacia perto de casa, o meu pai era o mais agitado e falava sem parar.
- Dessa vez ele paga, ele vai pagar por tudo o que ele te fez e te roubou.
- Mas porque ele vai pagar? Perguntei por que não estava entendendo nada, até que a minha tia me explicou que.
- Ele foi pego tentando vender o rádio, o bip e a bota do seu trabalho.
Eu não acreditei, coloquei a mão na cabeça e só pensava eu estou ferrado, vou perder o emprego, por causa desse vagabundo, mas não consegui acreditar no que ela estava me contando.
- Tá tia, mas como que ele foi preso com as minhas coisas, como a polícia sabia que era roubado, o que aconteceu? Perguntei por que não estava entendendo nada.
- Ele foi preso porque quando a polícia o abordou e encontrou o rádio com ele, a polícia acreditava que ele estava tentando ouvir o rádio da polícia, mas quando eles modularam o rádio, a coisa ficou pior, porque quando o policial usou o rádio, uma pessoa o respondeu do outro lado, o policial perguntou de onde era e a pessoa do outro lado respondeu que era de uma empresa de carro forte de transporte de valores.
Entendi na hora o que aconteceu e respondi com um sonoro.
- Vixxii!! A polícia pensou que ele estava armando um esquema para assaltar a empresa de carro forte. Eu deduzi na hora e a minha tia consentiu balançando a cabeça e disse.
- E agora você tem que ir lá na delegacia, eles querem saber quem é o dono da rádio. dizia ela desesperada coitada.
- Eu vou com! Você disse o meu pai de primeira com vontade de fazer justiça.
No caminho o meu pai foi falando como eu nunca tinha visto ele falar, ele estava nervoso e com raiva e dizia.
- Você não pode ser bobo, mais do que ele já te fez de bobo, tem que registrar um Boletim de Ocorrência e dar queixa, porque se você não fizer isso, pode ser considerado cúmplice daquele desgraçado e ainda por cima perder o emprego que te arrumei com muito sacrifício, você tem que por esse vagabundo na cadeia, Deus me perdoe por falar assim do meu próprio sobrinho, filho da minha irmã, mas olha o que ele fez com as nossas vidas, principalmente com a sua, será que isso nunca vai ter fim.
O meu pai falava tudo aquilo, mas eu só conseguia pensar, porque ele achava que tinha conseguido aquele serviço para mim, não tinha nada a ver, acho que ele estava louco de raiva e não sabia o que estava dizendo.
Chegando na Delegacia, fiquei esperando a minha vez para ser atendido, a delegacia estava cheia de gente, quando o Delegado me chamou para depor, eu contei tudo o que estava acontecendo para ele, que o meu primo era viciado e que já vinha me roubando tudo o que eu tinha, que me deixou quase pelado e sem nada, que roubou o rádio, guitarra, contei tudo para o delegado e expliquei que os aparelhos que estava com o meu primo quando ele foi abordado e o rádio Walk Talk era do meu trabalho, mas o Delegado queria explicação porque que quando o policial modulou o rádio estava no canal da empresas de transporte de valores, eu só tinha uma explicação, que era que o rádio ficou o final de semana inteiro carregando e o sinal dele deve de ter ficado muito forte, que às vezes acontecia de entrar em outros canais o rádio, o que realmente era muito comum , pessoas que não eram da nossa empresa entravam no nosso sinal, principalmente no centro de são Paulo, acontecia muito, acostumados até a conhecer e reconhecer as pessoas que cruzavam o s nossos sinais, muitas vezes até o sinal da polícia, seguranças do metrô, etc.
O Delegado chamou o Policial e pediu para ele verificar os braços do meu primo para verificar o que eu estava falando sobre ele ser viciado em aplicar droga.
- O Senhor aguarda um pouco até o detetive ir lá averiguar o que você falou, mas agora em relação ao rádio, o bip e a bota, eu preciso que uma pessoa legal por parte da empresa, venha representar e retirar com a nota ou algum documento que comprove o que o senhor relatou, a bota você pode levar, naquela hora e um pensei ferrou, e agora o que ele vão achar disso tudo, vou perder o meu emprego, vou ser mandado embora por se envolver em algo assim, depois de alguns minutos o detetive voltou assustado com o que ele tinha visto.
- Doutor, a coisa é feia, o homem não tem mais os canos, as veias estão todas estouradas, dos dois braços. O Detetive se referia a canos de água como veias humanas.
- Ele também costuma aplicar na veia da testa ou da perna e até no dedão do pé. Eu explicando para o Delegado os detalhes, que o meu primo improviso para se drogar, porque as principais veias estavam muito machucadas, de tanto se drogar.
- Eu nunca vi isso na minha vida e olha que tenho experiência nisso. disse o delegado abismado como o meu primo se aplicava em outros locais no corpo, porque as veias dos braços estavam tão machucadas que ele não conseguia mais se aplicar pelo braço.
O Delegado olhou para mim e disse:
- Na testa e no dedão do pé? Como não acreditava na situação que estava diante dele, disse ele balançando a cabeça.
- É Doutor ele faz isso há tantos anos, que machucou os seus braços, acho que nem pega mais a droga na veia do braço, ele destruiu os canos dele do braço e os canos de esgoto da casa da minha avó, por causa disso.
- Como assim ele estragou os canos de esgoto?
- Ele depositava as seringas usadas pela descarga, depositou tantas durante alguns anos que o entupiu todo o esgoto, a minha avó teve que contratar um encanador para desentupir. tentei explicar para o Delegado como foi.
O Delegado estava perplexo, mas tanto ele como o Detetive que ouvia o que estava contando, o detetive chama mais gente para ouvir aquilo desacreditando que podia ser verdade, ele só acreditava porque ele viu com os próprios olhos os braços do meu primo machucados e depois toda hora levava alguém com ele para mostrar os braços e agora a testa e o dedão do pé, ele mostrava o meu primo para as outras pessoa dentro da cela, como uma aberração, o meu pai contou o inferno que virou a casa da mãe dele e da importunação diária que era a casa por causa dele depois que se drogava.
- Bom, ele vai ficar detido, foi pego em flagrante com um produto suspeito e agora fruto de furto, você prestou queixa contra ele e como os aparelhos são da empresa, você precisa avisar que precisa vir alguém aqui retirar representando a empresa, mas também serão notificados judicialmente, por hora é só e vocês estão dispensados, dedão do pé, cada uma que me aparece. termina o Delegado não acreditando ainda na história.
Voltamos para casa, contamos para a minha tia o que tinha acontecido e que ela precisava contratar um advogado, porque o filho dela ficou detido e vai responder por suspeita de crime e furto qualificado.
- Ela entrou em pânico, chorou bastante, mas ao mesmo tempo parecia um livramento para ela, aquela noite ela iria conseguir dormir, porque não iria ter show, mas também estava preocupada, talvez sim ou talvez não, porque coração de mãe sabe como é né. Mas aquela noite todos dormiram bem, estavam exaustos e cansados, foi uma noite tranquila, sem briga escândalo, batucada de porta, como havia acontecido umas noites que antecederam esse dia, eu tinha conseguido colocar o meu primo para fora de casa, tomei a chave dele e falei para ele ir embora e não voltar mais, inocência da minha parte achando que ele iria mesmo embora, durante a mesma madrugada, ele arrombou a porta da cozinha do fundo, a bacia que ficava pendurada atrás da porta fez um barulhão, foi um escândalo que acordou toda a vizinhança, o barulho foi tão alto que o s vizinhos foram em casa reclamar e queriam pegar ele, desse jeito acabamos deixando ele dentro de casa se ele saísse a vizinhança lixava ele, e assim ele acabou ficando.
Agora essa noite o silêncio só era interrompido pelo rádio do meu pai e assim foram as noites por dois meses, que foram o s meses que ele ficou detido e quando ele saiu da cadeia me jurou de morte, falou que quando saísse iria me matar, por causa disso eu tive que morar na casa deum amigo porque na época a sua mãe ainda não aceitava eu dormir lá direto, mas os pais do meu amigo também não deixaram eu morar lá por muito tempo e tive que voltar para a casa da minha avó; quando eu voltei era um domingo à noite e fui para o meu quarto, eu estava cansado, mas antes de dormir pensei nas minhas coisas, mas lembrei que já tinha deixado na vizinha uns dias atrás depois daquela briga que tivemos na escola, que você falou que eu estava colando de você durante a prova, mas eu não estava, só estava pensando alto e tentando lembrar um detalhe, tanto que tirei a nota mais alta que a sua, eu tirei B+ e você B naquela prova de matemática, aquele dia a minha cabeça estava a mil, eu precisava passara de ano de qualquer maneira, estava nervoso e não tinha para onde ir, não podia ficar na casa da minha avó, porque o meu primo poderia fazer alguma maldade comigo dormindo e também não podia mais incomodar a casa do meu amigo e não podia ficar na sua casa a sua mãe não me deixava dormir lá, os pai do meu amigos disseram que estava tendo muita despesa e que eu não podia mais ficar lá e na sexta feira dia da prova, depois despegar as minha coisas e colocar dentro de uma mochila, que tudo o que eu tinha naquela época cabia dentro de uma mochila túnel o que eu tinha se resumia a uma mochila, eu havia estudado o dia inteiro porque não podia tirar nota vermelha senão eu ria repetir porque já havia tirado nota vermelha na primeira prova e não iria concluir o colegial e consequentemente iria perder o meu emprego que estava exigindo o diploma do colegial, agora imagina a minha cabeça como estava e você não foi nem um pouco compreensiva, me deixou mais para baixo, dizendo que eu queria colar de você e continuou dizendo me deixando mais nervoso, e continuou dizendo até depois que a professora havia recolhido as provas, ainda bem que fiquei nervoso depois disso, porque se fosse durante a prova, ela tinha me reprovado, na verdade eu não sei até hoje como ela não me reprovou, depois de eu rasgar o meu caderno no meio e jogar na lixeira e chutar a carteira na lousa e a lata de lixo, ela gritou.
- Vai para a Diretoria agora!
Eu me levantei, pulei o muro e fui embora deixando as minhas roupas dentro da mochila na sala de aula, a sorte que você pegou a mochila para mim e a levou até a casa da minha avó, a sorte que você foi atrás de mim aquele dia, com a mochila pesada.
- É eu lembro quando te encontrei você estava se sentando na entrada da casa da sua avó sem saber o que fazer e quando cheguei perto de você, você ainda foi grosso comigo.
- Eu devia ter falado bem feito para você por ter carregado aquela mochila pesada e mais os seu material e o meu, mas ainda te agradeci muito, só estava chateado e desesperado sem saber o que fazer, mas fiquei muito feliz quando te vi, porque você era a minha única esperança, e você realmente foi, depois que deixamos as minhas roupas na vizinha, eu fui com você até a casa da sua mãe e explicamos a minha situação, ela me deixou passar o final de semana lá, mas depois do final de semana eu tive que voltar para a casa da minha avó, aquela noite havia sido a pior noite da minha vida até então.
- Quem vai lavar a louça eu já cozinhei, ou você ou a sua filha lava.
- Eu lavo com maior prazer.
Capítulo XV. A Arte de perdoar.
- Está mais calmo nervosinho? Parecia que tinha uma escola de samba no quarto, de tanto que você roncava.
- Nervosinho, você é muito chata e quase me derrubou da cama, fica me acordando porque estou roncando, fica brincando com o celular e a luz do celular não me deixa dormir, me fez lembrar de quando eu voltei para casa da minha avó naquela noite.
- Empurrei mesmo, queria toda a cama para você, mas que noite, que você está falando?
- Quando ainda namoramos e eu não sabia se tinha cama ou lugar para dormir, a noite que eu estava tão cansado que desmaiei na cama e havia esquecido de tudo, de trancar a porta do quarto, porque até então quando eu cheguei o meu primo não
estava em casa e não me lembro se o meu pai estava no quarto ou na sala quando entrei, só me lembro que desmaiei em um sono profundo e só ser acordado por um barulhão, quando eu abri os olhos e tentava entender o que estava acontecendo eu olhei para porta do quarto e avistei a minha avó e aminha tia e o meu pai tentando segurar a porta do quarto, tentando impedir que o meu primo entrasse no quarto, ele estava armado com uma faca na mão, gritando que iria me matar, percebendo o que estava acontecendo, eu pulei da cama e ajudei elas a fechar a porta e passar o trinco e coloquei um móvel pesado para ajudar a segurar aporta, ele ficou ali esmurrando a porta, até parou de repente.
- Será que ele foi embora? perguntou a minha tia.
- Acho que não, melhor ter cuidado. respondeu a minha avó.
- Espera um pouco. eu falei e peguei uma barra de ferro que travava a janela e me armei com ela.
- Pronto pode abrir, deixa ele vir. eu falei segurando a barra de ferro pronto para dar um golpe.
Todos estavam tensos e com medo, mas quando a minha tia abriu a porta.
O meu primo estava sentado no chão brincando com a faca e cantando uma canção infantil, com uma voz de criança.
- Cosme e Damião, graças a Deus. disse a minha tia.
O meu primo havia incorporado a entidade de Cosme e Damião e ele quando viu a minha tia, falou para ela com voz de criança.
- Tem doce Tia?
A minha tia sempre tinha coisas preparadas para os determinados Santos, quando a sua cunhada vinha visitá-la, havia doces, Champagne para a Pombagira, pinga, cigarro para o pior de todas as entidades, que evitaremos de pronunciar o seu nome, com medo de ele se manifestar, principalmente nessa noite, assim a minha tia o pegou pela mão como se fosse uma criança e desceu as escadas com ele, que foi andando igual uma criança, pulando os degraus e rindo. Aquele primeiro susto havia passado, então voltei para a cama, depois de trancar a porta bem trancada e tentei dormir mas pouco, mas só consegui tirar um cochilo, porque logo tinha que levantar para trabalhar, então decidi levantar e tomar um banho às 04:30 horas eu costumava levantar às 05:00 horas, mas se eu dormisse iria perder a hora, então me adiantei e entrei no chuveiro, estava tomando banho, quando ouvi muito barulho e uma voz grossa e pensei, ferrou o que estávamos tremendo aconteceu, o que não pronunciamos o seu nome se manifestou e o meu primo o incorporou, só ouvia uma correria do lado de fora do banheiro e a voz gritava e eu pensava e agora não peguei a roupa estou pelado de toalha não vou conseguir me defender.
- Eu vou matar, eu vou matar!
Podia ouvir a voz da minha tia e da minha avó chorando e de repente foi um barulho muito forte, o meu primo tinha arrombado a porta do banheiro, ele segurava uma faca e veio na minha direção, tentando me acertar com a faca, eu estava molhado ainda, não tive tempo nem de desligar o chuveiro, estava molhado e pelado indefeso, mas agarrei na faca, cortei os dedos de novo, mas agarrei com força na mão dele e ele tentava medir força comigo, mas eu era mais forte que ele, então ele desistiu, mas antes de sair pela porta do banheiro ele deu um golpe com a faca contra a porta partindo a lamina da faca em dois pedaços e disse.
- Você briga bem, mas eu não tenho medo de você. disse ele me olhando com ódio.
A minha avó entrou desesperada no banheiro procurando ferimento em mim, mas eu falei que estava bem, que o sangue era só da minha mão, eu peguei uma calça suja do trabalho que estava no sexto de roupa suja para lavar, para não ficar pelado na frente da minha avó e da minha tia e para poder se defender melhor, caso ele resolvesse me atacar novamente, caso o meu primo tentasse uma nova investida, depois eu troquei de roupa, coloquei um uniforme limpo e fui trabalhar, a partir daí eu não voltei para a casa da minha avó, só voltei depois do dia que nós brigamos e quase separamos..
- Igual hoje, saiu para trabalhar e não me deu um beijo e não me ligou o dia inteiro.
- É lógico, você quase me derrubou da cama, dizendo que eu estava dominando a cama toda, mas não quis acender a luz e te acordar, saí sem fazer barulho.
- Mas está bem, não foi nada.
- Naquela época você estava praticamente morando na casa dos meus pais.
- Sim, as coisas foram ficando mais calmas assim, o meu primo havia se mudado para quartinho do fundo onde o antigamente era o ateliê do meu tio, além de se mudar para o fundo ele adotou uma cachorra que se chamava Laica, era uma mistura de pastor com vila lata, a cachorra era um amor e isso o ajudou a ficar mais calma, mas coitada da cachorra, quando via ele drogado e alterado se escondia igual o Diabo da cruz, essa mudança evitava de ficar nos encontrando, ele entrava pelo corredor e não passava pela sala, mas ficar naquela situação não dava, foi um dos motivos que nos fez decidir se casar, para poder ter sossego, um lar, uma família, um lugar para viver, porque naquela época eu estava só sobrevivendo, só sobrevivia de favor dos outros, a roupa na casa de um, dormia na casa de outro, estava sem direção, então nos casamos.
- Eu te amo. disse a minha esposa e continuou.
- Quantas coisas não passamos juntos, até aquela vez que roubaram a sua moto que você havia acabado de comprar, não bastava o seu primo te roubar, tinha que vir outros bandidos, eu lembro que os bandidos apareceram no escuro na saída do estacionamento da escola e agarraram no guidão da moto, no começo eu achei que era alguma brincadeira de algum amigo, até bandido gritou apontando arma: dá a moto! Você também ficou confuso e demorou para entender o que estava acontecendo e o bandido batia com o cano do revólver no seu peito, para você entregar rápido a moto e como você não dava a moto ele apontou o revólver para a minha cabeça e engatilhou o revólver e gritou: Você vai dar a moto ou não? e você disse. - Toma essa porra!
- Foi isso mesmo, foram épocas difíceis, mas depois que casamos pensei que teríamos paz, mas a minha avó tadinha, vivia me ligando desesperada, reclamando que o meu primo estava aprontando alguma coisa, que ele tinha feito isso ou aquilo, que naquela noite ninguém tinha dormido, por ele havia dado o show dele e me disse.
- Você pode vir trocar o vidro da porta da sala, o maldito quebrou e se cortou, mas não morre, tem sangue pela casa toda.
- E cada hora era uma história diferente, mas teve uma vez que foi preocupante, foi quando ele começou a trabalhar de segurança em uma casa de café noturna.
- Café noturna? perguntou a minha esposa.
- Puteiro, era um puteiro, cabaré, casa da luz vermelha.
- Ah! porque não falo logo, café noturna, coisa de maluco. disse a minha esposa.
Eu olhei para ela tipo querendo dizer e daí qual a diferença, mas continuei.
- Então ele era segurança de um PUTEIRO, como disse, mas depois que o PUTEIRO, fechava, algumas putas iam dormir no quartinho do fundo com o meu primo, era uma bagunça, tinha travesti, putas, veados, viciados, tudo dormindo juntos nos colchões jogados no chão, a minha avó achava aquilo um absurdo e falta de respeito com ela, a casa dela havia virado um extensão do puteiro, morria de medo do que os vizinhos iriam falar, justo ela que sempre foi uma senhora religiosa, frequentadora assídua da igreja, ela me ligava e reclamando dizendo que os vagabundos dormiam até tarde depois de ficarem o resto da noite fazendo barulho e a janela do quarto dela ficava no fundo da casa virada para o quartinho do fundo e ela me ligava reclamando para eu ir lá e botar todo mundo para correr.
Ela ligava dizendo:
- Eles estão aqui de novo, sabe lá Deus fazendo o que.
- E assim ela ficava me ligando toda hora para ir lá resolver essa situação para ela, mas uma coisa que não sabíamos e só descobrimos depois, que ele transava com as prostitutas, com os travesti e com os veados viciados que pagavam com droga, agora imagina quantas pessoas ele deve de ter contaminado com Aids, e essa putas repassando para os seus clientes, eu mesmo quando fiquei sabendo, morria de medo de ter sido contaminado por ele durante as nossas brigas de faca, onde eu vivia me cortando, principalmente as minhas mãos, igual o dia que ele ficou passando a faca na barriga se cortando porque estava incorporado por uma entidade do mal, o sangue escorria pela sua barriga, aquilo me preocupava, o contato com todo aquele sangue, mas só por Deus eu não fui contaminado.
- Mas o pior dia desse foi o dia que a minha avó me ligou dizendo que ele estava tendo uma overdose e enquanto ela falava comigo, era possível ouvir uma voz ao fundo e então a prostituta que tinha um caso com o meu primo pegou o telefone das mãos da minha avó angustiada dizendo.
- Ele está tendo uma overdose, eu não sei o que fazer, não sei se chamo uma ambulância ou a polícia.
- Não faz isso, espera um pouco, estou indo aí. disse eu.
- OK, vem logo. disse a puta toda angustiada e preocupada com o meu primo.
Quando eu cheguei a cachorra estava lambendo ele, como se quisesse cura-lo, tadinha, eu olhei e percebi que realmente era uma overdose, mas eu já conhecia as overdoses dele, já havia presenciado várias, mas aquilo estava ficando corriqueiro, as overdoses que ele vinha tendo, eu já havia visto outras piores achando que ele poderia morrer e chamamos uma ambulância e às vezes ele se recuperava dentro da ambulância e só pedia para parar que queria descer, porque sabia se chegasse no hospital teria que dar satisfação geralmente para o policial de plantão, como ele tinha conseguido a droga e coisa e tal, por isso ele evitava ir para o hospital, o pior era que quando ele voltava das overdoses sempre voltava violento, eu acho que ele estava ficando fraco e debilitado quando a droga era um pouco mais forte e também o acesso que ele estava tendo as drogas devido ao seu envolvimento com as pessoas do puteiro, por isso as overdoses frequentes e eu já estava ficando especialista, eu já conhecia os sintomas e percebi que aquela não era grave, me virei para a moça e disse para ela.
- Ele vai acordar daqui a pouco, aparentemente ele só está apreciando o efeito da droga, mas quando ele acordar, eu espero que você não esteja aqui, ele costuma acordar violento depois dessas minis overdoses e ele pode te machucar.
A moça balançou a cabeça dizendo que entendeu, mas coitada ela não tinha para onde ir, ela já estava ficando com ele a alguns meses e gastaram todo o dinheiro com as drogas e bebidas, mas foi dito e feito, depois que fui embora a minha avó me contou que quando ele acordou voltando da paranoia, voltou muito violento e acabou quebrando o braço da moça, ele tinha mania de quebrar os braços das mulheres, coisa de covarde, a cachorra até ameaçou avançar nele no dia a minha avó falou que a cadela rosnou para ele.
- Se fosse comigo eu quebrava o braço dele, isso sim, aí, essas coisas não acontecem comigo, era por isso que eu tinha vontade de machucar ele depois quando íamos visitar a sua avó e via ele na cama de hospital no canto da sala, me dava uma vontade de beliscar ele, tapar a respiração dele com o travesseiro, me despertava um coisa ruim, vontade de fazer maldade com ele.
- Eu sei disso, mas essa foi a última vez que a minha avó me ligou para resolver esses tipos de problemas, porque logo depois disso ele realmente teve uma super overdose, mas isso foi um pouco depois da audiência do roubo das minhas coisas do serviço o rádio e o Bip, eu tive que comparecer no fórum para depor no julgamento, estávamos eu o meu pai e a minha tia, minha prima e uma advogada e um advogado representando a empresa que eu trabalhava, eu tive que comparecer durante o meu horário de trabalho e fui direto durante o meu horário de almoço para ninguém ficar falando nada, quando fomos chamados nos sentamos em uma mesa grande, mas durante o julgamento o meu primo teve que ficar em uma parte separada isolada em uma pequena sala com uma porta fechada, mas eu fui direto ao ponto, estava querendo acabar logo com aquilo e tinha que voltar a trabalhar e quando o juiz me dirigiu a palavra eu falei assim:
- Eu não quero seguir com isso, eu não queria prestar queixa contra o meu primo, ele é da minha família independente do que tenha acontecido, quem vai sofrer e está sofrendo com isso é a minha tia e a minha avó, não vai ser ele que vai ter que ficar se humilhando indo visitar em um presídio, eu quero retirar a queixa e empresa que eu trabalho também já conversei com eles e com o advogado que está aqui representando, já estamos de acordo e ciente sobre isso, não quero que ele seja julgado.
- Parabéns isso é de se admirar, são poucos que tem essa atitude, todos só pensam em vingança e de como fazer justiça, agora perdoar, são poucos que perdoam, mas isso foi de livre arbítrio, da sua própria vontade, foi espontâneo ou você foi coagido por alguém?
- Foi de livre vontade da minha parte, ninguém me coagiu.
- Oh! Mais uma vez, é raro ver esse tipo de atitude nos dias de hoje, está anotado a sua vontade e o seu desejo, por hora o senhor está dispensado, daqui para frente só vou continuar os transmites para dar como o caso encerrado.
- Eu saí da sala do julgamento sozinho peguei o elevador e voltei a trabalhar e só fui ver a minha tia e o meu primo depois no sábado, a minha avó me ligou e eu achei que era problema, mas ela falou que não que a minha tia queria me agradecer, então nós fomos lá, e ela havia feito uma torta de morango, havia preparado um almoço, ela sabia que eu gostava, para me agradecer pela minha atitude de ter retirado a queixa, ela me agradeceu muito o meu primo também até me deu um abraço, mas as vezes eu penso se fiz a coisa certa, será se eu não tivesse retirado a queixa e ele ter ficado preso, talvez ele não teria ficado melhor e não ter tido a overdose que deixou ele em quase um estado vegetativo dando trabalho para a minha tia.
- Às vezes eu também penso assim, mas ele também poderia ter morrido na prisão, poderia ter acesso às drogas na prisão e ter tido uma overdose lá também, aí sim iriam achar que a culpa foi sua por colocar ele lá então o que importa é que você fez a sua parte, a sua consciência está tranquila, perdoar realmente é para poucos, como o Juiz disse, são poucos que conseguem, só os fortes, porque os fracos querem vingança e as cadeias estão cheias de pessoas que não souberam perdoar e decidiram se vingar matando ou fazendo lá sabe–se Deus.
- Sim eu fiz de coração, pensei que ele poderia até morrer na cadeia e fiz o que achava certo fazer, realmente nessa parte estou com a consciência tranquila e hoje isso me faz bem, saber que independente do que ele me fez na minha vida eu ainda tive compaixão, não carrego este fardo comigo e realmente o lugar que ele estaria não faria diferença, essa overdose que ele teve e que deixou ele naquele estado, daquele jeito, foi ele que não soube aproveitar o meu perdão, foi ele que procurou o que ele encontrou, eu perdoei, dei a segunda chance, aliás foram várias segundas chances que dei para ele, diria que deis centenas de chances.
- Eu sei, você também me deu uma segunda chance e pretendo nunca desperdiçar, eu soube aproveitar essa chance e posso errar uma vez, mas nunca erro a segunda e com isso você pode ter certeza de que nunca mais vou te decepcionar. disse a minha esposa com uma lágrima no olhar e eu continuei.
- Quem sou eu para julgar alguém, já errei muito também, já errei com você, antes do meu primo eu era a ovelha negra da família, as pessoa me julgavam, e dei sorte de conseguir mudar, mas nem sempre todo mundo tem a mesma sorte, por isso não julgo ninguém, nunca sabemos o dia de amanhã, se você fizer a piadinha de novo dizendo que amanhã é domingo você vai ver, está parecendo a piada do doce pavê, é para ver ou é para comer?
A minha esposa estava pronta para fazer piada e riu.
- Doce Pavê me lembra as minhas épocas de ovelha negra, que uma vez a minha avó havia saído e me deixado para o lado de fora depois de voltar da escola, estávamos eu e mais dois amigos e estávamos com fome, então eles me ajudaram a entrar pelo vitrô da cozinha, depois que consegui passar pelo vitrô eu entrei abri a porta da cozinha, deixei eles entrarem, nós comemos pão e uma travessa de Pavê depois eles saíram eu fechei a porta e sai pelo vitrô, mas na hora que eu estava já quase saindo o corpo todo, os meus amigos me deixaram eu cair e então fiquei pendurado pelo pescoço preso no vitrô, os dois amigos riam muito, eles acharam aquilo engraçado e não tinha força para me segurar, eu ali quase morrendo e eles quase morrendo de rir.
- Caramba, você era maloqueiro mesmo, como você conseguiu passar pelo vitrô ainda mais com uma cabeça grande desse jeito. Disse a minha esposa tirando sarro do tamanho da minha cabeça. Eu ri com ele e disse.
- O segredo é passar a cabeça, passando a cabeça passa o resto.
- Só pensa em malícia.
- Não foi esse sentido não, o que quis dizer é justamente isso, que a cabeça é maior que o tronco.
- Está bom, eu acredito. Nós rimos do duplo sentido.
- Então mas eu fiz a minha parte, deixei a minha tia feliz, fiz o que achava que era certo fazer, mas quando a minha vó me ligou me contando o que tinha acontecido, ela me contou que a overdose dessa vez foi muito forte e que estava internado no Hospital que ficava perto do meu serviço, então eu fui visitá-lo durante o meu almoço do trabalho, quando eu entrei no quarto me deparei com aquele homenzarrão que só estava pele e osso, ele estava usando fralda, ele estava só de fralda em cima de uma cama de hospital, quando eu cheguei mais perto, os seus olhos estavam agitados, pareciam uma máquina de escrever, as íris dos olhos ficavam indo de um lado para o outro sem parar, rápidas sincronizadas, ele estava com a boca aberta com os lábios secos e esbranquiçadas ele estava em um como sem aparelho, não falava, não escutava os seus braços e os dedos das mãos estavam contorcidos, os dedos estava encavalados um sobre os outros, não sabia o que pensar, fiquei impressionado com aquela cena, só pensava o bicho é vaso ruim de quebrar, não morreu mas ficar daquele jeito, ninguém merecia, ele estava acabado, destruído, ele conseguiu se destruir de uma maneira que parecia não ter volta, uma enfermeira veio cuidar dele e me perguntou.
- É seu irmão? Perguntou ela colocando luvas de borracha.
- Não, ele é meu primo. Respondi sem olhar para ela, estava chocado.
- Vocês se parecem. Disse a enfermeira.
Eu só respondi balançando a cabeça.
- Que desperdício, um rapaz tão bonito, ainda dá para ver os traços dele, deve ter muitas namoradas.
Eu consenti balançando a cabeça, eu estava em choque vendo o estado que ele se encontrava.
- O médico falou que o cérebro dele ficou poroso como uma esponja, ele falou que daria para enfiar fios de uma vassoura piaçava nos buracos que ele causou no cérebro, ele fritou o cérebro dele, destruiu de uma maneira que o médico disse nunca havia visto na vida um caso como esse, e que não sabe como ele ainda está vivo. Disse a enfermeira com uma voz de lamentação.
Eu olhei para a enfermeira ouvindo o que ela dizia, aquilo que ela disse me deixou ainda mais impressionado, sem saber o que dizer eu só olhei para ela e a observei melhor, ela era bonita, simpática, loira de olhos azuis, ela era baixinha e tinha um corpo daquelas loiras que se imagina que uma enfermeira tenha nos filmes.
- Ai!
- Tinha que ter uma loira. Disse a minha esposa depois de ter me dado um beliscão.
- Oxxi e que culpa eu tenho.
- Sem vergonha.
- Deixa eu terminar a história logo vai, então ela abriu a fralda do meu primo e começou a limpá-lo, ela pegava no pênis dele se levantava e limpava embaixo, então ela me pediu ajuda para ajudá-la a segurá-lo de lado enquanto ela limpava as fezes dele, subiu um cheiro forte de merda eu quase o soltei, mas virei o rosto e tampei o nariz encostando no ombro, a moça terminou e disse.
- Pode soltá-lo.
Ela deixou o corpo do meu primo se virar sozinho de volta e o pênis dele se virou por último com movimento, a moça olhou para o pênis dele com admiração e disse.
- É um desperdício mesmo. Disse ela com um olhar de safada e uma voz sensual.
Eu olhei para ela, ri e pensei. Será que estou vendo isso mesmo ou estou imaginando?
A moça riu tirando as luvas de borracha depositando-as na lixeira específica para lixo hospitalar, com movimentos sensuais, então ela desabotoou a blusa e deixou o decote e o sutiã preto à mostra, ela baixou subiu passando as mãos nas pernas levantando a saia, deixando a cinta liga a mostra, veio na minha direção, soltando o cabelo, tudo parecia em câmera lenta, chegou perto de mim, mordeu a ponta da minha orelha e disse, você também é um pedaço de mal caminho, ela mudou de lado, foi para a outra orelha e disse.
- Vai Corinthians!
- Ah seu tonto, sabia que era mentira sua. disse ela me dando uns tapas, eu ainda estava rindo.
- Você tinha que ver a sua cara, estava em choque. disse eu rindo
- Mas agora falando sério, o bicho do meu primo tinha sorte até nessas horas, o bicho era sortudo, a moça era bonita mesmo, e era simpática, porque depois ela passou por mim, piscou, me deu tchau e saiu, uma mulher fica muito mais bonita, quando é agradável e simpática, feliz o homem que tem uma mulher assim.
- A tá estava sendo simpática porque é o serviço dela, pega ela na TPM, que você vai ver a simpatia aos avessos. disse a minha esposa querendo justificar alguma coisa, eu não sei o que era, você sabe caro leitor? Eu não sei.
Voltando para o meu primo, eu fiquei ali mais chocado do que eu já estava, mas percebi que não tinha o que fazer então fui embora, com aquela imagem na minha cabeça, acho que estava ficando doido, pensei.
Na saída encontrei a minha prima.
- Você viu que situação?
Só balancei a cabeça.
- O médico disse que o cérebro dele ficou poroso como uma esponja e que não sabe como ele ainda está vivo.
- A enfermeira me contou.
- Que enfermeira?
- Aquela loira ali.
A enfermeira acenou para nós, a minha prima olhou nos meus olhos e riu.
- Hum, sei, que enfermeira em!
Fiquei esperando um beliscão da minha esposa, mas ela só desdenhou com os olhos, não caiu na brincadeira.
- Para a minha prima achar outra mulher bonita, quer dizer que ela é realmente bonita e pelo menos eu não estava tendo alucinações, achando que estava coisas demais, acho que o meu primo causava isso nas pessoas.
- Simpática a moça né. Eu soltei um sorrisinho, mas não contei os comentários maliciosos dela sobre as qualidades do seu irmão e ela continuou.
- Então eu falei para o médico:
- Doutor ele é um vaso ruim de quebrar. disse a minha prima.
Eu fiquei impressionado com aquela imagem, por mais mal que ele tenha me feito, nunca lhe desejei o mal, as vezes dizia da boca pra fora, mas na verdade sempre tinha uma esperança que um dia ele iria sair dessa e me pagar e devolver tudo o que ele tinha me roubado, mas não pelo bem material, pela esperança de acreditar que ele podia melhorar e voltar a ter dignidade, respeito e poder ouvir ele agradecer por ter acreditado nele, mas agora vê-lo naquele estado, percebi que não tinha mais volta, aquilo era o fim, sobreviver a algo assim é para poucos, mas será que isso é viver?
- Pois é, prefiro morrer a viver do jeito que ele estava vivendo, preferia ter morrido. disse a minha esposa.
- Depois que ele saiu do Hospital, a minha tia o levou para a casa da minha avó, ela tinha conseguido um cama preparada de hospital, o que ajudava a cuidar no dia a dia, na hora de alimentar, trocar fralda, porque depois daquilo ele nunca mais saiu da cama, lógico que os médicos se interessaram pelo caso dele, então prestavam todas as assistências e pesquisas com boas intenções e diziam que iriam tentar tratamentos para ele melhorar, ele começou a tomar o coquetel para tratar da aids, sorte que o Cazuza não teve, ele até teve melhoras significativas, falava com dificuldade, começou a ter percepção das coisas ele começou a ganhar peso, depois de anos na cama ele estava gordo enorme, tinha um barrigão, estava usando fralda GG, a sua fala havia melhorado um pouco, mas era difícil de entendê-lo, ele só dizia com clareza: Comida, água, televisão e Vai Corinthians!
- O médico disse que ele havia se tornado uma criança de 7 anos, que ainda clamava pela mãe para atender às suas necessidades e assim ele gritava muito o tempo todo pela minha tia, pedindo comida, água, aumentar o som da televisão etc.
- Quando eu chegava para visitá-lo, ele fechava um olho e forçava o olho aberto levantando o corpo para tentar reconhecer quem estava chegando, quando ele percebia que era eu ou o meu pai ele gritava.
- Vai Corinthians!
- A cachorra ficava no chão da sala, quando a minha tia não a colocava para fora, depois de tentar pular na cama para ficar com o meu primo, como ela costumava ficar no quartinho do fundo.
- Uma vez ele lembrou das nossas brigas e não quis falar comigo, dizendo que eu tinha batido nele e que não queria falar comigo, a minha prima até se intrometeu e falou para ele.
- Para de besteira, isso ficou no passado, ele te perdoou e você o perdoou.
- Está bom, vamos ficar de bem. disse o meu primo com uma dicção horrível de entender esticando o dedinho, com o braço tremendo e os dedos da mão todos tortos, ele usava uma luva especial para tentar endireitar os dedos, ou para não deixar atrofiar mais, ele esticou o braço com dificuldade e disse com dificuldade.
– Vamos ficar de bem!
- Olhando aquilo eu me lembrei do dia que ele fez o teste para saber se estava com Aids depois que ficaram sabendo que o Chantilly havia morrido de aids e eles haviam compartilhado da mesma agulha na hora de se drogarem e depois que a ex-namorada os procurou dizendo que estava com Aids, então resolveram ele para fazer o teste e deu soropositivo HIV, a família ficou em choque, a minha avó e o meu pai só falavam assim.
- Cuidado no que você toca nele, nas feridas, no sangue dele, nas coisas dele agora.
- No começo ele emagreceu muito e foi por isso que ele teve overdose, o seu organismo estava cada vez mais fraco e não se recuperava, mas depois da overdose, tomando o cocktail e acamado, tendo os melhores acompanhamentos médicos, ele tinha muita sorte, inventaram o cocktail e ele conseguia de graça e tinha todo acompanhamento necessário que muitas pessoas doentes não tinham, o que no começo ele estava magro, agora estava gordo, pesado, eu só conseguia tentar imaginar como a minha tia, que era pequenininha, fazia para cuidar dele, trocar a fralda, dar banho, não devia de ser fácil, era assim toda vez que ia visitar a minha avó, se deparava com o meu primo na cama da sala, às vezes pelado esperando a minha tia trocá-lo, ela no começo até pedia ajuda, mas depois com o tempo ela fazia sozinha, já tinha prática.
- Eu lembro, como já disse, mas depois disso ele virou santo, pagou por todos os seus pecados, esqueceu tudo o que ele fez? relembrou a minha esposa.
- Acredito que ele estava pagando pelos seus pecados, por isso não morria.
- Mas quem estava pagando era a sua tia, ela que sofreu mais, cuidando dele, que não dava sossego para ela, gritava ela o tempo todo, isso sim foi mãe, guerreira diferente de outras. A minha esposa disse isso insinuando sobre a minha mãe.
Eu só olhei para ela e não disse nada sobre isso e finge que não tinha entendido o comprimento.
- De tudo isso de saber que tinha Aids, as consequências da Overdose, ele ainda demorou para morrer, acho que enquanto não pagasse pelo seu pecados, ele iria morrer, por isso não morria e acabou morrendo engasgado, que ironia, quando tudo aconteceu, pensavam que ele não iria durar nada, que com a Aids e as consequências da overdose ele iria morrer logo, se passaram 35 anos, ele durou 35 anos e só morreu porque se engasgou, porque senão ele era capaz de viver muito mais, até conseguir andar com as novas tecnologias que estão aparecendo, viveu e ainda foi morar de frente para a praia, levando uma vida de boa, sendo levado de cadeira de rodas todas manhãs para apreciar o mar e até entrar nele levando uma vida melhor que de muita gente.
- Depois que a minha tia voltou para a casa que ela morava antes, ela não ficou muito tempo morando lá, a minha prima se mudou para a praia e os levou juntos tendo os mesmo tratamentos que daqui e até melhor, mas antes da minha tia falecer as coisas não estavam tão bem assim, havia mudado um pouco, o dinheiro estava curto, a minha tia não tinha mais a mesma saúde, estava velhinha, doente também , já tinha passado dos 80 anos e acabou falecendo, deixando para a minha prima cuidar do irmão, que também estava sem condições de cuidar dele.
- Depois que recebi a ligação dela ainda em choque pela morte do irmão, dizendo que ele havia engasgado, achei isso muito estranho, dizendo que a vizinha estava de prova, como se procurasse justificar um álibi, que o meu primo estava assistindo os
gols do Corinthians no programa de esporte, não sei, ela estava estranha, mas ela é uma ótima pessoa, nunca faria mal para ninguém, não mata nem uma mosca, acredito que nunca faria nada para machucar o irmão, ela o amava.
- Também acho, isso é minhoca da sua cabeça criativa.
- Também acho ou então a minha tia tenha vindo buscar ele, mesmo depois de morrer ela tenha dado um jeito de vir buscar o filho.
- Também acho, isso que é mãe, nem a morte é capaz de pará-la.
Capítulo XVI. O Engasgo Fatal.
A vizinha havia preparado castanha de caju, estava se limpando do espirros dados da panela, onde ficaram pequenas queimaduras onde pegou os espirros, ela já foi separando um pouco para levar para a sua vizinha da direita, que havia perdido a mãe recentemente e sozinha, sobrou para ela cuidar do irmão deficiente, ela tinha que cuidar do irmão, dar banho, trocar a fralda, dar comida e atender aos seus gritos, era possível ouvir os gritos do irmão, gritos de uma pessoa com deficiência na fala, incomodava quem estava longe, imagina para quem convive perto, porque ele não conseguia pronunciar as palavras com clareza, então ele gritava para poder se fazer entender e ele não tinha paciência para esperar e gritava cada vez mais alto.
- Quero “águuaaa”, querooo Coomiiidaaa, estou com fome.
Quando ele gritava, “estou com Fome” parecia um filme de terror em slow motins, era assustador e dava dó, o pior era quando ele queria que aumentasse o volume da televisão, coitado ele gritava, ele gritava porque deveria de estar com dificuldade para ouvir e a irmã gritava.
- Está muito alto, vai incomodar os vizinhos.
Realmente incomodava, mas era compreensível, algumas vezes pensava em reclamar, mas pensava direito ainda bem que nunca reclamei, porque ela virou a minha melhor amiga, gosto muito de quando sentamos no quintal para bater um papo, comer castanha de caju e tomar cerveja, lógico, quando o irmão deixa, quando ele está dormindo ou assistindo ao jogo do Corinthians e algum filme que chame a sua atenção, fora isso, ele deixa ela maluca, ele não tem paciência, já se passaram alguns meses desde que a mãe faleceu e ela o deixou muito mimado e agora a irmã que está pagando o pato, tendo que ser cuidadora, mas ela diz que o destino está certo, que o dinheiro está curto e que os seus filhos estão passando por dificuldade financeira e agora ela está vivendo da pensão que o irmão recebe do
governo, praticamente da aposentadoria por deficiência que o irmão recebe, coitada não deve de ser fácil, eu não queria estar na pele dela, ela é uma moça tão bonita, está sendo um desperdício de beleza, não poder desfrutar o resto de beleza que ainda lhe resta e agora se acostumar com pouco, ela que já foi casada com um homem rico e sempre teve de tudo, do bom e do melhor e agora se vê como babá do irmão, que ficou assim porque procurou, ela não tem culpa das loucuras que o irmão fez na vida para chegar neste ponto, como ela mesma disse: “que prometeu para a mãe em seu leito de morte, que cuidaria do irmão”, só assim a mãe descansou e partiu dessa para melhor, ela falou que a sua mãe enfrentou essa batalha por mais de 35 anos, de cuidar do filho acamado e que antes dele ficar assim, ela já havia deixado a vida dela para cuidar do filho, o marido se separou dela, depois que colocou o filho para fora de casa, mas a mãe não deixou o filho desamparado e foi junto morar na casa da avó, mãe da mãe dela, mas ela fala que isso foi bom , porque logo depois o pai teve um AVC e ficou debilitado também e só seria mais um para ela cuidar, mas o pai dela não durou muito tempo, logo faleceu e a sua mãe retornou para a casa que eles moravam antes de vir morar aqui.
- Você está me ouvindo Raimundo?
- Ah! ok?
- Você está dormindo, não ouviu uma palavra que eu disse, está bem então eu vou lá na vizinha levar esse pote de castanha de caju para ela, hoje tem jogo e o irmão dela vai nos deixar em paz enquanto assisti o Corinthians, porque com você não dá para conversar, só sabe dormir, o homem lesado.
- Quer que eu leve o pote para ela?
- Deixa de ser descarado, home.. safado, você é casado, me respeita, você não dá conta nem de mim e acha que vai aguentar com ela, ela acaba com você, te dá uma chave de perereca ou uma bundada que você não levanta mais e você acha mesmo que vou deixar você de graça com ela, aliás ela nem vai te dar bola, aquela mulher linda de corpo escultural, a bunda dela parece que colocaram duas bacias encaixadas de tão perfeitas, e você acha mesmo que ela vai te dar bola, careca, barrigudo, fedido e ela é minha miga te garanto que ela não faria isso comigo, trocar a minha amizade por um preguiçoso que só sabe dormir.
A rede range.
- Estou falando, pronto já dormiu, o home.. lesado, olha isso já desmaiou de novo na rede.
Ela dá de ombro e pega o pote de castanha, que ainda estava quente e pensa.
- Eu vou pelo fundo não vou dar essa volta toda não, o sol está muito quente, vou pela sombra. ela passa pelo murinho baixinho e já estava no quintal do fundo da vizinha, mas a porta dos fundos estava fechada, então ela resmunga.
- Droga!! vou ter que dar a volta. ela entra por um corredor que dava acesso a frente da casa e conforme ela ia chegando perto da janela da sala, ela escuta o irmão da vizinha gritar.
- Quero mais comida e coca cola.
- Você está muito gordo, chega de comida e coca cola, eu não sou a mãe que aguentou você todo esse tempo e fazia os seus gostos, eu não aguento com o seu peso, a mamãe era pequenininha, mas tinha uma força de leoa, você precisa emagrecer e comer menos.
- Eu “qeeooo” mais, estou com fome ainda.
A vizinha assistia discussão dos dois pela janela da sala sem ser vista, a irmã estava de costa para ela e tampando a visão do irmão, que tentava ver quem estava na janela pela sombra que formava, mas logo desistiu sendo atraído pelo anúncio da televisão, deitou-se no travesseiro e disse, disse não ele gritou.
- Eu estou com fome!
Foi nesse momento que a irmã perdeu a paciência e gritou também.
- Você quer mais?
- Então toma, toma come, come, come tudo. ela dizia isso e enfiava comida na boca do irmão sem parar brutalmente e gritava.
- Você não quer mais, toma engole. Ela enfiava colher de comida uma atrás da outra sem deixar ele respirar, a boca dele estava tão cheia de comida que já estava caindo nele, na roupa, na cama e ela continuava a colocar comida na boca dele.
- Você não quer mais, toma seu maldito, eu não te aguento mais, você me chama o tempo todo, dia e noite, como chamava a mamãe, eu não sou ela e não sou sua empregada. você está acabando comigo, me chama o tempo todo, não me dá descanso, eu qeeooo coca, eu queeoo que liga a televisão, aumento o som mude canal. gritava ela chorando colocando as mãos entre os cabelos.
- Ach! Cof, cof, Ach! Ach! ach. um som de uma pessoa engasgando-se deu para ouvir da janela.
- Porque você não morre!
Dito isso ela percebeu que o irmão estava realmente engasgado e estava tentando respirar com os braços erguidos e esticados na sua direção.
Ela ficou ali estática olhando para o irmão tentando respirar em choque.
A vizinha que assistia da janela também estava imóvel, sem saber o que fazer, as duas estavam imóveis, estáticas assistindo o homem morrer engasgado, uma na frente da cama e a outra do lado de fora e o tempo estava passando.
O homem estava ficando roxo e desmaiou por falta de oxigênio no cérebro.
A vizinha pensa.
- O que será que ela está pensando, por que ela não faz nada?
- Mas eu também não consigo nem gritar e nem me mexer.
A irmã continuava ali parada segurando o prato de comida e olhando o irmão se afogando, ela parecia não acreditar no que estava acontecendo, ou deixar aquilo acontecer, era a oportunidade certa, era a solução para os seus problemas, mas também tinha o problema da aposentadoria do irmão ela não teria mais direito ao dinheiro que estava pagando as contas, era uma dúvida, solução perfeita, mas e a aposentadoria, essa oportunidade ninguém vai suspeitar.
- Ele se engasgou porque sempre comia deitado. Mas porque havia tanta comida espalhada pela cama e no chão, mas era sempre assim quando ele comia, no almoço ou na janta, ele derramava tudo nele, na cama no chão.
- Quanto tempo uma pessoa consegue ficar sem respirar? pensa ela.
A cabeça do irmão desfaleceu no travesseiro e os seus braços desabaram, um na cama e outro para fora da cama, era o fim.
- Será que ele morreu ou desmaiou, será que realmente morreu?
A vizinha que assistia a tudo pela janela, dá um passo para trás e esbarra em uma lata que faz um barulho chamando a atenção da irmã, quando a vizinha percebe que ela iria se virar para ver o que era, ela se abaixa rápido para não ser descoberta, se agacha.
- E agora vou para frente ou volto para casa?
- O que eu faço?
- Posso ser considerada cúmplice também, eu só assisti não fiz nada, fiquei ali assistindo de camarote.
- Caramba, ela acabou de matar o irmão, mas ela não teve a intenção, não foi premeditado, foi um acidente, ou muita raiva acumulada, ele não teve a intenção, mas estava enfiando tanta comida com tanta raiva e força sem parar, pode ser também um crime doloso ou culposo eu sei lá não sei a diferença, o que eu estou fazendo? - E agora? Acho que sou cúmplice eu também não fiz nada para impedir ou ajudar, fiquei ali parada igual uma bocó e agora chamo a polícia ou uma ambulância?
- Meu Deus me ajuda, o que eu faço?
- Já sei, vou fingir que não vi nada e vou bater na porta da frente dizendo que estou indo entregar essas castanhas.
A vizinha vai até a porta e na hora que ela ia bater na porta, a irmã abre a porta, ela estava pálida, aquela cor do pecado, havia sumido ela parecia um fantasma, ela tentava dizer algo, mas a voz não saia.
- M. Me. Meu irm... irmão, ele está engasgado, eu não sei o que fazer.
A vizinha age como se nada tivesse acontecido e entra correndo na casa.
- Nós duas não vamos conseguir levantar ele, para tentar fazer a manobra de nome engraçado, heeemmemchued, como diz esse diabo?
- Heimlich! diz a irmã.
- Isso, você sabe fazer?
A irmã balançou a cabeça em sinal de negativo.
- Eu também não sei, vou chamar o meu marido.
- Raimundo! A mulher gritava pelo marido que demorou a atender, mas quando ele aparece, vem sem nenhuma urgência.
- O que foi, por que esse desespero? pergunta ele na maior tranquilidade.
- O mosquito engoliu o boi, o rapaz está engasgado, você sabe fazer a manobra de nome engraçado.
- Heimlich! diz o marido.
- Só eu não sei soletrar essa desgraça. diz a vizinha.
- Não sei, melhor ligar para emergência, você já deveria ter feito isso, quanto tempo ele está assim?
- Sei lá, alguns minutos, mas parece uma eternidade.
- Ele chamou a emergência, que demorou quase trinta minutos para chegar, quando eles chegaram à irmã estava do lado de fora da casa, no quintal, não queria ver mais nada ou assistir os paramédicos tentar reanimar o irmão.
E ela só dizia sem parar.
- Ele estava assistindo televisão, o programa de esporte que ele tanto gosta. ela dizia isso sem parar, ela estava em choque.
Os paramédicos tentaram de tudo e não conseguiram salvá-lo.
Depois de alguns minutos o meu telefone tocou.
Fim.
Capítulo XVII. No final, tudo virou pó.
Alguns meses depois.
O meu telefone tocou, eu estava no meio do trânsito em São Paulo, tentando achar um jeito de sair do congestionamento, me contorci e tirei o celular do bolso depois de muito esforço.
- Alô!
- Parabéns!! Primo muitos anos de vida. disse a voz do outro lado do telefone, era a minha prima do meu coração.
- OI!! Minha priminha do coração, obrigado valeu.
- Como você está?
- Estou tentando chegar em casa, estou preso no trânsito.
- Você está dirigindo agora, eu te ligo depois.
- Não pode falar, daqui não vou sair tão cedo, dá para escrever um livro, estou parado, olhando o farol ficar verde, amarelo e vermelho, verde, amarelo e vermelho, sem sair do lugar, mas e você como está, não falei mais com você desde aquele dia.
- Eu estou indo, me recuperando, não está fácil, é muita saudade, estou me sentindo muito sozinha, tudo me lembra deles, você sabe como é.
- Sim, é assim mesmo, ainda é muito recente, mas com tempo melhora, o tempo ajuda aliviar essa dor, mas o que você fez, enterrou ele ou cremou?
- Eu mandei cremar.
- Você jogou as cinzas do mar igual as cinzas da sua mãe?
- Não, deixa eu te contar, o meu filho havia ficado com as cinzas da minha mãe, ele não queria jogar em lugar nenhum, queria ficar com ele.
- Mas isso não é bom.
- Eu sei, mas o que eu fiz, juntei as cinzas dos dois e derramei as cinzas juntas no mar.
- Que emocionante.
- Sim, foi muito bonito.
- Mas você jogou na frente das outras pessoas?
- Não, fiz em uma parte reservada da praia.
- Igual eu fiz com as cinzas do meu pai, eu joguei em um canto no Estádio do Corinthians, também fiquei com medo, não sei se podia ou não, mas foi emocionante, na hora que eu estava depositando as cinzas, anunciaram nos autos falantes: Vai Corinthians!! E eu falei com o meu pai, você gosta mais disso aqui do Corinthians do que do seu próprio filho e me deu uma sensação de felicidade como se ele estivesse me agradecendo, senti que fiz a coisa certa.
- Sim, do meu irmão e da minha mãe também foi emocionante.
- Fiquei feliz que você lembrou do meu aniversário, você é um pouco da família que sobrou e que ainda tenho, mesmo estando longe, independente do que passamos juntos.
- Sim, você não esquece de nada, você tem uma memória de elefante, você lembra coisas da nossa infância e dos meus namorados que nem lembro que namorei ou coisa que fiz, impressionante.
Nós dois demos risadas.
- Sim, vou escrever um livro com essas memórias.
- O livro vai ficar bom com todos os detalhes.
- Vou escrever e colocar você como vilã.
- Ah! Não. Mais risadas.
- Tenho que ter um itinerário, uma ideia.
- Vai ficar bom.
- Espera acho que o trânsito vai andar, dá para ver sirenes parece um acidente de moto.
- Cuidado aí presta atenção.
Som de sirene tocando no trânsito.
Som de moto buzinando.
Barulho de algo quebrando.
- Caramba um motoqueiro acabou de quebrar o meu retrovisor.
- Mas está tudo bem? Pergunta a prima.
- Sim, ele quebrou e fugiu, esses motoqueiros estão tudo doido, hoje de manhã um já entrou na traseira de um carro do meu lado, tomei um grande susto e agora o barulho foi igual, pensei que tinha batido no meu carro também, o meu carro já está todo amassado por motoqueiros, toda hora um bate, cai se levanta na pressa e vai embora, e só depois que vou ver que arranhou ou amassou, fora os amassados de granizo, o meu carro está todo estragado, as pessoas batem o carrinho de supermercado, raspam na rua, tem resto de cor de outros carros no meu carro, que arranham e não dão satisfação, por causa disso, já bateram duas vezes no meu carro e a seguradora da pessoa que bateu não pagou o meu carro, alegando as coisas mais absurda que possa imaginar, agora vai você bater no carro de alguém, arrumo um problemão.
- Belo presente de aniversário. Comenta a prima
- Já reparou que, você só escuta sirene de ambulância e de polícia, quando trânsito está parado e geralmente não estão atendendo nada, só querem passar a usufruir do direito de autoridade ou usar a sirene e pior são os motoqueiros buzinando no corredor, isso é um inferno, às vezes você precisa fazer uma conversão. Dá seta e tudo e mesmo assim eles acham ruim e gesticula ou até quebra o seu retrovisor e olha que eu também ando de moto, mas tem uns motoboys que são abusados.
- Ainda bem que me mudei de São Paulo, aqui não tem esse problema, até tem um engarrafamento o outro, mas não é igual ao de São Paulo.
- Mas agora vou ter que ir comprar um espelho, deixa para lá, vamos continuar o que estávamos falando mesmo.
- Do livro.
- Sim, depois eu te conto mais, agora perdi o raciocínio, mas fiquei muito feliz que você me ligou, te amo como uma irmã.
- Eu também.
- Alô, alô!
Caiu a ligação, tentei ligar de volta várias vezes, mas não completava.
O Whatsapp apitou.
Prima.
Priminho, estou tentando te ligar, mas não completa, está tudo bem aí, espero que sim, fiquei feliz de falar com você também e parabéns mais uma vez, você merece tudo de bom na sua vida, que Deus te abençoe sempre. Emojis de coração, emojis de flor.
Eu.
Tentei te ligar também, não completava, mas obrigado, fiquei muito feliz de falar com você também, sim está tudo bem, foi um acidente mesmo de uma moto e um carro, agora o trânsito andou, acho que agora vou conseguir chegar em casa.
❤😘🌹
Prima.
🎂❤❤❤🙏😘🖐👋
Eu.
👍💋
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